O espanhol e o português são línguas muito parecidas, que têm muitas palavras em comum. Mas também há palavras que têm origens diferentes e que foram incorporadas ao longo da história por influências culturais, geográficas ou políticas. O português é uma língua românica, derivada do latim vulgar, que se desenvolveu na Península Ibérica a partir do século IX. O espanhol também é uma língua românica, que surgiu na mesma região e época. Por isso, as duas línguas partilham muitas palavras de origem latina, que formam a base do seu vocabulário. Por exemplo: agua, casa, libro, noche, etc.
No entanto, o português e o espanhol também receberam influências de outras línguas ao longo dos séculos, como o árabe, o grego, o germânico, o francês, o italiano e o inglês. Estas línguas contribuíram com palavras novas ou diferentes para cada idioma, criando divergências lexicais entre eles. Por exemplo: alfombra (espanhol) / alcatifa (português), delgado (espanhol) / magro (português), espejo (espanhol) / espelho (português), etc.
Além disso, o português e o espanhol também tiveram contato com línguas nativas das regiões onde se expandiram durante os processos de colonização e descobrimento. Assim, o português incorporou palavras de línguas africanas e ameríndias, como o quimbundo, o quicongo, o tupi-guarani e o quíchua. O espanhol também adotou palavras dessas e de outras línguas indígenas, como o náuatle, o aimará e o guarani. Por exemplo: banana (português) / plátano (espanhol), mandioca (português) / yuca (espanhol), abacaxi (português) / piña (espanhol), etc.
Essas diferenças lexicais entre o português e o espanhol não impedem a comunicação entre os falantes dos dois idiomas, mas sim enriquecem a diversidade linguística e cultural da Península Ibérica e do mundo hispânico-lusófono. Neste artigo, vamos aprofundar um aspecto particular dessa diversidade: as palavras espanholas de origem portuguesa. Estas palavras são chamadas de lusismos ou lusitanismos e são fruto dos intercâmbios históricos entre os dois países e os seus povos. Vamos ver quais são essas palavras e como elas entraram no espanhol.
O que são lusismos?
Lusismos ou lusitanismos são palavras ou expressões de origem portuguesa que foram incorporadas a outro idioma, neste caso o espanhol.
Os lusismos podem ter entrado no espanhol por vários motivos, como a proximidade geográfica, os contatos históricos, culturais e comerciais, ou a influência da literatura e da mídia. Os lusismos podem ser de vários tipos, dependendo do grau de adaptação que sofreram ao passar do português para o espanhol:
- Lusismos integrais: são palavras que se mantêm iguais nos dois idiomas, sem mudar a forma ou o significado, como bandeja, barroco ou caramelo.
- Lusismos parciais: são palavras que sofrem alguma alteração fonética, ortográfica ou semântica ao passar do português para o espanhol, como almeja (ameijoa), carabela (caravela) ou mermelada (marmelada).
- Lusismos adaptados: são palavras que se adaptam à morfologia ou à sintaxe do espanhol, mudando o género, o número, a terminação ou a posição, como buzo (búzio) ou embarazar (embaraçar).
- Lusismos híbridos: são palavras que combinam elementos do português e do espanhol, formando novas palavras que não existem em nenhum dos dois idiomas, como maracuyá (maracujá + y) ou papagayo (papagaio + y).
30 palavras espanholas de origem portuguesa
Agora que já sabemos o que são lusismos, vamos ver 30 exemplos de palavras espanholas que vêm do português.
Algumas delas são muito comuns e outras mais raras, mas todas têm uma história interessante por trás.
- Alecrín: é um tipo de planta aromática da família das labiadas, com folhas verdes e flores azuis ou brancas, usada como condimento ou para fins medicinais. Vem do português alecrim, que por sua vez vem do latim rosmarinus, rosmarini (alecrim), composto de ros (orvalho) e marinus (marinho), pois cresce perto do mar.
- Almeja: é um tipo de molusco com uma concha bivalve e uma carne saborosa. Vem do português ameijoa, que por sua vez vem do latim vulgar amicula, diminutivo de amica (amiga), talvez por causa da forma como se abrem e fecham as conchas.
- Baliza: é um tipo de sinal fixo ou móvel que se coloca para marcar lugares perigosos ou para orientar o tráfego marítimo, aéreo ou terrestre. Vem do português baliza, que por sua vez vem do francês balise (baliza), talvez de origem germânica.
