Imagine que está num belo dia de verão na praia, a aproveitar o sol e o mar, quando de repente vê uma enorme onda a aproximar-se da costa, com dezenas de metros de altura. Não tem tempo para fugir, nem para avisar os seus familiares e amigos. É engolido pela água e arrastado pela força da corrente. Tudo à sua volta é destruição e caos.
Este é o cenário que muitos cientistas e escritores têm imaginado para um possível mega tsunami originado nas Ilhas Canárias, um arquipélago espanhol situado no Oceano Atlântico, a cerca de 1500 km de Portugal. Segundo eles, existe o risco de uma grande parte da ilha de La Palma, onde se encontra o vulcão Cumbre Vieja, se desprender e cair no mar, provocando um deslocamento colossal de água que geraria ondas gigantescas em todas as direções.
Este fenómeno poderia ser comparado ao histórico sismo de 1755, que ocorreu no dia 1 de novembro desse ano, resultando na destruição quase completa da cidade de Lisboa, especialmente na zona da Baixa, e atingindo ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal. O sismo foi seguido de um maremoto – que se crê tenha atingido a altura de 20 metros – e de múltiplos incêndios, tendo feito certamente mais de 10 mil mortos (há quem aponte muitos mais). Foi um dos sismos mais mortíferos da história, marcando o que alguns historiadores chamam a pré-história da Europa Moderna.
Mas qual é a probabilidade de um mega tsunami das Canárias acontecer? Quais seriam as suas consequências para Portugal e para o mundo? E o que podemos fazer para nos prepararmos e prevenirmos este tipo de desastre natural?
O que é um mega tsunami?
Um mega tsunami é um tipo especial de tsunami, que se caracteriza por ter uma altura muito superior à dos tsunamis normais. Enquanto estes últimos são geralmente causados por sismos submarinos, que provocam pequenos deslocamentos verticais do fundo do mar, os mega tsunamis são causados por deslizamentos maciços de terra ou gelo para dentro do mar, que provocam grandes deslocamentos horizontais da água.
Um exemplo histórico de um mega tsunami foi o que ocorreu no dia 9 de julho de 1958 na baía Lituya, no Alasca. Nesse dia, um sismo de magnitude 8.3 na escala Richter provocou o desprendimento de cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rocha da encosta do monte Lituya.
A rocha caiu numa lagoa situada na baía, gerando uma onda gigantesca que atingiu os 524 metros de altura na margem oposta. A onda arrasou toda a vegetação e causou danos em algumas embarcações que se encontravam na baía. Felizmente, não houve vítimas humanas.
Um exemplo hipotético de um mega tsunami é o que poderia ocorrer nas Ilhas Canárias. Neste caso, o deslizamento seria provocado por uma erupção vulcânica do Cumbre Vieja, na ilha de La Palma. Este vulcão tem uma grande fissura na sua vertente sul, onde se acumula uma massa rochosa estimada em 500 mil milhões de toneladas.
Segundo alguns cientistas, como Bill McGuire, do University College of London, uma erupção violenta poderia fazer com que essa massa se soltasse e caísse no mar, gerando uma onda colossal que atravessaria todo o Atlântico.
Qual é a probabilidade de um mega tsunami das Canárias acontecer?
A probabilidade de um mega tsunami das Canárias acontecer é muito difícil de estimar, pois depende de vários fatores, como a frequência e a intensidade das erupções vulcânicas, a estabilidade da massa rochosa, a resistência dos materiais, a influência das marés e das correntes, entre outros. Além disso, não há registos históricos de um evento semelhante na região, o que dificulta a análise dos dados.
No entanto, alguns cientistas têm tentado fazer algumas previsões, baseadas em modelos matemáticos e simulações computacionais. Por exemplo, Simon Day, do University College of London, publicou em 1999 um estudo onde estimava que uma erupção do Cumbre Vieja poderia provocar o deslizamento de 20 km3 de rocha para o mar, gerando uma onda com 100 metros de altura na costa das Canárias, 50 metros na costa africana, 10 metros na costa portuguesa e 7 metros na costa americana. O tempo de chegada da onda seria de cerca de uma hora nas Canárias, quatro horas em Portugal e nove horas nos Estados Unidos.
No entanto, este estudo foi criticado por outros cientistas, que consideraram as suas premissas exageradas e pouco realistas. Por exemplo, Steven Ward, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, publicou em 2001 um estudo onde estimava que uma erupção do Cumbre Vieja poderia provocar o deslizamento de apenas 5 km3 de rocha para o mar, gerando uma onda com 25 metros de altura na costa das Canárias, 5 metros na costa africana, 2 metros na costa portuguesa e 1 metro na costa americana. O tempo de chegada da onda seria de cerca de duas horas nas Canárias, seis horas em Portugal e dez horas nos Estados Unidos.
Outros cientistas foram ainda mais cautelosos nas suas previsões. Por exemplo, Ricardo Ramalho, do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, publicou em 2015 um estudo onde afirmava que não há evidências geológicas ou históricas de que tenha ocorrido algum deslizamento maciço nas Canárias nos últimos 200 mil anos.
