O Padrão dos Descobrimentos é um dos monumentos mais emblemáticos de Lisboa e de Portugal. Situado na margem do rio Tejo, em Belém, ele celebra a época áurea dos Descobrimentos portugueses, quando os navegadores lusos exploraram novos territórios e culturas pelo mundo fora.
O monumento tem a forma de uma caravela estilizada, com três velas triangulares que se erguem a 56 metros de altura. Na proa, destaca-se a figura do Infante D. Henrique, o grande impulsionador das viagens marítimas portuguesas. Atrás dele, seguem-se outras 32 figuras que representam os principais personagens da história dos Descobrimentos, entre navegadores, guerreiros, religiosos, cientistas, artistas e escritores.
Mas quem são essas figuras e o que fizeram pela glória de Portugal? Neste artigo, vamos apresentar cada uma delas e contar um pouco da sua biografia e das suas contribuições para a expansão portuguesa. Vamos começar pela face nascente do monumento e depois passar para a face poente.
Face nascente do monumento
Infante D. Henrique
O terceiro filho do rei D. João I e o mentor da expansão marítima portuguesa. Foi o fundador da Escola de Sagres, onde se reuniam os melhores navegadores, cartógrafos e astrónomos da época. Apoiou várias expedições pela costa africana, em busca de novas rotas comerciais e do caminho para a Índia. Também foi o grão-mestre da Ordem de Cristo, que sucedeu à Ordem dos Templários em Portugal.
Vasco da Gama
O navegador que realizou a primeira viagem marítima da Europa à Índia, contornando o Cabo da Boa Esperança. Partiu de Lisboa em 1497 e chegou a Calecute em 1498, abrindo uma nova rota comercial para as especiarias orientais. Foi nomeado almirante-mor dos mares da Índia e conde de Vidigueira pelo rei D. Manuel I.
Afonso V
O rei de Portugal que sucedeu ao seu pai D. Duarte em 1438, com apenas seis anos de idade. Ficou conhecido como “o Africano” por ter conquistado várias cidades no norte de África, como Alcácer Ceguer, Arzila e Tânger. Também apoiou as explorações marítimas iniciadas pelo seu tio D. Henrique e concedeu privilégios aos navegadores.
Pedro Álvares Cabral
O navegador que comandou a segunda expedição à Índia em 1500 e que descobriu o Brasil pelo caminho. Desviou-se da rota seguida por Vasco da Gama e avistou uma nova terra a que chamou Ilha de Vera Cruz, que depois se revelou ser um continente. Tomou posse da terra em nome do rei D. Manuel I e seguiu para a Índia, onde estabeleceu relações comerciais com vários reinos.
Fernão de Magalhães
O navegador que organizou a primeira viagem de circum-navegação do globo, provando que a Terra era redonda e que havia um caminho marítimo para as ilhas das especiarias pelo ocidente. Partiu de Sevilha em 1519, ao serviço do rei de Espanha, com cinco navios e cerca de 270 homens. Atravessou o Atlântico, o estreito que hoje tem o seu nome, o Pacífico e chegou às Filipinas, onde morreu em combate. Apenas um navio e 18 homens regressaram a Espanha em 1522, sob o comando de Juan Sebastián Elcano.
Nicolau Coelho
O navegador que foi um dos principais companheiros de Vasco da Gama nas suas viagens à Índia. Foi o primeiro a chegar a Calecute em 1498 e o primeiro a regressar a Lisboa em 1499. Também acompanhou Pedro Álvares Cabral na descoberta do Brasil em 1500 e na segunda viagem à Índia em 1501. Morreu em 1504, quando o seu navio naufragou ao largo do Cabo da Boa Esperança.
Gaspar Corte-Real
O navegador que explorou as terras do norte do Atlântico, como a Terra Nova, a Gronelândia e a Labrador. Foi um dos primeiros europeus a contactar com os povos indígenas dessas regiões e a trazer alguns deles como escravos para Portugal. Desapareceu em 1501, numa das suas expedições, e nunca mais se soube do seu paradeiro.
Martim Afonso de Sousa
O navegador e administrador colonial que foi o primeiro donatário da capitania de São Vicente, no Brasil. Foi enviado pelo rei D. João III em 1530 para explorar a costa brasileira e combater os corsários franceses que ali se instalavam. Fundou as primeiras vilas no Brasil, como São Vicente e São Paulo, e incentivou a agricultura e o comércio na colónia. Foi também governador da Índia entre 1542 e 1545.
João de Barros
O historiador e administrador colonial que escreveu a obra “Décadas da Ásia”, uma das principais fontes sobre os Descobrimentos portugueses. Foi também um dos donatários da capitania do Maranhão, no Brasil, mas nunca chegou a visitar a sua terra. Foi ainda feitor da Casa da Índia e da Mina, onde controlava o comércio ultramarino português.
Estêvão da Gama
O navegador e militar que foi filho de Vasco da Gama e que seguiu as suas pisadas nas viagens à Índia. Foi capitão-mor da armada que levou D. Garcia de Noronha como vice-rei da Índia em 1538. Em 1540, foi nomeado governador da Índia, cargo que exerceu até 1542. Destacou-se pela sua atuação contra os turcos no mar Vermelho e pelo seu apoio aos cristãos etíopes.
