Hoje são sinónimo de beleza arquitetónica e são apreciados por turistas e pela população local, mas noutros tempos eram vistos como construções fortificadas que serviam de residência real ou feudal. Com mais ou menos peripécias ou percalços, chegaram intactos aos nossos dias e hoje servem, sobretudo, para contar histórias e avivar memórias.
Portugal é um país de castelos, e em cada recanto podemos encontrar algumas construções de cariz militar que foram edificadas para defender as nossas fronteiras contra os espanhóis e mouros, autênticos pedaços de história viva que nos relembram o nosso passado.
Assim, decidimos contar-lhe a história de 5 castelos portugueses que são muito reconhecidos a nível nacional e internacional. Tratam-se de alguns dos mais importantes e famosos castelos de Portugal e são visitados por milhares de turistas todos os anos.
1. Castelo de Guimarães
Este Monumento Nacional é reconhecido pelos episódios históricos, que acabaram por dar origem à nação portuguesa. Mas já lá vamos. No século X, a condessa Mumadona Dias, tia do rei Ramiro II de Leão, ordenou que se erguesse na pequena vila de Vimaranes um mosteiro. A construção servia para proteger monges e freiras dos normandos, povos oriundos do norte da Europa.
Pouco tempo depois, e de maneira a proteger o edifício que abrigava as ordens religiosas, a condessa decide erguer um castelo, e, dessa forma, Vimaranes vai-se desenvolvendo e crescendo à volta do mosteiro e da fortificação.
O Condado Portucalense, que tinha sido fundado no século IX, esteve um pouco apagado durante algumas décadas, reemergindo mais tarde pela mão do conde D. Henrique e da sua esposa, D. Teresa de Leão.
O condado abrangia as zonas do Minho e do Alto Douro, nas quais se incluía Vimaranes, e foi um presente do rei de Castela e Leão aquando do casamento da sua filha Teresa com o conde, no século XI. Estes nobres decidiram instalar-se em Vimaranes e continuar o trabalho da condessa Mumadona Dias, expandindo as estruturas defensivas do castelo e a vila.
Deste casamento nasceu D. Afonso Henriques, que viria a ser o nosso primeiro rei. Após a morte do marido, D. Teresa ficou responsável pela governação do território, já que o seu filho era ainda muito novo. Diz-se que, durante esse tempo, favoreceu interesses espanhóis e negligenciou o desejo de independência do povo do seu condado.
Como resposta, D. Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro, com apenas 14 anos, e decide reivindicar aquilo que era seu por direito. A sua fação e a da mãe batalharam-se perto de Guimarães, na famosa batalha de São Mamede, e da qual Afonso Henriques saiu vitorioso.
A partir daqui, D. Afonso Henriques toma as rédeas do território, expandindo-o e alcançando a independência do Reino de Portugal. Assim, depois de todos estes séculos, o castelo de Guimarães é ainda um símbolo histórico da nossa nacionalidade.
2. Castelo de Almourol
Este edifício é um dos mais singulares do país, encontrando-se numa ilha rodeada de pedras, no curso médio do Tejo. Não se sabe com precisão as origens da ocupação do local, mas sabemos que os muçulmanos conquistaram a ilha aos visigodos, durante o século VIII Depois disso, na altura em que os cristãos conquistaram a Península Ibérica, D. Afonso Henriques entregou o castelo à Ordem dos Templários.
O castelo já existia, mas tinha um aspeto e nome diferentes: era na altura conhecido como Almorolan. Os Templários converteram o momento numa fortaleza, que visava defender a antiga capital do Reino, Coimbra. Apesar do castelo ter sido reconstruído, muitas das suas caraterísticas originais foram preservadas e continuam visíveis até hoje. Através de uma epígrafe que se encontra sobre a porta principal do edifício, sabemos que a conclusão das obras se deu em 1171.
Com a extinção da Ordem dos Templários, e afastada a conjuntura reconquistadora que justificava a sua utilização, este castelo passou por um período de esquecimento e abandono. Foi no século XIX, altura em que se procurava revalorizar a Idade Média, que o monumento foi reinventado à luz dos padrões românticos da medievalidade.
Assim, muitas estruturas primitivas foram sacrificadas em benefício de uma ideologia que tinha por objetivo transformar edifícios medievais em verdadeiras obras-primas sem precedentes da sua herança patrimonial.
