Todos os países têm momentos caricatos na sua história e Portugal não é excepção. Poucos sabem ao certo o que iria na cabeça de algumas pessoas para tomarem certas decisões que hoje nos parecem totalmente absurdas mas, de qualquer das formas, resultaram em episódios caricatos que raramente são contados nos livros de história.
Portugal não é excepção e não faltam histórias que, olhando para trás, torna-se difícil compreender como pode ter acontecido algo semelhante ou em que estariam a pensar os protagonistas dos acontecimentos. Para ler com humor: 10 anedotas verídicas da história de Portugal.
1. Condecorações para os amantes da mulher
D. João VI foi um rei pacífico e tolerante, mas também fraco e indeciso. Casou-se com a sua prima D. Carlota Joaquina, filha de Carlos IV de Espanha, mas nunca houve amor entre eles. A rainha era ambiciosa, autoritária e infiel, tendo vários amantes ao longo da sua vida. O rei sabia das traições da mulher, mas não tinha coragem de a enfrentar ou de a repudiar.
Em vez disso, adoptou uma estratégia curiosa: concedia a comenda de Torre-e-Espada aos amantes da rainha, como forma de os recompensar pelo seu serviço à coroa e de os afastar da corte.
No entanto, não podia revelar o verdadeiro motivo da distinção, por isso escrevia nos diplomas “justos e particulares motivos que tenho presentes”. Assim, muitos homens receberam esta honra sem saberem que era uma forma de o rei reconhecer a sua cornitude.
2. Os descendentes portugueses do Papa
O Papa Inocêncio XIII foi eleito em 1721, depois de ter sido núncio apostólico em Portugal entre 1698 e 1709. Durante a sua estadia em Lisboa, o futuro pontífice não resistiu aos encantos das mulheres portuguesas e teve várias relações amorosas com elas. Algumas dessas relações resultaram em filhos ilegítimos, que foram reconhecidos pelo pai e receberam apelidos nobres como Conti ou Contini, em referência à sua origem italiana.
Estes descendentes do Papa Inocêncio XIII formaram famílias importantes na sociedade portuguesa dos séculos XVIII e XIX, tendo alguns deles ocupado cargos políticos ou eclesiásticos. O Papa Inocêncio XIII morreu em 1724, deixando uma marca indelével na história e na genealogia de Portugal.
3. Os juízes analfabetos
No século XVII, Portugal era um país atrasado e ignorante, onde a maioria da população era analfabeta ou semi-analfabeta. Esta situação afectava também as classes dirigentes e os funcionários públicos, incluindo os juízes. Era frequente encontrar juízes que não sabiam ler nem escrever, mas que exerciam a sua função com base na tradição oral ou na ajuda de escrivães ou letrados.
Esta situação gerava muitos problemas de justiça e de legalidade, pois os juízes analfabetos eram facilmente manipulados ou corrompidos pelos interesses dos poderosos ou dos seus próprios parentes ou amigos. Só em 1642 é que se proibiu por Alvará que os analfabetos fossem juízes.
4. Os vivas a Dona Carlota
D. Carlota Joaquina foi uma das rainhas mais odiadas da história de Portugal. Casou-se com D. João VI, mas nunca se conformou com o seu papel de consorte e conspirou contra o marido e o filho D. Pedro, que proclamou a independência do Brasil em 1822. A rainha apoiou o seu outro filho D. Miguel, que se rebelou contra o pai e o irmão e iniciou uma guerra civil em 1828.
Durante este conflito, a rainha esteve presa na Torre de S. João da Barra, onde era maltratada pelos guardas, que eram partidários de D. Pedro. Estes guardas gritavam vivas à Dona Carlota Joaquina e insultavam D. Pedro e a “puta que o pariu”, sem se aperceberem que era a mesma pessoa.
5. O verdadeiro pai de D. Miguel
D. Miguel foi um dos reis mais controversos da história de Portugal. Foi aclamado rei em 1828, depois de ter deposto o seu irmão D. Pedro IV, que era o legítimo herdeiro do trono. D. Miguel governou de forma absolutista e repressiva, até ser derrotado pelas forças liberais de D. Pedro em 1834.
D. Miguel era filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina, mas havia rumores de que o seu verdadeiro pai era outro homem: D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho, marquês de Marialva e conde de Cantanhede, que foi um dos amantes da rainha e um dos seus principais apoiantes políticos.