Bartolomeu Dias
O navegador que foi o primeiro a dobrar o Cabo da Boa Esperança, em 1488, abrindo o caminho marítimo para a Índia. Foi também um dos pilotos da armada de Pedro Álvares Cabral que descobriu o Brasil em 1500. Morreu nesse mesmo ano, quando uma tempestade afundou o seu navio perto do cabo que ele tinha descoberto.
Diogo Cão
O navegador que explorou a costa ocidental africana entre 1482 e 1486. Foi o primeiro europeu a chegar à foz do rio Congo e ao cabo de Santa Maria, na atual Namíbia. Deixou várias marcas de pedra com inscrições e brasões ao longo da sua rota, que testemunham a sua passagem e a posse portuguesa dessas terras. Não se sabe ao certo quando e onde morreu, mas presume-se que tenha sido na costa africana, numa das suas viagens.
António de Abreu
O navegador que participou na expedição de Vasco da Gama à Índia em 1501 e que foi o comandante da primeira viagem portuguesa às ilhas das especiarias em 1511. Partiu de Malaca com três navios e chegou às ilhas de Banda, onde carregou noz-moscada, cravo e macis. Foi também o primeiro europeu a avistar Timor e a Nova Guiné. Regressou a Portugal em 1514 e não se sabe mais nada sobre a sua vida.
Afonso de Albuquerque
O militar e administrador colonial que foi o segundo governador da Índia e que ficou conhecido como “o Grande” e “o Leão dos Mares”. Foi o responsável pela conquista de Goa, Malaca e Ormuz, que se tornaram em importantes feitorias portuguesas. Também tentou conquistar Adém e Mascate, mas sem sucesso. Foi um dos primeiros a defender a ideia de criar um império português no Oriente, com uma política de casamentos mistos, cunhagem de moeda e propagação do cristianismo. Morreu em Goa, em 1515, sem ver reconhecido o seu valor pelo rei D. Manuel I.
Afonso Gonçalves Baldaia
O navegador que foi um dos primeiros a explorar a costa ocidental africana além do cabo Bojador. Foi enviado pelo Infante D. Henrique em 1435 e chegou até ao rio do Ouro, na atual Mauritânia. Em 1436, voltou a partir e atingiu o cabo Branco, onde deixou uma marca de pedra. Em 1446, fez uma terceira viagem e alcançou o cabo dos Mastros, onde encontrou uma população hostil que o impediu de prosseguir.
São Francisco Xavier
O religioso e missionário que foi um dos fundadores da Companhia de Jesus, juntamente com Inácio de Loyola. Foi enviado pelo rei D. João III como núncio apostólico para a Índia em 1541, onde iniciou a sua obra evangelizadora. Percorreu vários países e regiões do Oriente, como Ceilão, Malaca, Molucas, Japão e China, pregando o cristianismo e batizando milhares de pessoas. Morreu em 1552 na ilha de Sanchoão, perto da costa chinesa, sem conseguir entrar na China. Foi canonizado em 1622 e é considerado o padroeiro das missões católicas.
Cristóvão da Gama
O militar e navegador que foi filho de Vasco da Gama e que se distinguiu pela sua bravura na defesa dos interesses portugueses na Índia e na Etiópia. Foi capitão de uma das naus da armada de Estêvão da Gama que partiu para a Índia em 1538. Em 1541, foi enviado pelo governador da Índia, Martim Afonso de Sousa, para socorrer o imperador etíope Lebna Dengel, que estava cercado pelos muçulmanos. Comandou um pequeno exército de portugueses e etíopes, mas foi derrotado e capturado pelo líder muçulmano Ahmad ibn Ibrahim al-Ghazi, que o mandou executar em 1542.
Face poente do monumento
Nuno Gonçalves
O pintor que foi o autor das célebres “Tábuas de São Vicente”, um conjunto de seis painéis que retratam o santo padroeiro de Lisboa e várias personalidades da corte e da igreja portuguesas do século XV. Foi também o pintor régio de D. Afonso V e um dos primeiros artistas portugueses a ter o seu nome reconhecido.
Gomes Eanes de Zurara
O cronista que escreveu as “Crónicas da Guiné” e da “Tomada de Ceuta”, duas obras fundamentais para o conhecimento da história dos Descobrimentos portugueses. Foi também o guarda-mor da Torre do Tombo, o arquivo real português, e um dos fundadores da Academia de Lisboa, uma instituição cultural patrocinada pelo Infante D. Henrique.
Pêro da Covilhã
O explorador que foi enviado pelo rei D. João II a procurar informações sobre a Índia e as ilhas das especiarias, por via terrestre. Partiu de Lisboa em 1487 e viajou por vários países do norte de África, do Médio Oriente e da Ásia, tendo chegado à Etiópia, onde foi recebido pelo imperador cristão. Aí ficou retido pelo resto da sua vida, sem poder regressar a Portugal, mas enviando relatórios sobre as suas descobertas.
