A língua portuguesa, tal como as suas gentes, está em constante evolução. Ao longo dos séculos, palavras que conhecemos e usamos no quotidiano transformaram-se, adquirindo novos significados.
Por vezes, estas mudanças são subtis, outras vezes, são uma verdadeira surpresa. Estas são 10 palavras que mudaram de sentido, revelando como o tempo, a cultura e a sociedade moldam a linguagem.
1. Armário
Se um dia te perguntassem o que é um armário, provavelmente responderias que é um móvel para guardar roupa ou objetos. Mas sabias que, no passado, a palavra “armário” tinha uma origem bem diferente?
Derivado do latim armarium, que significava “lugar para guardar armas”, o termo foi alargando o seu significado para englobar outros tipos de armazenamento. Hoje, associamos o armário apenas a um móvel fechado com prateleiras e portas.
2. Bizarro
Hoje em dia, usamos “bizarro” para descrever algo ou alguém estranho, excêntrico ou fora do comum. No entanto, originalmente, esta palavra tinha um significado positivo.
Proveniente do italiano bizzarro, significava corajoso ou ousado. A transformação para o sentido atual deu-se sob a influência do francês bizarre, que passou a associar a palavra a algo grotesco ou invulgar.
3. Preservativo
Atualmente, o preservativo é indissociável da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e da contracepção. Contudo, antes de adquirir esse significado, a palavra estava ligada ao conceito de conservação.
Derivado de preservar, que significa proteger ou conservar, o “preservativo” designava qualquer método ou substância utilizada para proteger ou conservar alimentos e outros produtos.
4. Carregador
“Carregador” era, inicialmente, utilizado para descrever uma pessoa ou animal responsável por carregar mercadorias ou objetos pesados. Com o desenvolvimento tecnológico, a palavra passou a estar associada aos dispositivos que fornecem energia elétrica, como os carregadores de telemóveis e portáteis.
A evolução reflete a forma como a tecnologia altera a nossa vida quotidiana e, consequentemente, a nossa língua.
5. Autópsia
Antigamente, o termo “autópsia” significava simplesmente “exame próprio”, derivado do grego autós (próprio) e ópsia (exame).
No entanto, com o passar do tempo, o termo passou a referir-se especificamente ao exame post-mortem realizado em cadáveres para determinar a causa da morte. Curiosamente, o termo “necropsia” seria o mais técnico e correto para este tipo de exame.
6. Gravata
A palavra “gravata” remonta ao século XVII, quando os soldados croatas usavam um lenço atado ao pescoço como parte do uniforme militar. Este acessório chamou a atenção dos franceses, que adotaram a peça e lhe deram o nome de “cravate”.
Ao longo do tempo, este item transformou-se no que hoje conhecemos como “gravata”, um símbolo de elegância masculina.
7. Esquisito
Hoje, “esquisito” é frequentemente utilizado para descrever algo estranho ou fora do normal.
Contudo, a palavra tem uma origem bem mais refinada: deriva do latim exquisitus, que significava escolhido, selecionado ou de boa qualidade. No passado, “esquisito” era um elogio, associado à ideia de algo ou alguém excecional.
8. Idiota
No grego antigo, idiotes designava uma pessoa privada ou leiga, alguém fora da vida pública. Ao longo dos séculos, a palavra evoluiu, e a falta de interesse por assuntos políticos ou sociais passou a estar associada à ignorância.
Atualmente, “idiota” é uma palavra depreciativa utilizada para insultar alguém considerado estúpido ou sem noção.
9. Saudade
A famosa palavra portuguesa “saudade”, que expressa o sentimento de nostalgia ou desejo por algo ou alguém ausente, tem também uma história de transformação.
Originalmente, derivado do latim solitas (solidão), a “saudade” tinha uma conotação mais dolorosa, ligada à tristeza profunda pela separação. Hoje, embora continue a carregar um tom melancólico, a saudade é também associada à beleza de recordar o que se perdeu.
10. Rato
Se hoje falamos de “rato” e pensamos logo num roedor ou no dispositivo informático, é interessante saber que a palavra tem raízes mais antigas no latim rattus.
O termo designava um tipo de roedor, mas com o avanço da tecnologia, o significado foi alargado, e “rato” passou a ser a ferramenta essencial para controlar o cursor do computador.
A língua portuguesa revela-se, assim, um reflexo da nossa sociedade e das transformações ao longo dos tempos. Palavras que outrora carregavam significados muito diferentes mostram como a comunicação humana é uma constante adaptação ao mundo que nos rodeia.