Se acha que a capital de Lisboa foi sempre Lisboa, não se preocupe, porque esse é um erro comum. A primeira capital do país foi Guimarães, mas existiram mais 5 capitais ao longo da nossa história, sendo que uma dessas cidades foi capital por duas vezes distintas: uma durante a época da invasão espanhola e domínio filipino, e outra durante a guerra civil que opôs absolutistas a liberais. Falamos de Angra do Heroísmo, nos Açores. E para saciar a curiosidade, saiba que as outras 4 capitais foram Guimarães, Coimbra, Rio de Janeiro e Lisboa.
Angra do Heroísmo foi sempre um porto de escala obrigatório desde o séc. XV ao sec. XIX, aquando do aparecimento dos barcos a vapor. Tornada vila desde 1471, Angra foi a primeira cidade europeia do Atlântico, em 1584, em consequência da abertura de novos conhecimentos culturais e geográficos proporcionada pelos descobrimentos.
A cidade desenvolveu-se assim a partir do seu porto e ilustra na perfeição a passagem dos modos de viver da Idade Média para a Moderna, proporcionada pelos Descobrimentos e pela Renascença. Esteve sempre ligada à manutenção do Império Português, sendo escala a caminho da África, Índias e Brasil.
Angra foi abalada por um terramoto a 1 de janeiro de 1980, tendo sido iniciados na altura estudos para a sua restauração e proteção. A 7 de dezembro de 1983, a zona central de Angra do Heroísmo foi eleita Património da Humanidade pela UNESCO; sendo a primeira cidade do nosso país a estra inscrita nessa lista, o que reflete a sua importância histórica e cultural.
Angra do Heroísmo foi refúgio para Almeida Garrett durante a Guerra Peninsular, e por aqui passou também Charles Darwin a bordo do “HMS Beagle”, aportando a 20 de setembro de 1836. Daqui partiu para a ilha de São Miguel em 23 de setembro, onde visitou as Furnas do Enxofre, que referiu não serem de interesse a nível biológico.
Mais tarde, reconhecendo o seu erro, pediu a vários cientistas, como Joseph Dalton Hooker, Hewett Cottrell Watson e Thomas Carew Hunt que lhe enviassem diversas espécies de flora endémica do local e amostras geológicas.
Angra do Heroísmo como Capital de Portugal: 1ª vez
Entre o dia 5 de agosto de 1580 e o dia cinco de agosto de 1582, Angra do Heroísmo foi capital de Portugal, durante o governo de D. António, Prior do Crato. A cidade apoiou D. António na época da Crise da Sucessão de 1580, resistindo ao domínio castelhano. Mais tarde, Angra recebeu de João IV de Portugal o título de “Sempre leal cidade” graças ao modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil, em 1641.
Por decreto de 30 de agosto de 1766, Angra tornou-se a capital da Província dos Açores, sendo sede do Governo-geral e residência dos Capitães-generais, funções que desempenhou até 1832. De 1810 a 1832, foi também sede da Academia Militar. No séc. XIX, Angra tornou-se o centro do movimento liberal português, abraçando a causa constitucional, estabelecendo-se na cidade a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal.
Angra do Heroísmo como Capital de Portugal: 2ª vez
Voltou a ser nomeada capital do reino a 15 de março de 1830. Foi aqui que Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque no Mindelo e foi em Angra que D. pedro promulgou alguns dos decretos mais importantes do regime liberal, criando novas atribuições às Câmaras Municipais, reorganizando o exército, abolindo as Sisas e outros impostos, extinguindo morgados e capelas e promulgando a liberdade de ensino no país.
Como forma de reconhecimento, D. Maria II, a 12 de janeiro de 1837, concedeu a Angra o título de “mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo”, sendo a cidade condecorada com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Ressalte-se também que a Câmara Municipal de Angra foi a primeira do país a ser eleita, em 1831 após a reforma administrativa do Constitucionalismo.