Ao longo da história de Portugal, foram muitas as pessoas que se destacaram e desempenharam papéis importantes, embora nem todos sejam lembrados como mereciam. Uma dessas pessoas é Bernardo de Claraval, cujo desempenho foi crucial para a formação da independência do nosso país.
Também conhecido como Bernardo de Fontaine, nasceu em Dijon, na França, no seio de uma família nobre da Borgonha. Tinha apenas 9 anos quando foi enviado para a Escola Canónica de Châtillon-sur-Seine, tendo entrado para a Abadia de Cister em 1112.
Em 1115, fundou uma nova casa cisterciense, com um grupo de 30 monges. Localizava-se no Vale de Langres e era chamada de “Clairvaux” – Claraval. É a esta abadia-mãe que ficam associadas as abadias portuguesas e espanholas.
Ao longo dos seus 38 anos de abaciado, marcou a política da França e o próprio ocidente medieval. Dos 165 mosteiros que Cister consegue atingir, 68 estavam associados a Bernardo. Ele era um homem de condição frágil, mas que cumpria a penitência e a Regra, dividindo o seu tempo entre a oração e o trabalho manual.
Foi um Doutor da Igreja, estando associadas diversas obras ao seu nome, entre escritos, sermões, planos e projetos. Foi também um grande impulsionador do culto e contemplação de Maria, e o autor da Regra para a Ordem dos Cavaleiros Templários.
Mas o que tem esta personagem a ver com a nossa independência e consolidação enquanto Reino? Lá chegaremos. No ano da morte do conde D. Henrique, 1112, o Condado Portucalense era autónomo, tendo D. Teresa assumido a sua liderança.
Para reforçar a posição do condado, aproximou-se à Galiza, algo que desagradava aos sentimentos independentistas da nobreza do Condado, que levou à oposição de D. Afonso Henriques. Este último derrotou a sua mãe em 1128, assumindo o controlo do Condado Portucalense e iniciando a disputa pela soberania deste território com Afonso VII de Leão.
Foi aclamado rei a 25 de julho de 1139, com a independência de Portugal a ser reconhecida pela Santa Sé apenas em 1179, depois de uma longa campanha em que Bernardo de Claraval terá sido fundamental.
Isto porque D. Afonso doou a Bernardo de Claraval e à Ordem de Cister 44 mil hectares de território, em 1144. A Ordem devia ocupar e povoar este território, favorecendo em muito a causa do autoproclamado Rei de Portugal.
O Abade de Claraval era um homem extremamente popular e influente, uma das figuras mais eminentes da sua época, e altamente influente em matérias públicas, especialmente com pessoas ligadas à Religião.
Assim, a sua colaboração revelou-se fundamental para a independência de Portugal, ficando para sempre ligado ao nosso país. Afinal, foi por sua influência que o Papa reconheceu o título de dux a D. Afonso Henriques e a submissão do novo país à Santa Sé.
Bernardo de Claraval faleceu em 1153, tendo sido canonizado a 18 de janeiro de 1174. Faleceu com 63 anos, tendo passado 40 anos em clausura. Foi o primeiro cisterciense a fazer parte do calendário de santos, e tornou-se Doutor da Igreja em 1830.
Os seus restos mortais foram enterrados na Abadia de Claraval, mas, após a dissolução desta, durante a Revolução Francesa, em 1792, foi levado para a Catedral de Troyes.
Faltou referir o fundamental papel do primeiro santo português, São Teotónio, amigo de D. Afonso I e de São Bernardo com quem se correspondia. São Teotónio levou São Bernardo a usar a sua influência junto da Santa Sé no sentido desta reconhecer a independência de Portugal. o que foi feito pelo Papa Alexandre III que também canonizou São Teotónio pouco depois da morte deste. Tornou-se santo vários anos antes de São Bernardo. Oferecer propriedades aos monges de Cister não seria suficiente para, aos olhos da Igreja, retirar a um reino cristão, Leão e Castela, uma importante fatia do seu território, para mais, em plena guerra de reconquista. Foi preciso usar a diplomacia (ou a famosa “cunha”).