A Língua Portuguesa é uma das mais faladas do mundo, com mais de 250 milhões de falantes. É também uma língua muito rica e diversa, que resulta de séculos de influências de outras línguas e culturas. Mas sabia que há muitas palavras que já foram usadas pelos nossos antepassados e que hoje estão esquecidas?
Palavras que faziam parte do vocabulário quotidiano de outras épocas, mas que foram substituídas por outras mais modernas ou adequadas ao contexto atual. Palavras que revelam um pouco da nossa história, da nossa cultura e da nossa identidade. Neste artigo, vamos apresentar 50 palavras antigas da Língua Portuguesa que caíram em desuso.
Algumas delas podem parecer estranhas ou engraçadas, outras podem soar familiares ou até fazer parte do vocabulário. O que todas têm em comum é que já foram muito usadas pelos nossos avós ou bisavós, mas que agora são raras ou inexistentes na linguagem culta. Vamos então conhecer estas palavras e os seus significados, e tentar perceber porque é que elas deixaram de ser usadas.
50 palavras antigas da Língua Portuguesa que caíram em desuso
Aqui está a lista das 50 palavras antigas da Língua Portuguesa que selecionámos para este artigo. Para cada uma delas, vamos indicar o seu significado e um exemplo de uso. Vamos também referir a origem ou a etimologia da palavra, sempre que possível.
- Absolto: Sinónimo de absolvido. Significa perdoado ou isento de culpa. Exemplo: O réu foi absolto por falta de provas. Origem: Do latim absolutus, particípio passado de absolvere, que significa libertar ou desligar.
- Acartado: Indicava um profissional diplomado. Significa habilitado ou qualificado. Exemplo: O médico era acartado pela universidade de Coimbra. Origem: Do latim accreditare, que significa acreditar ou confiar.
- Aguça: Sinónimo de pressa. Significa urgência ou aflição. Exemplo: Ele saiu com tanta aguça que nem se despediu. Origem: Do latim acutia, que significa agudeza ou acuidade.
- Anóveas: Indicava um valor nove vezes superior. Significa novena ou nono. Exemplo: Ele teve que pagar anóveas pelo roubo que cometeu. Origem: Do latim annona, que significa ano ou colheita.
- Asinha: Sinónimo de depressa. Significa rapidamente ou logo. Exemplo: Anda asinha, senão chegamos atrasados. Origem: Do latim asinus, que significa asno ou burro.
- Assento: Sinónimo de habitação. Significa morada ou domicílio. Exemplo: O seu assento era numa aldeia do interior. Origem: Do latim assidere, que significa sentar-se ou fixar-se.
- Assunar: Sinónimo de amotinar. Significa revoltar-se ou rebelar-se. Exemplo: Os presos assunaram-se contra os guardas. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o verbo assumir.
- Botica: Sinónimo de farmácia. Significa loja onde se vendem medicamentos ou drogaria. Exemplo: Ele foi à botica comprar uns remédios para a dor de cabeça. Origem: Do grego apothéke, que significa armazém ou depósito.
- Brunir: Passar ou dar ao ferro. Significa alisar ou polir. Exemplo: Ela gostava de brunir as roupas antes de as guardar. Origem: Do francês brunir, que significa tornar brilhante ou escuro.
- Cagalhota: Mulher de baixa estatura e pescoço curto. Significa anã ou corcunda. Exemplo: A cagalhota era a atração do circo ambulante. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o verbo cagar ou com o substantivo galhota.
- Carisma: Antigo sinónimo de epilepsia. Significa doença nervosa caracterizada por convulsões ou ataques. Exemplo: O rapaz sofria de carisma desde criança. Origem: Do grego kharisma, que significa graça ou dom.
- Coitar: Sinónimo de machucar. Significa ferir ou magoar. Exemplo: Ele coitou-se todo na queda da bicicleta. Origem: Do latim coactare, que significa forçar ou constranger.