- Bambú: é uma planta da família das gramíneas, com caules lenhosos e ocos, que podem chegar a vários metros de altura. Também se usa para designar a madeira ou o tecido feitos com essa planta. Vem do português bambu, que tem a mesma origem que o espanhol bambú, do malaio bambu.
- Bandeja: é um objeto plano usado para transportar coisas, especialmente comida ou bebida. Vem do português bandeja, que tem a mesma origem que o espanhol bandera (bandeira), do germânico bandwa (sinal).
- Barroco: é um adjetivo que se usa para designar um estilo artístico e cultural que se caracteriza pela complexidade, exuberância e ornamentação. Também se usa para designar algo irregular, extravagante ou confuso. Vem do português barroco, que significa pérola de forma irregular, e que por sua vez vem do francês baroque, talvez de origem italiana ou árabe.
- Barullo: é sinónimo de desordem, confusão ou mistura de coisas ou pessoas de várias classes. Vem do português barulho, que por sua vez vem do latim vulgar barullus, uma onomatopeia para imitar o som de algo que se rompe ou se choca.
- Bengala: é uma vara que se acende em fogo e solta faíscas. Também se usa para designar um bastão usado para apoiar-se ao caminhar. Vem do português bengala, que tem a mesma origem que o espanhol Bengala (Bangladesh), do sânscrito vanga (nome de uma região da Índia), pois era de lá que se importavam as canas usadas para fazer estes objetos.
- Biombo: é um tipo de móvel formado por vários painéis articulados, usados para separar ou decorar ambientes. Vem do português biombo, que por sua vez vem do japonês byōbu (biombo), composto de byō (proteção) e bu (vento), pois servia para proteger do vento.
- Buzo: é uma pessoa que estuda o mundo marinho ou se mergulha nele. Também se usa para designar uma peça de roupa usada para esse fim. Vem do português búzio, que significa concha marinha, e que por sua vez vem do grego bous (boi), talvez pela forma curva dessas conchas.
- Cachalote: é um tipo de baleia com dentes, que pode medir até 20 metros de comprimento e pesar até 50 toneladas. Tem uma cabeça grande e proeminente, onde armazena um óleo chamado espermacete. Vem do português cachalote, que por sua vez vem do francês cachalot, talvez de origem basca.
- Caramelo: é um tipo de doce feito com açúcar derretido e outros ingredientes. Também se usa para designar uma cor amarelada ou acastanhada. Vem do português caramelo, que tem a mesma origem que o espanhol caramelo (carambola), do árabe qarnabîl (nome de uma fruta).
- Carabela: é um tipo de embarcação a vela, usada pelos navegantes portugueses e espanhóis nos séculos XV e XVI. Tinha um casco alongado e estreito, três ou quatro mastros e uma popa elevada. Vem do português caravela, que tem a mesma origem que o espanhol carabela (escaravelho), do latim carabus (besouro), talvez pela forma curva do casco.
- Chamuscar: é queimar superficialmente algo, deixando-o escuro ou tostado. Vem do português chamuscar, que por sua vez vem do latim vulgar calmuscare, derivado de calmus (calor), do grego kálamos (caniço).
- Chato: é um adjetivo que se usa para designar algo que tem pouca altura ou espessura. Também se usa para designar uma pessoa aborrecida ou enfadonha. Vem do português chato, que significa plano ou liso, e que por sua vez vem do latim plattus, platti (chato), do grego plátys (largo).
- Chubasco: é uma chuva forte e repentina, acompanhada de vento e trovões. Vem do português chuva, que por sua vez vem do latim pluvia (chuva).
- Cobra: é um tipo de serpente venenosa, com uma cabeça larga e achatada, que pode erguer-se e expandir o pescoço quando se sente ameaçada. Vem do português cobra, que significa cobra ou serpente, e que por sua vez vem do latim colubra, colubrae (cobra).
- Coco: é um fruto comestível de uma palmeira tropical, com uma casca dura e fibrosa e uma polpa branca e carnuda. Também se usa para designar a cabeça ou o crânio de uma pessoa. Vem do português coco, que significa coco ou cabeça, e que por sua vez vem do latim coccum, cocci (baga vermelha), do grego kókkos (grão).
