Hoje em dia, muitos são os que questionam a data de “descoberta” do Brasil, especialmente a rota que Pedro Álvares Cabral tomou. Será que o desvio de direção da sua esquadra foi mesmo motivado pelo vento, ou será que já existia uma intenção para essa mudança de rumo?
Afinal, tudo indica que os portugueses já sabiam da existência do Brasil antes de Cabral passar por lá e, portanto, o Brasil não foi descoberto a 22 de abril de 1500. O que terá acontecido nesse dia foi a tomada de posse oficial. Mas vejamos alguns indícios disso.
Após a sua gloriosa viagem à Índia, Vasco da Gama voltou para Portugal em julho de 1499. Mais do que as especiarias que trazia no navio, trouxe-nos a certeza de que novas terras e fontes de riqueza podiam ser alcançadas por mar.
Ou seja, todo o mundo poderia ser uma fonte de riqueza para o nosso país, até porque éramos um dos poucos reinos europeus com saída para o Atlântico, algo que soubemos aproveitar, fazendo diversas viagens de exploração e reconhecimento de terras.
Diz a história que Vasco da Gama, por volta de 1497, já tinha registado no seu diário de bordo que existiam terras americanas, tendo-o comunicado ao rei D. Manuel I assim que voltou para Portugal. Por sua vez, Cristóvão Colombo, ao descobrir a América em 1492, sugeriu nos seus manuscritos a existência de terras a sul da República Dominicana.
A tudo isto, soma-se o facto de, em 1494, Portugal e Espanha terem assinado o Tratado de Tordesilhas, que dividia os novos territórios entre estas duas potências, seguindo-se uma linha imaginária, que passava a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, dividindo o mundo em duas metades.
Assim, as terras a oeste seriam de Espanha, e as de leste de Portugal. Por coincidência (ou não), o Brasil e o seu imenso litoral ficavam do lado dos portugueses. Bastava então estudar as correntes, as rotas e condições climáticas para que fosse possível encontrar tais terras e tomar a sua posse.
Tudo indica que o primeiro português a pisar solo brasileiro foi Duarte Pacheco Pereira, pessoa de confiança de D. Manuel I e que era considerado um génio da navegação e astronomia. Duarte Pacheco Pereira terá chegado ao Brasil em finais de 1498.
O grande problema era que tinha desembarcado entre o Maranhão e o Pará, terras que pertenciam à Espanha de acordo com o Tratado de Tordesilhas. Assim, o rei pediu-lhe que a missão ficasse em sigilo e que fosse preparada outra missão, que atingisse o Brasil por outro ponto, em terras pertencentes a Portugal segundo o Tratado.
Na época, uma cláusula do Tratado de Tordesilhas obrigava Portugal e Espanha a comunicarem um ao outro a descoberta de terras, sendo essa a razão pela qual D. Manuel preferiu manter o silêncio.
A carta escrita por Pero Vaz de Caminha, que descreveu o Brasil com tantos detalhes, é uma autêntica certidão de nascimento do território brasileiro, quase como se o seu objetivo fosse dizer “sim, nós estivemos aqui”, e o Brasil é efetivamente nosso.
A epopeia de Pacheco Pereira inicia-se em viagens de exploração e reconhecimento ao longo da costa ocidental da África. Em 1494, fez parte da delegação portuguesa na conferência de onde resultou o célebre Tratado de Tordesilhas, considerado o mais importante tratado do séc. XV. Nessa conferência, revela todo o seu saber científico, revelando-se um elemento fundamental na defesa das pretensões portuguesas.
A confiança que D. João II tinha nele prolongou-se pelo reinado de D. Manuel, que o envia em 1498 para além do Mar Oceano em busca de terras ocidentais do Atlântico, onde o navegador encontrou terra firme, com grandes ilhas adjacentes.