Está comprovado historicamente que Lisboa sofreu cerca de 20 períodos da epidemia da peste, sendo que o episódio mais avassalador foi já na era Moderna, em 1569, num período que ficou conhecido como a Grande Peste de Lisboa. Rapidamente transformada em pandemia, este surto da peste deu um corte bastante acentuado na demografia da cidade, tendo o surto começado em julho de 1569 e apenas terminado na primavera do ano seguinte.
Nesse espaço de tempo, morreram cerca de 600 pessoas por dia, perfazendo um total de 60 000 vítimas no final da pandemia. Antes do surto, Lisboa tinha uma elevada taxa populacional; após a peste, transformou-se numa autêntica necrópole. As preces públicas e procissões, com o povo a implorar à misericórdia divina, eram um espetáculo comum.
Culpavam-se os cristãos-novos pela pandemia, apedrejando-os, arrastando-os pelas ruas e queimando-os, como forma de se libertarem do mal-estar provocado pela peste na cidade. Apesar de tudo, não parecia haver fim para a mortandade na cidade, estando a sua população já reduzida a um terço do habitual.
Os níveis de mortalidade aumentavam de dia para dia, não existindo já sítio onde enterrar tantas pessoas. Recorreu-se assim à queima dos corpos, que se pensava ser também medida de proteção contra a propagação da doença.
As crianças e mulheres eram abandonadas à sua sorte, as pessoas eram deixadas a morrer na rua, os médicos não tinham mão na doença e as medidas de proteção para travar a epidemia mostravam-se ineficazes.
Medidas de combate à propagação da peste, e penas aplicadas ao seu não cumprimento
Construíram-se estabelecimentos para portadores de peste e de outras doenças infectocontagiosas que não podiam ficar nos hospitais. Estes espaços eram construídos longe de grandes massas populacionais, em zonas arejadas longe das portas da cidade.
Nestes estabelecimentos, a população era maioritariamente pobre e internada à força, como era já prática desde os tempos de D. João III, que teria mandado a Veneza uma delegação para se informar de todas as medidas a adotar no combate à peste.
Já no ano da Grande Peste de Lisboa, D. Sebastião mandou vir dois médicos de Sevilha, com experiência no combate à doença. Os especialistas organizaram várias medidas de proteção e anti propagação da peste, dando ordem para que as autoridades as fizessem cumprir. Algumas dessas medidas foram:
- Reforçar o abastecimento de víveres à cidade;
- Acender fogueiras de lenhas aromáticas na via pública de manhã e à noite;
- Proceder à limpeza das ruas;
- Evitar expor ao ar o sangue obtido das seringas;
- Proceder ao encerramento dos banhos públicos;
- Mandar queimar as roupas de menor valor das pessoas atacadas pela doença;
- Colocar de quarentena os navios de transporte de escravos;
- Lançar ao mar as imundícies;
- Contratação de médicos para cuidados domiciliários;
- Mandar enterrar os mortos em covas fundas e com uma grande camada de cal viva por cima dos corpos.
Além disso, era aconselhado não abrir as janelas antes do nascer do sol, aspergir o interior das casas com vinagre e evitar sair de casa no geral. Infelizmente, estas medidas nem sempre foram cumpridas à risca, tendo o lixo e a sujidade continuado a acumular-se na cidade e seus arredores.
Ainda hoje os historiadores não sabem com total certeza se estas medidas foram cumpridas ou não, bem como as punições previstas no que toca à peste. Sabemos, sim, que existiam penas por infração às leis sanitárias e que estas variavam consoante a condição social do infrator.
Algumas das penas, aplicadas pelo poder régio e pelo provedor mor da saúde pelo não cumprimento das medidas de prevenção seriam:
- O açoitamento em público, sendo seguidamente o infrator colocado em degredo na Ilha de S. Tomé, durante sete anos;
- Ao cavaleiro, escudeiro ou mercador, era aplicada uma pena mais leve e, por conseguinte, menos vergonhosa, que consistia numa multa e dois anos de degredo, que normalmente era numa aldeia da Beira Interior.