Na antiga Birmânia, existe ainda hoje um povo de ascendência portuguesa, chamados de Bayingyi, que se fixam maioritariamente no norte do país. O nome da comunidade deriva do árabe “fheringi”, que designava qualquer pessoa de origem europeia, o que indicia já uma origem distinta deste povo.
Ainda hoje os Bayingyi apresentam traços marcadamente ocidentais, com olhos verdes ou azuis, pele mais claro, nariz proeminente e corpos mais peludos que os birmaneses “comuns”. São a comunidade católica mais antiga de Myanmar (antiga Birmânia) num país de budistas, perfazendo pouco mais de meio milhão de pessoas.
Portugal registou, durante a sua expansão marítima, episódios e relatos de exploradores portugueses que partiram à descoberta de novas terras distantes, deixando as suas marcas um pouco por todo o mundo.
Em várias aldeias do interior da Birmânia, ainda hoje a herança portuguesa persiste, com destaque para os exploradores Salvador Ribeiro de Sousa e Filipe Brito de Nicote, que ali chegaram há quatro séculos. Nestas comunidades, ainda hoje se podem ver alguns falantes de um crioulo de origem portuguesa e algumas tradições que os ligam aos seus antepassados portugueses.
Todo o território da atual República da União de Myanmar exibe traços da presença pioneira de portuguesas na Ásia, feita através de exploradores e navegadores que originaram os primeiros contactos entre a Europa e o Oriente.
Estas pequenas raízes, implantadas na altura, ainda hoje estão presentes e fazem com que as comunidades de origem portuguesa se continuem a sentir ligadas ao seu passado. Afinal, o domínio português no Índico durou mais de um século, tendo sido depois ameaçado pelos holandeses, que acabaram por controlar a região.
Estima-se hoje que as populações de origem portuguesa em Myanmar rondem entre as 200 pessoas por aldeia a 3 mil pessoas em localidades maiores. Até 1970, os Bayingyis não eram reconhecidos como população birmanesa, sendo considerados estrangeiros pela sua semelhança aos povos europeus.
Com o tempo, os traços físicos distintivos estão a diluir-se na população, já que muitos membros da comunidade acabam por casar fora desta, especialmente no caso da população mais jovem, que abandona a comunidade para procurar melhores oportunidades em localidades maiores. Apesar disso, ainda existe uma ligação muito forte à cultura Bayingyi e à religião cristã.
3 portugueses foram Reis do Pegu, uma região da Birmânia
A presença dos Bayingy nesta região explica-se graças aos aventureiros portugueses que por aqui passaram e pela descendência que eles deixaram. Aliás, era muito comum que os marinheiros portugueses casassem com mulheres das tribos locais e criassem raízes na região.
A presença portuguesa deu também origem a alguns episódios curiosos. Um dos mais peculiares foi quando o povo de Pegu, uma região da Birmânia, resolveu aclamar 3 aventureiros portugueses como os seus legítimos Reis.
O primeiro foi Salvador Ribeiro de Sousa, que nasceu em Ronfe, Guimarães, no século XVI. Foi um militar, Comendador da Ordem de Cristo, eleito Rei pelo povo do Reino do Pegu e sendo chamado na Birmânia pelo nome de Massinga. Como o único herdeiro do verdadeiro rei do Pegu fora morto pelo rei de Tungu, seu cunhado, os peguanos, atendendo às grandes vitórias de Ribeiro, que tinha a reputação de ser invencível, reuniram-se e aclamaram-no rei de Massinga do Pegu.”
Pouco depois, chegava da Índia Filipe Brito e Nicote, nomeado pelo vice-rei capitão-geral daquelas conquistas. Modesto como sempre foi, Salvador Ribeiro de Sousa entregou-lhe o reino e, meses depois, regressou a Portugal na primeira nau que ali aportou. Filipe de Brito e Nicote nasceu em Lisboa cerca de 1566 e morreu em 1613 na Birmânia, onde foi Rei durante o ano de1600 com o nome de Nga Zingar.
O terceiro português que se tornou rei da Birmânia foi Sebastião Gonçalves Tibau, natural de Santo António do Tojal e filho de pais humildes. Sebastião Gonçalves Tibau fundou ainda na ilha de Sandwip uma república de piratas, cerca de 3 mil, da qual ainda hoje existem descendentes.