- Comprir: Sinónimo de cumprir. Significa realizar ou executar. Exemplo: Ele prometeu que ia comprir a sua palavra. Origem: Do latim complere, que significa encher ou completar.
- Dada: Sinónimo de doação. Significa oferta ou presente. Exemplo: Ele recebeu uma dada generosa do seu padrinho. Origem: Do latim data, particípio passado de dare, que significa dar.
- Depós: Sinónimo de após. Significa depois ou em seguida. Exemplo: Depós do almoço, ele foi dormir uma sesta. Origem: Do latim de post, que significa de trás ou de depois.
- Embora: Sinónimo de em boa hora. Significa oportunamente ou felizmente. Exemplo: Embora chegou o médico para socorrer o ferido. Origem: Do latim in bonam horam, que significa na boa hora.
- Escala: Antigo sinónimo de escada. Significa degraus ou escadaria. Exemplo: Ele subiu a escala com dificuldade. Origem: Do latim scala, que significa escada ou escadaria.
- Franquia: Antigo sinónimo de sinceridade. Significa honestidade ou lealdade. Exemplo: Ele falou com franquia sobre os seus sentimentos. Origem: Do francês franchise, que significa franqueza ou liberdade.
- Graveza: Sinónimo de gravidade. Significa seriedade ou importância. Exemplo: Ele não percebeu a graveza da situação. Origem: Do latim gravitas, que significa peso ou solenidade.
- Jondra: Sostra. Rapariga pouco limpa e asseada. Significa porca ou suja. Exemplo: A jondra andava sempre com as roupas rotas e sujas. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o substantivo junta ou com o adjetivo jondo (profundo em espanhol).
- Jorna: Dia de trabalho, “trabalhar à jorna”. Significa jornada ou salário diário. Exemplo: Ele ganhava uma jorna miserável pelo seu trabalho duro. Origem: Do latim diurna, que significa diária ou cotidiana.
- Ladroa: Sinónimo de ladra. Significa mulher que rouba ou furta. Exemplo: A ladroa foi apanhada em flagrante pela polícia. Origem: Do latim latrona, que significa ladra ou salteadora.
- Lambisgoia: Pessoa intrometida quem se intromete em assuntos que não lhe dizem respeito ou vive a fazer mexericos. Significa bisbilhoteira ou coscuvilheira. Exemplo: A lambisgoia estava sempre a meter-se na vida dos vizinhos. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o substantivo lambisgóia (espécie de peixe) ou com o adjetivo lambisgoio (que lambe muito).
- Lanfranhudo: Carrancudo, homem feio e mal humorado. Significa zangado ou rabugento. Exemplo: O lanfranhudo nunca sorria nem cumprimentava ninguém. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o substantivo lanfranho (ferida ou cicatriz) ou com o adjetivo lanfranho (que tem lanfranhos).
- Malota: Corcunda. Significa mulher que tem uma curvatura anormal na coluna vertebral. Exemplo: A malota vivia isolada e era alvo de gozo das crianças. Origem: Do francês malotte, que significa corcunda ou bossa.
- Patego: Parolo, lorpa. Significa pessoa ingénua, simplória ou tola. Exemplo: O patego deixou-se enganar pelo vendedor ambulante. Origem: Do latim patricius, que significa patrício ou nobre.
- Pera: Sinónimo de para. Significa preposição que indica finalidade, destino ou direção. Exemplo: Ele comprou um presente pera a namorada. Origem: Do latim per ad, que significa por para ou para junto de.
- Pertinência: Antigo sinónimo de pertença. Significa propriedade, posse ou domínio. Exemplo: Ele reclamou a pertinência dos seus bens. Origem: Do latim pertinentia, que significa pertença ou relação.
- Polo: Sinónimo de pelo. Significa cabelo, penugem ou lanugem. Exemplo: Ele tinha o polo muito comprido e encaracolado. Origem: Do latim pilus, que significa pelo ou cabelo.
