Todos sabemos que, na língua portuguesa, há uma expressão ou provérbio adequados a qualquer situação que surja nas nossas vidas. Todas as expressões fazem sentido porque os nossos ouvidos estão habituados a elas há anos e anos mas façamos um pequeno exercício: coloquemo-nos no lugar de um estrangeiro que está a aprender português e que, como qualquer pessoa que está a aprender uma língua nova, procura traduzir tudo o que ouve à letra.
São capazes de imaginar o que lhes passa pela cabeça ao ouvir/ler as expressões que temos como típicas? Não? É precisamente por isso que fizemos esse exercício com as oito expressões icónicas que se seguem.
1. Passar pelas brasas
Passar pelas brasas, no sentido literal, não quer dizer mais do que passar por um local onde estão pedaços de carvão ou madeira que já arderam mas ainda não se tornaram cinza e que, por isso mesmo, estão impecáveis para grelhar um bom naco de carne. De alguma maneira, nós conseguimos dar a volta a estas palavras e transformá-las numa forma de dizer que dormimos um bocado.
2. Muitos anos a virar frangos
Sabem quem é que passa muitos anos a virar frangos? Quem passa muitos anos a trabalhar naqueles sítios de venda de comida para fora onde a maioria do que as pessoas compram é frango. Isso ou alguém que coma frango assado em casa todos os dias há anos. Sabem quem é que usa esta expressão não fazendo parte de nenhum dos grupos acima mencionados referindo-se simplesmente ao facto de ser experiente noutra coisa qualquer? Toda a gente.
3. Apanhar ar
Já experimentaram ir à rua quando estão a sentir-se mal com um saco e meter ar lá para dentro? Não. Sabem porquê? Porque não faz sentido a menos que vivam em Fátima e pretendam fazer disso um negócio.
4. Bater as botas
Bater as botas é uma frase que devia ser usada apenas para nos referirmos a sapateiros. Curiosamente é usada para tudo menos para nos referirmos a um sapateiro. A menos que o sapateiro tenha falecido, claro.
5. Procurar uma agulha num palheiro
Vamos parar uns minutos para pensar na origem desta expressão. Alguém perdeu uma agulha num palheiro? Se sim, porque é que foi para lá com ela? Posto isto, alguém foi procurá-la? Se sim, isto faz-nos questionar a sanidade mental da pessoa que pensou para consigo “olha, sim senhor, isto agora passa-se aqui bem uma tarde a procurar uma agulha no meio de montes de palha”.
6. Encher chouriços
Alguma vez tiveram o prazer de ver um jogo de futebol na Choupana (o estádio do Nacional da Madeira)? Na maioria das vezes há um nevoeiro que se prolonga muito depois da hora de início dos jogos. O que é que um comentador de televisão faz nesse período? Enche chouriços de forma figurada mas, tendo em conta a conversa sobre condições meteorológicas que ninguém quer ouvir, seria mais interessante se o fizesse de forma literal.
7. Barriga a dar horas
Há duas coisas que só existem em Portugal: a palavra saudade e as barrigas que dão horas. Se isto funcionasse realmente assim, as indústrias relojoeiras estavam acabadas no nosso país.
8. Chorar sobre leite derramado
Imaginem-se a tomar o pequeno-almoço às 7 da manhã quando ainda nenhum supermercado está aberto. Colocam os cereais numa taça e começam a derramar sobre eles o leite (como deve ser feito). Notam que falta muito pouco para acabar o pacote de leite que é o último que têm em casa. Têm uma espécie de espasmo na mão e o resto do leite cai no chão em vez de cair dentro da taça. Vão ter de comer metade dos cereais sem qualquer tipo de líquido. É aqui que se chora sobre leite derramado, certo?
To cry over spilt milk and to search for a needle In a haystack are used in other languages with the same meaning as they do in Portuguese. Am just curious to know why they are considered to be unique to Portuguese.