Quando falamos no Douro, falamos de muito mais do que um rio ou do que uma região do nosso país. Falamos das paisagens únicas, dos declives acentuados, das barragens que são hoje uma atração, das gentes que aqui vivem, da gastronomia de cariz mais tradicional e que, mesmo passados estes séculos todos, ainda nos trazem um sorriso aos lábios sempre que provamos estas receitas únicas. Assim, não exageramos mesmo quando dizemos que o Douro é o rio mais bonito do mundo!
Conhecer o Douro é mais do que visitar o rio ou a região por onde este passa. É entrar numa região especial, em que o natural ainda é rei e em que a história, a tradição e as pessoas que nela habitam são tão únicas quanto o rio que as serve.
Não se sabe muito bem de onde vem o nome do rio, mas a verdade é que existem várias teorias e explicações quanto ao assunto. Numa das versões, diz-se que Douro deriva do latim “durius”, ou seja, “duro”, numa alusão à dureza dos contornos da paisagem, com as suas escarpas altas e rochosas.
No plano da lenda, a história é já outra. Segundo a tradição oral, era comum verem-se rolar pedras pequenas e brilhantes, que mais tarde se veio a descobrir ser ouro.
Uma última versão diz-nos que o nome do rio foi dado graças à sua cor barrenta, consequência da erosão das encostas, e que dava às águas uma cor amarela viva. Seja qual for a versão de que mais gosta, não pode negar que todas elas têm o seu quê de apelativas.
Este rio nasce na Serra de Urbión, no Norte de Espanha, a cerca de 2000 metros de altitude, e desagua no mar junto ao Porto. Assim, o seu comprimento total é de 927km, sendo que no território português tem apenas 210km (o que, mesmo assim, lhe dá o estatuto de segundo maior rio de Portugal).
Este rio é navegável ao longo de todo o curso, graças às suas cinco barragens, que são uma atração por si mesmas graças ao desnível que apresentam. A Barragem do Carrapatelo tem um dos maiores desníveis de água da Europa (35 metros).
O rio Douro foi (e ainda é) sinónimo de prosperidade na região, já que era através dele que se fazia o transporte do vinho do Porto. Este rio foi em tempos muito estreito e de difícil navegação, o que tornava este transporte do vinho uma tarefa complicada.
As fortes correntes e as pedras meio submersas representavam um grande perigo e desfaio para quem queria navegar no rio. A navegação era apenas possível recorrendo a pequenos barcos feitos de madeira, os Rabelos, que eram capazes de navegar nestas águas agitadas e assim transportar o vinho desde o Vale do Douro até à foz, em cujas margens se encontram o Porto e Vila Nova de Gaia.
Estes barcos de fundo chato eram construídos usando tá buas sobrepostas, e podiam transportar até 100 barris de vinho e uma tripulação de 12 homens. Os Rabelos mantiveram-se em atividade durante séculos, mesmo após a criação dos caminhos de ferro, e crê-se que a última viagem feita por um Rabelo no rio Douro ocorreu já em 1964.
Hoje em dia, ainda estão em atividade, mas apenas para passeios turísticos, na zona ribeirinha do Porto, e ainda podem ser contemplados no dia de São João, na “Regata Anual de Rabelos”, pelo que poderá marcar essa data no calendário, se se interessar por estes barcos tão típicos do Douro.
O Douro é a mais antiga região demarcada de vinhos do mundo. Em 1756, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e, por extensão, a primeira região agrícola demarcada do mundo. Como pode ver, a história desta região liga-se fortemente com a história do vinho e com a longa tradição de cultura de vinhedos nesta zona.
Já na Idade Média Lamego era conhecido pela produção de vinho (o Vinho Doce de Lamego), tendo-se também tornado um importante centro religioso, como pode ser comprovado pelo vasto património arquitetónico que chegou aos nossos dias, como a Catedral de Lamego, a Igreja de Santa Maria de Almocave, a Igreja de Santa Cruz e o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.
Apesar de se ter registado atividade vinícola na zona do Douro desde os tempos dos Romanos, a designação de Vinho do Porto apenas se tornou mais conhecida a partir da segunda metade do século XVII, por ter começado a ser exportada para todo o mundo a partir dessa cidade.
Mas nem só de vinho se faz o Douro. Afinal, a sua paisagem única, e o seu património natural e cultural são de um peso e uma importância indiscutíveis. Assim, a região do Douro foi considerada Património da Humanidade pela Unesco, em 2001.
Esta classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade obedeceu a uma série de critérios e teve em conta diferentes fatores. Esta região produz vinhos há cerca de 2000 anos e a sua paisagem, para além de ser uma obra de arte da natureza, reflete também o trabalho do homem, que a foi moldando de modo a que ela se tornasse o que é hoje. Para além da sua beleza natural, esta região reflete a evolução tecnológica, social e económica da Humanidade de uma forma única.
São 13 os municípios que fazem parte da área classificada, já que, para além dos vinhedos, são estas cidades e aldeias que melhor nos fornecem o contexto histórico e cultural da região. Esta zona é muito rica em termos de património arquitetónico, pelo que merece bem uma visita.
No meio dos montes, há um grande destaque para as casas senhoriais do século XVIII, com fachadas imponentes e que demonstravam bem a importância da família que nelas habitava.
Os núcleos urbanos podiam ser observados de quando em quando, destacando-se as cidades da Régua, Lamego e até mesmo Vila Real, apesar de esta última estar um pouco mais distante das margens do rio.
Com uma história tão rica, uma cultura tão singular e um passado que ainda se encontra muito presente, a região do Douro merece certamente a sua visita.
Maravilhe-se com a arquitetura de outros tempos, ainda tão bem preservada e que tão bem reflete a história da região, delicie-se com a gastronomia e maravilhe-se com a paisagem natural, com os seus declives e socalcos. O paraíso que é o Douro espera a sua visita!