- Despejar: é esvaziar ou limpar algo de pessoas ou coisas. Também se usa para designar a ação de resolver ou esclarecer algo. Vem do português despejar, que significa tirar o pejo ou o embaraço, e que por sua vez vem do latim expediare (desembaraçar, acelerar).
- Embarazar: é provocar o estado de gravidez ou embarazo de uma mulher. Também se usa para designar a ação de dificultar ou impedir algo. Vem do português embaraçar, que significa enredar, confundir ou atrapalhar, e que por sua vez vem do árabe baraza (colocar obstáculos).
- Enfadar: é um verbo que significa causar aborrecimento, tédio ou irritação a alguém. Também se usa para significar sentir-se aborrecido, tedioso ou irritado. Vem do português enfadar, que por sua vez vem do latim vulgar infatare, derivado de infatuus, infatua (insensato, louco), do latim clássico in (sem) e fatuus, fatua (tolo, insensato).
- Garrafa: é um recipiente de vidro ou plástico, com um gargalo estreito e uma tampa ou rolha, usado para guardar ou transportar líquidos. Vem do português garrafa, que por sua vez vem do árabe gharrâfa (garrafa), do persa girâba (garrafa).
- Jangada: é um tipo de embarcação feita com troncos ou canas amarrados, usada para navegar em rios ou no mar. Vem do português jangada, que por sua vez vem do francês lance (lança), talvez pela forma alongada e pontiaguda desses barcos.
- Lancha: é um tipo de embarcação a motor, de pequeno ou médio porte, usada para navegar em rios ou no mar. Vem do português lancha, que por sua vez vem do francês lance (lança), talvez pela forma alongada e pontiaguda desses barcos.
- Maracuya: é um tipo de fruta comestível de uma planta trepadeira da família das passifloráceas, com uma casca dura e rugosa e uma polpa gelatinosa e ácida. Também se usa para designar a própria planta ou a flor que produz essa fruta. Vem do português maracujá, que por sua vez vem do tupi-guarani mara kuya (fruta que serve), pois era usada pelos indígenas para fins medicinais.
- Mermelada: é uma conserva que se faz com fruta cozida e açúcar. Vem do português marmelada, que significa pasta de marmelo, e que por sua vez vem do latim malomellum, diminutivo de malum (maçã).
- Mimoso: é um adjetivo que se usa para designar algo ou alguém que é carinhoso, delicado ou afetuoso. Também se usa como substantivo para designar uma planta da família das leguminosas, com flores amarelas e folhas sensíveis ao toque. Vem do português mimoso, que significa mimado ou cheio de mimos, e que por sua vez vem do latim mimus, mimi (mimo), do grego mîmos (imitador).
- Miñoca: é um tipo de verme anelídeo, de corpo alongado e segmentado, que vive na terra úmida e se alimenta de matéria orgânica. Também se usa para designar uma pessoa fraca ou insignificante. Vem do português minhoca, que por sua vez vem do latim vulgar lumbricus, lumbrici (lombriga), do latim clássico lumbricus, lumbrici (verme).
- Papagayo: é um tipo de ave psitaciforme, de plumagem colorida e bico curvo, que pode imitar sons humanos. Também se usa para designar um brinquedo feito com papel e varas que se eleva no ar com o vento. Vem do português papagaio, que significa papagaio ou papagaio de papel, e que por sua vez vem do árabe babagha (papagaio), do persa babbagha (papagaio).
- Ventilar: é um verbo que significa fazer circular o ar em um lugar fechado ou abafado. Também se usa para significar expor ou discutir algo em público. Vem do português ventilar, que significa arejar ou agitar o ar, e que por sua vez vem do latim ventilare, ventilavi, ventilatum (abanar, ventilar), derivado de ventus, venti (vento).
Perguntas frequentes
Quantas palavras espanholas têm origem portuguesa?
Não há um número exato, mas estima-se que haja cerca de 500 lusismos no espanhol atual.
Por que há tantas palavras espanholas de origem portuguesa?
Porque o espanhol e o português são línguas irmãs, derivadas do latim, e porque houve muitos contatos históricos, culturais e comerciais entre os dois países e os seus territórios.
Como se reconhece uma palavra espanhola de origem portuguesa?
Não há uma regra infalível, mas há alguns indícios que podem ajudar, como a presença de sons ou letras que não são comuns no espanhol, como o jota (j), o til (~) ou o dígrafo lh. Também se pode recorrer a dicionários etimológicos ou comparar as palavras com as suas equivalentes em português.