Um dos primeiros povos a ocupar o território que hoje corresponde a Portugal foram os Estrímnios, que ocuparam a faixa atlântica da Península Ibérica, da Galiza ao Algarve, entre finais do Neolítico e inícios da Idade do Ferro. O seu nome significa “povo do extremo ocidente”, segundo os povos do Mediterrâneo que com eles contactaram.
Este povo era descendente da cultura megalítica, caraterizada pela construção de monumentos em pedra, como os cromeleques, menires e antes. Estes eram monumentos com funções religiosas, funerárias e astronómicas.
Os Estrímnios também nos deixaram vestígios em grutas naturais e artificiais, que eram usadas como refúgio, abrigo e sepultura. Este era um povo agrícola, que cultivava cereais, frutos e legumes, e que criava animais como cabras, porcos e ovelhas.
A sua religião era baseada na natureza e veneravam divindades ligadas aos elementos, animais e plantas. Esta religião tinha rituais sazonais e sacrificiais, em que eram oferecidos bebidas, alimentos e animais aos deuses.
Os Estrímnios não contavam com uma unidade política ou escrita própria, vivendo dispersos pelo território sem uma organização hierárquica definida. Apesar disso, tinham uma cultura oral, que lhes permitiu transmitir lendas, tradições e conhecimento.
No entanto, a falta de uma cultura escrita traz-nos dificuldades em traçar o perfil deste povo, já que também não foram mencionados por autores antigos.
As principais fontes que dispomos sobre os Estrímnios são o poema Ora Marítima, do romano Avieno, e a Geografia, do grego Estrabão, que descrevem este povo como sendo primitivo e bárbaro, que dormia no chão, comia carne de bode e pão de bolota e que fazia sacrifícios humanos. É claro que estas fontes podem estar enviesadas por uma visão etnocêntrica destes autores, que não compreendiam nem respeitavam a cultura dos Estrímnios.
Além disso, estes relatos são posteriores à invasão dos Sefes, tribo guerreira que quase exterminou os Estrímnios, pelo que não são as fontes mais confiáveis de informação. Afinal, os Sefes avançaram pela terra dos Estrímnios, destruindo povoados, campos e monumentos, e fundando cidades como as atuais Evoramonte, Alcácer do Sal, Lisboa e Leiria.
Os sobreviventes acabaram por se refugiar em povoados isolados e dispersos ao longo do território que antes dominavam. Conseguiram manter a sua cultura e língua, embora fossem perdendo a sua identidade ao longo do tempo.
Estando cercados por todos os lados por povos com uma cultura mais agressiva, não tiveram qualquer hipótese de se defenderem destes. Foram também influenciados por outros povos que se instalaram na Península Ibérica ou que por aqui passaram, como Fenícios, Celtas, Gregos e Romanos.
Pensa-se que a grande maioria dos Estrímnios acabou por ser assimilada pelos Lusitanos, que acabou por se tornar no povo mais importante e resistente à invasão romana.
Esta é uma teoria, que se baseia no pormenor de os Lusitanos ocuparem uma grande parte do território onde antigamente viviam os Estrímnios. Assim, este povo acabou por ser esquecido pela nossa história, mas faz parte da origem e diversidade do nosso país.
Afinal, foram dos primeiros habitantes do território português, deixando para trás um legado cultural e arqueológico que merece ser estudado e valorizado.
Conseguiram viver em harmonia com a natureza e resistir durante algum tempo às invasões de povos mais agressivos, e assim contribuíram para a formação da nossa identidade, apesar de, devido à falta de vestígios, pouco ou nada se saber sobre eles.
Era importante o texto apresentar datas ainda que apenas supostas. Falar do Neolítico e Ferro, induz em tempos muito recentes. Recordo o “vestígio” do Menino do Lapedo com cerca de 25 mil anos. E as ossadas de Atapuerca ( Burgos, Espanha) com mais de 1 milhão e trezentos mil anos. É uma diferença abismal mesmo em locais distantes porque vindo do interior em direcção ao Atlântico, a progressão no espaço era eficiente e rápida.