Durante o século XX foi escolhido para ser uma residência oficial da República, e aqui se realizaram alguns eventos durante o Estado Novo. No entanto, o castelo nunca mais foi habitado. Hoje, para o visitar, tem de o fazer de barco, a partir do cais de Tancos. Este castelo encontra-se também associado a muitas lendas, como a que diz que, no século XII, o senhor do castelo se chamava Almorolon, o que deu origem ao seu nome.
Segundo conta a história, este senhor árabe era pai de uma filha formosíssima, que se apaixonou por um cavaleiro cristão. Com a paixão, a jovem apaixonada revelou ao amado como podia entrar à socapa no castelo, mas a essas incursões amorosas seguiu-se uma emboscada, protagonizada por outros cavaleiros cristãos que tinham seguido o companheiro.
Foi assim que o castelo de Almourol foi conquistado aos mouros. A história não acaba bem, com os dois apaixonados a atirarem-se ao rio, preferindo a morte ao cativeiro que resultava de tão vil derrota.
3. Castelo de Santa Maria da Feira
Encontra-se na cidade e concelho que lhe tomaram o nome, é considerado um dos exemplos mais completos da arquitetura medieval portuguesa. A ocupação do local remonta à pré-história, mas este ganhou maior relevância na altura em que os lusitanos decidiram erguer um templo em honra de Bandeve-Lugo Tueræus. Mais tarde, durante o período da Reconquista Cristã, realizava-se aqui uma grande feira regional, e graças à magnitude desse evento, o nome da atual cidade passou a ser Feira.
Para além de espelhar os diversos recursos defensivos que se utilizavam entre os séculos XI e XVI, este castelo teve uma grande importância político-cultural. Foi graças ao alcaide deste castelo, Pêro Gonçalves de Marnel, que a batalha de São Mamede foi vencida tão rapidamente, tendo este ajudado o nosso primeiro rei no processo de reconquista e autonomia do Condado Portucalense, assegurando-lhe força militar.
Anos mais tarde, o filho de D. Afonso Henriques e seu sucessor, D. Sancho I, redigiu um documento real em que oficializava este castelo como um dos locais eleitos como eventual refúgio da rainha de Portugal – caso ficasse viúva – e das infantas.
As grandes obras que definem o caráter arquitetónico que hoje podemos ver datam de finais do século XV. Ao longo do tempo, tanto na posse da coroa ou de particulares, este castelo foi sofrendo obras de renovação e de conservação, embora nunca tenha perdido o seu carácter medieval. No século XVIII sofreu um violento incêndio, que marcou o início do seu declínio e ruína. Já no século XX, criou-se a Comissão de Proteção e Conservação do Castelo, e iniciou-se a sua reabilitação, que foi continuada até 2006.
Se é um adepto de festas icónicas, saiba que, todos os anos, a cidade viaja literalmente no tempo, e durante 12 dias, no mês de agosto, celebra a Viagem Medieval, um evento que recria momentos históricos de Portugal. Nas ruas pode encontrar reis e rainhas, bruxas, almocreves e outras personagens que nos ajudam a viajar para o passado, sendo que todos os anos se elege uma época história e se segue à risca o desenvolvimento da mesma.
4. Castelo de Óbidos
Pensa-se que Óbidos tenha sido edificado pelos celtas no ano 308 a. C. Ao longo do tempo, os fenícios tentaram dominar o local, mas a tentativa falhou graças à resistência militar dos celtas, embora estes tenham acabado por ceder mais tarde perante os romanos.
Estes conquistaram a terra e consideraram-na de primeira ordem, graças à sua localização geográfica perto do mar, o que facilitava o comércio marítimo. Diz-se que o nome Óbidos descende da denominação romana Oppidium, que significa vila fortificada.
Com o declínio do Império Romano, diversos povos invadiram Portugal, como os suevos, godos e alanos, após os quais se sucederam as invasões árabes. Tal como aconteceu com a maioria do território português, Óbidos passou a ser administrada pelos mouros, que continuaram a fortificar o local e aqui permaneceram de 711 a 1148.
Após a conquista de Lisboa, D. Afonso Henriques decide reivindicar Óbidos, que foi conquistado devido a uma estratégia inteligente usada pelos portugueses. O castelo era conhecido por ser impenetrável, e por isso foi necessário delinear uma estratégia que facilitasse a entrada dos portugueses.