Jácome de Maiorca
O cartógrafo que foi um dos mestres da Escola de Sagres, onde ensinou a arte de fazer mapas e instrumentos náuticos. Foi também o autor do “Atlas Catalão”, um dos mais importantes mapas medievais, que mostra o mundo conhecido na época, incluindo as ilhas Canárias e a costa ocidental africana.
Pedro Nunes
O matemático e cosmógrafo que foi um dos maiores vultos da ciência portuguesa do século XVI. Foi professor na Universidade de Coimbra e na Universidade de Lisboa, e autor de várias obras sobre geometria, astronomia e navegação. Foi também o inventor do nónio, um instrumento que permitia medir com maior precisão os ângulos e as distâncias no mar.
Pêro de Escobar
O navegador que foi um dos pioneiros da exploração da costa ocidental africana. Foi o primeiro a chegar à ilha de São Tomé, em 1471, e à ilha do Príncipe, em 1472, que depois se tornaram em importantes colónias portuguesas produtoras de açúcar e escravos. Foi também um dos primeiros a trazer ouro da Mina, na atual Gana, iniciando o comércio deste metal precioso entre Portugal e África.
Pêro de Alenquer
O navegador que foi um dos pilotos da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia em 1497-1499. Foi ele que guiou o navio São Gabriel pelo estreito de Moçambique e pelo canal de Sofala, evitando os perigos das correntes e dos baixios. Foi também ele que reconheceu Calecute como o porto das especiarias que os portugueses procuravam. Na viagem de regresso, foi capturado pelos árabes em Moçambique, mas conseguiu fugir e voltar a Portugal.
Gil Eanes
O navegador que foi o primeiro a ultrapassar o cabo Bojador, em 1434, vencendo o medo do mar tenebroso que impedia os portugueses de avançar mais para sul na costa africana. Foi também o primeiro a trazer amostras das plantas e dos animais que encontrou além do cabo, provando que era possível navegar e explorar essas terras desconhecidas.
João Gonçalves Zarco
O navegador e explorador que foi um dos descobridores das ilhas da Madeira e do Porto Santo, em 1418 e 1419, juntamente com Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo. Foi o primeiro capitão-donatário da ilha da Madeira, onde fundou as vilas de Machico e do Funchal. Foi também um dos colaboradores do Infante D. Henrique nas explorações marítimas.
Fernão Mendes Pinto
O escritor e aventureiro que relatou as suas viagens pelo Oriente na obra “Peregrinação”, uma das mais famosas da literatura portuguesa. Partiu para a Índia em 1537 e passou por vários países e regiões, como a Pérsia, a Arábia, a Etiópia, a China, o Japão e a Indonésia. Foi comerciante, soldado, escravo, pirata, diplomata e missionário, tendo vivido inúmeras peripécias e aventuras.
D.ª Filipa de Lencastre
A rainha de Portugal que foi esposa de D. João I e mãe da Ínclita Geração, um conjunto de filhos ilustres que se destacaram na política, na cultura e nos Descobrimentos portugueses. Foi filha de João de Gante, duque de Lencastre e neto do rei Eduardo III de Inglaterra. Casou-se com D. João I em 1387, selando a aliança luso-inglesa contra Castela. Foi uma mulher culta e virtuosa, que influenciou positivamente o seu marido e os seus filhos.
Luís de Camões
O poeta que foi o autor dos “Lusíadas”, a epopeia nacional que narra os feitos heroicos dos portugueses nos Descobrimentos, especialmente a viagem de Vasco da Gama à Índia. Foi também um soldado que combateu em várias batalhas na Índia e em África, tendo perdido um olho num combate em Ceuta. Escreveu também várias obras líricas, como sonetos, canções e elegias.
Infante Pedro
O príncipe de Portugal que foi filho de D. João I e irmão do Infante D. Henrique. Foi duque de Coimbra e regente do reino durante a menoridade do seu sobrinho D. Afonso V. Foi também um grande viajante e humanista, que visitou vários países da Europa e trouxe consigo livros, obras de arte e ideias renascentistas. Apoiou as explorações marítimas portuguesas e incentivou a educação e a cultura no reino. Foi assassinado em 1449 na batalha de Alfarrobeira, por ordem de D. Afonso V.
Infante Santo D. Fernando
O príncipe de Portugal que foi filho de D. João I e irmão do Infante D. Henrique. Foi condestável do reino e participou na conquista de Ceuta em 1415. Em 1437, juntou-se à expedição do seu irmão D. Henrique para conquistar Tânger, mas a operação fracassou e ele foi feito prisioneiro pelos mouros. Recusou-se a trocar a sua liberdade pela devolução de Ceuta e morreu em cativeiro em 1443. Foi venerado como santo pela sua fé e sacrifício.
Frei Henrique de Coimbra.
Seguia a bordo da frota de Pedro Álvares Cabral e rezou a primeira missa no Brasil.
Frei Gonçalo de Carvalho
Viajou para o Congo em 1610 a pedido do rei Congolês para expandir a religião cristã.