As fronteiras entre Portugal e Espanha sempre foram lendárias, estando associadas a histórias de contrabando, ajuda e solidariedade em tempos complicados. Mesmo quando os dois países se encontravam em guerra, os habitantes da raia e das suas aldeias tinham outro tipo de regras entre eles, mantendo-se a amizade e os laços familiares apesar das circunstâncias.
Foi neste contexto que surgiram em Portugal duas aldeias muito peculiares: Rio de Onor, em Bragança, e Marco, em Arronches. Nas duas localidades a fronteira divide-as a meio, existindo uma parte da aldeia portuguesa e outra espanhola.
No caso de Rio de Onor, a parte espanhola é distinguida como Rihonor de Castilla, embora a povoação costume distinguir as duas partes como “povo de acima” e “povo de abaixo”. Rio de Onor é também uma povoação singular em outros sentidos, já que, durante muito tempo, assumiu um regime de governo próprio, e contava também com um dialeto próprio, que hoje se encontra quase extinto, pertencente ao grupo asturo-leonês, tal como a língua mirandesa.
Tipicamente transmontana, esta aldeia tem casas tradicionais, compostas por dois andares. No andar de cima moram as famílias e, no andar de baixo, fica o gado, os cereais e outros produtos da terra.
Rio de Onor é uma aldeia comunitária, o que significa que os habitantes partilham algumas coisas e se entreajudam. Partilham, por exemplo, o forno comunitário, existem terrenos agrícolas onde todos devem trabalhar, e um rebanho que pasta nestes terrenos. No entanto, hoje em dia, este estilo de vida comunitário já não é tão praticado, já que os habitantes têm uma idade mais avançada.
Quanto à aldeia de Marco, faz parte da freguesia de Esperança, no concelho de Arronches, com a sua congénere espanhola a chamar-se El Marco, e a fazer parte do concelho de La Codosera (Badajoz). Esta aldeia tem também a particularidade de, até a criação de uma estrada de ligação entre os dois países, a única comunicação possível ser através de uma pequena ponte sobre a ribeira de Abrilongo. Trata-se, curiosamente, da ponte internacional mais pequena do mundo.
A ponte de Marco foi construída há 12 anos. Tem 6 metros de comprimento e 1.95 metros de largura e serve essencialmente para pedestres, embora seja também utilizada por veículos de 2 rodas. Tem um suporte metálico e possui tabuleiro e proteções laterais de madeira.
Antes da sua construção existiu outra ponte, muito mais rudimentar: uma simples chapa metálica, nada segura e que por vezes era arrastada pelas águas depois de algum dia intenso de chuva.
Na parte portuguesa da aldeia poderá encontrar um marco fronteiriço, o 713-B, que foi colocado na sequência do Tratado de Limites de Lisboa, celebrado em 1864.
Tal como acontece em todos os marcos fronteiriços, a parte de Portugal fica na direção dos lados do nosso país, e a parte de Espanha para os lados de lá. No entanto, a língua portuguesa é a língua normal de comunicação nesta região, sendo usada na comunicação entre as duas localidades.
As histórias de contrabando não poderiam faltar. No tempo em que as fronteiras eram fechadas e vigiadas, os portugueses pulavam para Espanha para comprar talheres e vinho. Os espanhóis aventuravam-se em Portugal à procura de toalhas e café.
A entrada na União Europeia de ambos países e a consequente abolição dos controlos fronteiriços veio alterar alguns hábitos, nomeadamente o contrabando, mas as trocas e viagens entre as duas aldeias mantêm-se, desta vez sem o medo de serem apanhados com mercadoria comprada do outro lado.
As lojas do lado espanhol fecharam e os habitantes de El Marco deslocam-se com frequência ao lado português para fazerem as suas compras diárias na mercearia, onde existem ainda algumas lojas abertas.
Toda esta região foi um local de colonização de camponeses alentejanos, especialmente no último quartel do século XIX, abrangendo no processo grande parte do território do concelho (ou ayuntamiento) de La Codosera, o que nos permite falar de uma Extremadura portuguesa ou alentejana ou de um Alentejo espanhol ou extremenho.
Portanto, não é de admirar que o casario tradicional por esta zona, salvando as distâncias de uma ou outra influência, seja plenamente alentejano, mesmo quando nos encontramos em aldeias territorialmente espanholas.
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