- Remelado: Com sintomas de conjuntivite bacteriana ou disfunção lacrimal. Significa que tem remela nos olhos ou que está com os olhos inflamados. Exemplo: Ele acordou remelado e foi ao médico. Origem: Do latim remellus, que significa remela ou sujidade nos olhos.
- Safanão: É o ato de puxar o braço de uma pessoa para dar um raspanete. Significa repreensão, castigo ou lição. Exemplo: Ele levou um safanão do pai por ter mentido. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o verbo safar ou com o substantivo safão (tapa ou bofetada).
- Sirigaita: Sirigaita é uma das piores ofensas que uma moça do século passado poderia ouvir. Ao chamar uma mulher de sirigaita, uma pessoa queria dizer que ela era mal-educada e tinha atitudes constrangedoras. Significa atrevida, insolente ou desavergonhada. Exemplo: A sirigaita andava sempre a provocar os rapazes da aldeia. Origem: De origem incerta, talvez relacionada com o substantivo siri (espécie de caranguejo) ou com o adjetivo gaita (que tem gaita ou graça).
- Tabefe: Tapa, bofetada, sopapo. Significa golpe dado com a mão aberta na face de alguém. Exemplo: Ele deu-lhe um tabefe por ter sido malcriado. Origem: Do árabe tabbaḫa, que significa bater ou esbofetear.
- Vitrola: Aparelho antigo que reproduz discos de vinil. Significa fonógrafo, gramofone ou gira-discos. Exemplo: Ele tinha uma coleção de discos antigos que ouvia na vitrola. Origem: Do inglês victrola, marca registada de um tipo de fonógrafo.
- Zoar: Fazer barulho, algazarra ou gritaria. Significa perturbar, incomodar ou importunar. Exemplo: Os miúdos não paravam de zoar na sala de aula. Origem: Do latim sonare, que significa soar ou ressoar.
Por que é que estas palavras caíram em desuso?
Como vimos, estas palavras antigas da Língua Portuguesa já foram muito usadas em tempos passados, mas hoje são raras ou inexistentes na linguagem culta. Mas por que é que isso aconteceu? Quais foram os fatores que levaram a que estas palavras deixassem de ser usadas?
Há várias razões possíveis para explicar este fenómeno, mas podemos destacar algumas das mais importantes:
A evolução da língua
A língua portuguesa está em constante mudança e adaptação às novas realidades e necessidades dos seus falantes. Com o passar do tempo, algumas palavras podem perder o seu sentido original ou tornar-se obsoletas, sendo substituídas por outras mais adequadas ou modernas. Por exemplo, a palavra vitrola foi substituída por gira-discos, depois por leitor de CD e agora por leitor de MP3.
A influência de outras línguas
A língua portuguesa recebeu ao longo da sua história muitas influências de outras línguas e culturas, como o latim, o árabe, o francês, o inglês, etc. Essas influências podem levar à introdução de novas palavras ou à alteração do significado ou da forma de algumas palavras já existentes.
Por exemplo, a palavra franquia passou a ter o sentido de isenção de pagamento ou participação num negócio, por influência do francês franchise.
A variação regional e social
A língua portuguesa apresenta uma grande diversidade regional e social, que se reflete nas diferentes formas de falar e escrever dos seus falantes. Algumas palavras podem ser mais usadas em certas regiões ou grupos sociais do que em outros, podendo até ter significados diferentes.
Por exemplo, a palavra jorna pode ser usada no norte de Portugal para indicar o salário diário, mas no sul pode significar a refeição do meio-dia.
A norma culta e o ensino da língua
A língua portuguesa tem uma norma culta que é definida pelos gramáticos e pelos dicionários, e que é ensinada nas escolas e nos meios de comunicação.
Essa norma culta pode excluir ou desaconselhar o uso de algumas palavras consideradas arcaicas, erradas ou vulgares, favorecendo outras mais prestigiadas ou corretas. Por exemplo, a palavra pera foi substituída por para, por ser considerada uma forma antiga ou popular.