Portanto, conta-se que, durante a noite, um grupo de cavaleiros lusitanos tentou invadir o local pela parte nascente, e os restantes militares chamaram a atenção dos árabes na parte poente, na porta do castelo, que era conhecida como a Porta da Vila.
Os cavaleiros que procuravam entrar à socapa iam camuflados com arbustos e moitas, mas foram descobertos para filha do governador do local. O alcaide, ao ser informada da tentativa de invasão, pensou que tinha sido traído por alguém, e gritou as palavras “Traição, traição!”, o que fez com que a tal Porta da Vila passasse a ser conhecida como a Porta da Traição. A batalha foi renhida, mas Óbidos foi conquistada, e assim o castelo e a vila envolvente passaram a ser geridos pelos portugueses.
Assim, o castelo de Óbidos ficou nas mãos da Coroa Nacional durante anos. No reinado de D. Dinis, no século XIII, o local foi oferecido a D. Isabel de Aragão, a sua esposa, e passou então a pertencer à Casa das Rainhas. Ao longo de várias dinastias, as rainhas portuguesas foram beneficiando e enriquecendo esta terra.
Como Óbidos se encontra muito perto de Lisboa e debruçada sobre o mar, o terramoto de 1755 desgastou o edifício de forma significativa. O local foi restaurado, mas muitos dos traços árabes e medievais ainda são visíveis.
5. Castelo de São Jorge
Este castelo encontra-se numa posição dominante, na mais alta colina do centro histórico de Lisboa, proporcionando vistas deslumbrantes sobre a cidade e o Tejo. Encontra-se na zona nobre da antiga cidadela medieval, zona essa constituída pelo castelo, pelos vestígios do antigo Paço Real e por uma área residencial que era exclusiva para as elites.
A construção do castelo foi supervisionada pelos mouros, que mantiveram a sua alçada até 1147, ano em que D. Afonso Henriques se apoderou de Lisboa. Nessa altura, o edifício de origem árabe foi adaptado e ampliado para acolher o rei, a corte e o bispo, tendo servido também de arquivo real.
Foi transformado em Paço Real no século XIII, e, por isso, foi o local eleito para receber as mais ilustres personagens nacionais e estrangeiras. Foi também palco de festas luxuosas e assistiu à aclamação dos reis portugueses durante os séculos XIV, XV e XVI. Ganhou o nome de Castelo de São Jorge por ordem de D. João I, Mestre de Avis, durante o século XIV, que procurava homenagear o santo padroeiro dos cavaleiros e das cruzadas.
O seu aspeto medieval foi-se perdendo ao longo do tempo e, após o terramoto de 1755 , ficou parcialmente destruído. O espaço foi reconstruído, escondendo algumas das ruínas mais antigas que compunham o seu ADN. Durante o período do Estado Novo, o edifício sofreu ainda mais reparos e foi reconstruído, não se respeitando quase nada da traça original da antiga fortaleza.
Assim, de 1938 a 1940, o tecido urbano envolvente foi modificado a uma grande escala, tendo sido demolidos diversos edifícios do quartel e tendo sido reaproveitados alguns vestígios de construções anteriores.
No meio das demolições, estima-se que se tenha tirado um total de entulho de 120.000 m³, com as escavações a atingir em alguns casos a profundidade 8 metros. As obras de reconstrução foram tão densas que muitos historiadores dizem que o Castelo de São Jorge deixou de ser uma construção com séculos para passar a ser um edifício com cerca de 80 anos.
É durante esta reconstrução que se encontram os vestígios do antigo Paço Real. Em finais do século XX, as investigações arqueológicas promovidas em várias zonas do edifício ajudaram a repescar algumas antiguidades, o que fundamentou a classificação do castelo como Monumento Nacional. Estas marcas do passado são agora dadas a conhecer na Exposição Permanente, localizada no Sítio Arqueológico.
E o Castelo de Santarém? Depois da tamada de Óbidos foi fundamental para a tomada de Santarém para depois conquistar Lisboa. Só com a conquista de Santarém foi possível avançar para Lisboa porque toda a atual região do Oeste (Óbidos) era pretencente a Santarém.