O marquês de Marialva era um homem bonito e valente, que se destacou nas guerras contra Napoleão e nas lutas liberais. Era também um grande cavaleiro e mestre da arte equestre portuguesa. Alguns historiadores defendem que ele era o pai biológico de D. Miguel, baseando-se na semelhança física entre eles e na cumplicidade que existia entre a rainha e o marquês.
6. A inquisição e os mortos
A Inquisição não se contentava em perseguir e condenar os vivos, mas também os mortos. Há vários casos de cadáveres que foram exumados e queimados em autos-de-fé, por terem sido acusados de heresia ou de judaísmo.
Um dos casos mais famosos foi o de Gabriel Malagrida, um jesuíta italiano que foi executado em 1761, por ter escrito um livro sobre o terramoto de 1755, onde atribuía a catástrofe à ira divina. O seu corpo foi queimado e as suas cinzas foram atiradas ao rio Tejo. No entanto, alguns anos depois, o seu crânio foi encontrado numa praia e levado para a Inquisição, que o queimou novamente em 1774.
7. Padre queixa-se que os paroquianos não morrem
No século XVIII, havia um padre na freguesia de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, que se chamava António José da Silva. Este padre era muito ganancioso e só pensava em cobrar as taxas pelos sacramentos e pelos funerais. Um dia, ele escreveu uma carta ao bispo a queixar-se de que os seus paroquianos não morriam e que isso lhe causava grandes prejuízos.
Na carta, ele dizia: “Não há quem morra nesta freguesia; é uma desgraça; não há quem me pague as missas; não há quem me pague os enterros; não há quem me pague as esmolas; não há quem me pague nada”. O bispo ficou escandalizado com a falta de caridade do padre e mandou-o suspender das suas funções.
8. Os marcos da Rainha D. Maria I
No reinado de D. Maria I, houve um grande projecto para construir estradas em todo o país, com o objectivo de melhorar as comunicações e o comércio. Para financiar este projeto, foi criado um imposto sobre o sal e o tabaco, que era cobrado nas alfândegas. No entanto, houve um grande esquema de corrupção e desvio de fundos, envolvendo vários funcionários públicos e comerciantes.
Estes ficavam com parte do dinheiro do imposto e falsificavam os recibos e as contas. Assim, o dinheiro destinado às estradas nunca chegava ao seu destino e as obras ficavam paradas ou mal feitas. Este caso ficou conhecido como a “burla do dinheiro para as estradas” e foi um dos maiores escândalos da época.
9. Os sinos de D. João III
Em 1529, o rei D. João III enviou um carregamento de cobre à Dinamarca, para fundição de sinos, mas foi roubado por protestantes que andavam às avessas com os dinamarqueses.
O rei ficou furioso e os luteranos, por estranho que pareça, enviaram-lhe sinos de igrejas de Copenhaga. O rei ficou desconfiado da virtude dos sinos, mas os luteranos disseram que dinheiro e cobre havia pouco, pelo que sinos não havia outros.
Assim sendo, o rei D. João III concordou em ficar com os sinos dinamarqueses, mas como depósito, e não como proprietário. Assim, quando a Dinamarca se tornasse católica, os sinos seriam devolvidos.
10. Os bens dos cristão-novos
A Inquisição foi um tribunal eclesiástico que perseguiu e condenou os hereges, especialmente os cristãos-novos, que eram os judeus convertidos ao catolicismo. A Inquisição tinha o poder de confiscar os bens dos réus condenados, que eram muitas vezes ricos comerciantes ou banqueiros. Estes bens eram entregues ao rei, que os repartia pelos seus funcionários ou pelos seus aliados políticos ou militares.
No entanto, os reis de Portugal tinham um certo escrúpulo em aceitar os bens dos cristãos-novos, por considerarem que eram “cousa de gente empestada” e que podiam trazer má sorte ou castigo divino.
Por isso, muitas vezes recusavam esses bens ou os devolviam aos seus legítimos herdeiros. Os inquisidores, pelo contrário, não tinham esse escrúpulo e ficavam com os bens dos cristãos-novos para si ou para os seus familiares ou amigos, enriquecendo à custa da desgraça alheia.