A história do automóvel não se escreve apenas no estrangeiro. Em Portugal também surgiram marcas que deixaram memória, mesmo que muitas já tenham deixado de produzir há décadas.
Várias delas conquistaram um lugar no imaginário nacional, despertando o interesse dos apreciadores de automóveis antigos e, em alguns casos, de modelos pouco comuns.
Ficam aqui doze exemplos que ajudam a compreender a variedade e a capacidade de inovação que também marcaram a indústria automóvel portuguesa.
1. Veeco
A Veeco, desenvolvida pela VE no Entroncamento, foi uma marca inovadora sobretudo por ter lançado um desportivo eléctrico, o Veeco RT.
Este trike de três rodas oferecia uma autonomia de cerca de 400 km e um consumo aproximado de 1€ por cada 100 km percorridos, um feito notável que mostra a aposta pioneira na mobilidade elétrica em Portugal.
2. UMM
A União Metalo-Mecânica (UMM), criada em 1977, destacou-se na produção de 4×4 para utilização em sectores como a agricultura e os serviços. Os motores eram fornecidos pela Peugeot, mas a carroçaria e outros componentes eram fabricados em Mem Martins.
A UMM produziu vários modelos até 2006, altura em que as dificuldades burocráticas e a fraca procura ditaram o fim da produção. No entanto, a marca ainda existe como entidade, e os seus jipes continuam a ser reconhecidos.
3. Sado
Fabricado pelo grupo Entreposto entre 1978 e 1985, o Sado foi um microcarro que alcançou um sucesso considerável. As primeiras 50 unidades venderam-se rapidamente, havendo mesmo lista de espera.
Com um motor de dois cilindros e 28 cavalos, o Sado atingia cerca de 110 km/h e tornou-se popular pela sua agilidade e baixos consumos.
4. Alba
A Alba, de Albergaria-a-Velha, produziu dois modelos que marcaram o panorama nacional. O Alba 1500, lançado em 1952, destinava-se a competições e atingia os 200 km/h graças a um motor de quatro cilindros e 200 cavalos.
Quanto ao Alba 1100, com motor Fiat, era também bem conhecido, reforçando a presença desta marca no desporto automóvel português até 1961.
5. Edfor
A Edfor surgiu em 1937 no Porto, com o Edfor Grand Sport, equipado com um motor V8 da Ford que atingia os 160 km/h. Criada por Eduardo Ferreirinha, a marca ficou imortalizada no cinema português através do filme “Já Se Fabricam Automóveis em Portugal”, de Manoel de Oliveira, tornando-se uma referência histórica.
6. DM
De 1951, o DM, fabricado pela Auto Federal Lda (Dionísio Mateus), no Porto, apresentava um motor de 1100 cm³, quatro cilindros e 65 cavalos. Com apenas 500 kg, atingia velocidades próximas dos 170 km/h, mostrando a versatilidade da engenharia nacional da época.
7. MG Canelas
O MG Canelas, de 1952, foi um marcante automóvel de competição dos anos 50, construído em Lisboa com um chassis tubular em aço. O motor de 1500 cm³, quatro cilindros e 95 cavalos permitia-lhe atingir quase 195 km/h. Esta combinação tornava-o um veículo apreciado em provas desportivas.
8. Olda
Em 1954 surgiu o Olda, em Águeda, utilizando o motor e o chassis de um Fiat 1100. Com quatro cilindros e 80 cavalos, o Olda atingia os 165 km/h e representava mais um exemplo da adaptação dos modelos internacionais às condições portuguesas.
9. Marlei
Também em 1954, no Porto, o mecânico Mário Moreira Leite apresentou o Marlei, baseado num Opel Olympia Caravan. Com quatro cilindros, 1588 cm³ e 48 cavalos de potência, atingia os 160 km/h, sendo um modelo reconhecido pela sua fiabilidade e razoável rendimento.
10. AGB IPA
O AGB IPA, concebido para a Feira das Indústrias de 1958, inspirava-se no Astra britânico. Equipado com um motor de 300 cm³ e dois cilindros, oferecia 15 cavalos. Foram produzidos apenas cinco exemplares, em versões de quatro e dois lugares.
11. Portaro
Em 1976 surgiu o Portaro, considerado o primeiro todo-o-terreno português. Montado em Abrantes, na Fábrica de Máquinas Agrícolas do Tramagal, este 4×4 vendia-se bem, atingindo mais de 7000 unidades. Com um motor de 2498 cm³ e 71 cavalos, foi uma opção robusta para uso rural e profissional até à falência da empresa em 1990.
12. Felcom
Entre 1933 e 1935 foi construído o Felcom, considerado o primeiro automóvel português. Integrando componentes de Ford A, Miller e Turcat-Méry, participou em corridas no Estoril e no Circuito da Boavista, afirmando-se como um pioneiro do desporto automóvel nacional.
Estas doze marcas demonstram que a criatividade, a vontade de inovar e a adaptação às necessidades do país estiveram presentes na indústria automóvel portuguesa. Embora muitas já não estejam em atividade, continuam a suscitar interesse, inspirando colecionadores, investigadores e entusiastas do património automóvel.