Segundo ele, a massa rochosa do Cumbre Vieja é muito mais estável do que se pensava anteriormente, e uma erupção vulcânica não seria suficiente para a fazer colapsar. Além disso, mesmo que houvesse algum deslizamento parcial, a onda gerada seria muito menor do que se previa anteriormente, pois a água amorteceria o impacto da rocha.
Assim sendo, podemos concluir que a probabilidade de um mega tsunami das Canárias acontecer é muito baixa, mas não nula. Ainda há muitas incertezas e lacunas no conhecimento sobre este fenómeno, e não se pode descartar completamente a possibilidade de uma surpresa desagradável. Por isso, é importante continuar a monitorizar a atividade vulcânica nas Canárias e a estudar os possíveis cenários e impactos de um mega tsunami.
Quais seriam as consequências de um mega tsunami das Canárias?
As consequências de um mega tsunami das Canárias seriam devastadoras para as zonas costeiras afetadas pela onda. Dependendo da altura e da velocidade da onda, haveria perdas humanas e materiais incalculáveis. As infraestruturas portuárias, turísticas, industriais e urbanas seriam severamente danificadas ou destruídas.
As comunicações e os transportes seriam interrompidos ou dificultados. Os ecossistemas marinhos e terrestres seriam alterados ou extintos. Os recursos hídricos e energéticos seriam escassos ou contaminados. As atividades económicas e sociais seriam paralisadas ou perturbadas.
Para termos uma ideia do que poderia acontecer em Portugal, podemos comparar com o que aconteceu em 1755. Nesse ano, o sismo de Lisboa foi seguido de um maremoto que atingiu toda a costa portuguesa com ondas que variaram entre os 5 e os 20 metros de altura.
O maremoto causou milhares de mortes, especialmente nas zonas baixas da cidade, onde muitas pessoas se refugiaram nas igrejas, que desabaram com o impacto das águas.
Também afetou outras cidades costeiras, como Setúbal, Lagos, Faro e Vila Real de Santo António, onde houve grandes estragos nas casas, nos navios e nas fortificações. O maremoto ainda se fez sentir nas ilhas dos Açores e da Madeira, onde provocou inundações e danos menores.
Se um mega tsunami das Canárias acontecesse hoje, os efeitos seriam provavelmente muito mais graves, pois a população e a ocupação do território são muito maiores do que em 1755.
Além disso, há muitos mais bens e serviços essenciais que dependem da proximidade do mar, como a energia elétrica, o abastecimento de água, as telecomunicações, o turismo, a pesca, a indústria e o comércio.
Segundo um estudo da Universidade Nova de Lisboa, um mega tsunami das Canárias poderia afetar cerca de 1,5 milhões de pessoas em Portugal continental, causando cerca de 50 mil mortes e prejuízos económicos na ordem dos 50 mil milhões de euros.
Como podemos nos preparar e prevenir para um mega tsunami das Canárias?
Apesar da baixa probabilidade de um mega tsunami das Canárias acontecer, é importante estar preparado e prevenido para este tipo de catástrofe natural. Para isso, é necessário adotar algumas medidas a vários níveis:
- A nível científico: é fundamental continuar a monitorizar a atividade vulcânica nas Canárias e a estudar os possíveis cenários e impactos de um mega tsunami. É preciso também desenvolver sistemas de alerta precoce que possam detetar qualquer sinal de deslizamento ou erupção nas ilhas e comunicar rapidamente às autoridades e à população. É preciso ainda melhorar os modelos de simulação e previsão da propagação e da altura das ondas em função das características do terreno e do clima.
- A nível político: é necessário elaborar planos de emergência e de evacuação que possam orientar as ações das entidades responsáveis pela proteção civil e pela segurança pública em caso de um mega tsunami. É preciso também definir zonas de risco e de segurança ao longo da costa, bem como medidas de ordenamento do território que possam reduzir a exposição e a vulnerabilidade das populações e dos bens ao fenómeno. É preciso ainda promover a cooperação internacional entre os países afetados pelo mega tsunami, tanto na prevenção como na resposta à catástrofe.
- A nível social: é importante sensibilizar e educar as populações sobre os riscos e as medidas de autoproteção em caso de um mega tsunami. É preciso também criar redes de solidariedade e apoio mútuo entre as comunidades locais que possam facilitar a recuperação e a resiliência após o evento. É preciso ainda fomentar uma cultura de prevenção e segurança que valorize a vida humana e o ambiente.
Só Jesus salva!
Gostaria de Saber porque falam
Dos países que vão ser afectadas
Pelo o Tsunami e não mencionaram CABO VERDE, Marrocos, Açores e os outros que ficam mais perto das Canárias?
Se ele vai chegar ate Brasil primeiro teria que passar para CABO VERDE ou não??
Nessas ilhas deixaria de existir vida humana ! Simples !
A Madeira ficará debaixo de água por completa, que Deus não deixe que aconteça morrerá muita gente a nível do Universo
Alarmismo só isso , o mundo um dia acabará , porquê lembrar
coisas que poderão vir a acontecer, quando chegarem já teremos naves espaciais para nos levarem para Marte.
Portugal seria afectado. Quantos KM de costa ?
E já está em erupção!!!
Artigo muito relevante agora.
Precisa de mais comentários e de um update ao artigo.