Já imaginou uma cidade inteira ser desmontada e reconstruída noutro lugar? Foi isso que aconteceu com Mazagão, uma antiga fortaleza portuguesa no norte de África que foi transferida para a Amazónia brasileira no século XVIII. Neste artigo, vai conhecer a origem, a trajetória e o destino dessa cidade singular que atravessou o oceano Atlântico.
Mazagão era uma das praças-fortes que os portugueses construíram na costa marroquina a partir do século XV, durante a expansão ultramarina. Essas fortificações serviam para proteger o comércio e a navegação portugueses no Mediterrâneo e no Atlântico, além de servirem de base para incursões militares e religiosas contra os muçulmanos.
Mazagão foi fundada em 1486, na foz do rio Oum Er-Rbia, e recebeu o nome da tribo berbere que habitava a região. A cidade era cercada por muralhas e tinha um castelo, uma catedral, uma alfândega, um hospital e várias casas. A população era formada por soldados, funcionários, comerciantes, artesãos e religiosos, além de escravos africanos.
No século XVI, Mazagão era uma das mais importantes e prósperas praças-fortes portuguesas em Marrocos. No entanto, a partir do século XVII, a situação começou a mudar. Os portugueses enfrentaram várias revoltas dos marroquinos, que queriam expulsá-los do seu território. Além disso, os portugueses perderam o interesse pelo comércio marroquino, que entrou em decadência com a concorrência de outros países europeus.
Em 1769, o rei de Portugal, D. José I, decidiu abandonar Mazagão e todas as outras praças-fortes em Marrocos, pois elas eram muito caras de manter e não traziam mais benefícios. No entanto, ele não queria deixar a cidade nas mãos dos inimigos. Por isso, ordenou que todos os habitantes de Mazagão fossem transferidos para o Brasil, onde receberiam terras e privilégios.
Como foi a transferência de Mazagão?
A transferência de Mazagão foi um processo complexo e demorado. Primeiro, os portugueses tiveram que demolir as muralhas e as construções da cidade, para evitar que fossem aproveitadas pelos marroquinos. Depois, tiveram que embarcar todos os seus pertences e as pedras das fortificações em navios. Em seguida, tiveram que viajar por cerca de quatro meses até chegarem ao Brasil.
O destino escolhido para os mazaganistas (como ficaram conhecidos os habitantes de Mazagão) foi a região do rio Amazonas, na província do Grão-Pará. Lá, deveriam fundar uma nova cidade com o mesmo nome e as mesmas características da antiga. O local escolhido foi a margem esquerda do rio Xingu, próximo da foz do rio Amazonas.
Mazagão no Brasil foi fundada em 1770, com a chegada dos primeiros mazaganistas. A população inicial da nova cidade no Brasil era de cerca de 2 mil pessoas, que mantiveram a sua língua, a sua religião e as suas tradições. Receberam terras, isenções fiscais e cargos públicos da Coroa portuguesa, que queria povoar e defender a região amazónica.
Quais foram os desafios de Mazagão no Brasil?
Mazagão no Brasil enfrentou vários desafios para se adaptar ao novo ambiente e à nova realidade. Um dos principais foi a convivência com os indígenas, que habitavam a região e que eram aliados dos portugueses contra os espanhóis. Os mazaganistas tiveram que aprender a respeitar e a negociar com os nativos, que lhes forneciam alimentos, mão de obra e conhecimento da terra.
Outro desafio foi a falta de recursos e de infraestruturas. A nova cidade dependia do apoio da Coroa portuguesa, que nem sempre cumpria as promessas feitas aos mazaganistas. Além disso, a região era isolada e de difícil acesso, o que dificultava o comércio e a comunicação com outras partes do Brasil e de Portugal.
Um terceiro desafio foi a integração com os outros colonos que viviam na Amazónia. Os mazaganistas eram vistos com desconfiança e inveja por alguns, que os consideravam privilegiados e arrogantes. Por outro lado, eles também se misturaram com os outros grupos étnicos e culturais, como os africanos, os mestiços e os caboclos, formando uma sociedade diversa e singular.
O que aconteceu com Mazagão no Brasil?
Mazagão no Brasil teve uma história longa e turbulenta. A cidade foi palco de várias rebeliões e conflitos, tanto internos quanto externos. Em 1783, por exemplo, os mazaganistas revoltaram-se contra o governador do Grão-Pará, que queria transferi-los para outra região.
A mudança acabaria por acontecer mesmo, mas em 1840. Nesse ano foi transferida para a margem direita do rio Xingu de forma a fugir às cheias frequentes do rio Macuapá, em cujas margens foi fundada.
Hoje, Mazagão é uma das cidades mais antigas e históricas do estado do Amapá. Ela preserva parte do seu património arquitectónico e cultural, como as ruínas das antigas dos colonizadores e da primeira igreja da cidade. É um exemplo de diversidade e de resistência cultural, pois mantém viva a memória dos seus antepassados portugueses, africanos e indígenas.