Se é apreciador de arquitetura, história e natureza, não pode deixar de visitar o Aqueduto dos Pegões, um dos monumentos mais impressionantes de Portugal. Situado perto da cidade de Tomar, na região Centro, este aqueduto foi construído entre os séculos XVI e XVII para transportar água das nascentes dos Pegões até ao Convento de Cristo, uma das mais importantes obras do Renascimento em Portugal e Património Mundial da UNESCO.
O Aqueduto dos Pegões faz parte do conjunto arquitetónico do Convento de Cristo, fundado em 1160 pelos cavaleiros da Ordem do Templo, uma ordem militar-religiosa que teve um papel fundamental na Reconquista Cristã da Península Ibérica. O convento foi a sede dos templários em Portugal até 1314, quando a ordem foi extinta pelo papa Clemente V.
Contudo, o rei D. Dinis conseguiu criar uma nova ordem com os mesmos privilégios e bens dos templários: a Ordem de Cristo. Esta ordem teve um papel decisivo nos Descobrimentos Portugueses, apoiando as viagens marítimas que levaram à expansão do império português. Um dos seus governadores mais famosos foi o Infante D. Henrique, o Navegador.
No século XVI, durante o reinado de D. Manuel I, o convento sofreu grandes obras de ampliação e renovação, que lhe deram o aspeto atual. Foi nessa época que se construiu a famosa janela manuelina da Sala do Capítulo, um dos símbolos da arte portuguesa, que representa elementos alusivos aos Descobrimentos, como a esfera armilar, a cruz da Ordem de Cristo, as armas reais e motivos vegetais e marinhos.
Foi também nessa época que se iniciou a construção do Aqueduto dos Pegões, com o objetivo de melhorar o abastecimento de água do convento. O aqueduto foi encomendado pelo rei Filipe I, após a união dinástica entre Portugal e Espanha em 1580. O rei quis demonstrar o seu apoio à Ordem de Cristo e ao convento, que era um dos mais prestigiados do país.
O aqueduto foi projetado pelo arquiteto Filipe Terzi, de origem italiana, que também trabalhou no Convento de Cristo e em outros monumentos importantes em Portugal e Espanha. A obra demorou cerca de 30 anos a ser concluída, entre 1593 e 1622. O aqueduto utilizava quatro nascentes situadas nos arredores da cidade de Tomar, no lugar dos Pegões, daí o seu nome.
Foi usado até ao século XIX, quando foi substituído por um sistema mais moderno de canalização de água. No entanto, nunca perdeu o seu valor histórico e artístico, sendo considerado um dos maiores e mais imponentes aquedutos portugueses. Em 1983, foi classificado como Monumento Nacional e integrado no Património Mundial da UNESCO, juntamente com o Convento de Cristo.
O Aqueduto dos Pegões impressiona pela sua dimensão, beleza e harmonia com a paisagem. Com cerca de seis quilómetros de extensão, desde as nascentes dos Pegões até ao Convento de Cristo, atravessa vales, colinas e estradas, adaptando-se ao relevo do terreno.
É composto por 180 arcos de diferentes tamanhos e formas, que sustentam a conduta por onde passava a água. Os arcos são feitos de pedra calcária extraída das pedreiras locais. O aqueduto tem duas partes distintas: uma subterrânea e outra elevada.
A parte subterrânea corresponde à maior parte do traçado, cerca de quatro quilómetros. Nesta parte, o aqueduto segue por baixo da terra ou à superfície do solo, sem arcos visíveis. Apenas se podem ver algumas aberturas ou respiradouros que serviam para arejar e limpar a conduta.
A parte elevada, com cerca de dois quilómetros, é a mais espetacular do aqueduto. Nesta parte, atravessa o vale da Ribeira dos Pegões, sobre uma série de arcos que formam uma estrutura monumental. Esta secção tem duas partes: uma com arcaria simples e outra com arcaria dupla.
A secção com arcaria simples tem cerca de um quilómetro e meio de extensão e 58 arcos redondos ou ogivais. A secção com arcaria dupla, com cerca de meio quilómetro de extensão, tem 122 arcos sobrepostos: os inferiores são ogivais e os superiores são redondos. Esta parte vence o desnível mais acentuado do terreno e atinge a altura máxima de 30 metros. É aqui que se encontram os famosos “Pegões Altos”, onde se pode caminhar pela conduta ou pela base dos arcos.
O aqueduto tem ainda alguns elementos complementares que merecem destaque:
- Casas das mães-d’água: pequenas construções quadrangulares ou circulares que protegem as nascentes dos Pegões e regulam o fluxo da água. Algumas têm uma decoração simples, com pináculos e brasões reais, outras têm uma decoração mais elaborada, com nichos e esculturas de santos.
- Pontes: estruturas que permitem ao aqueduto atravessar estradas ou cursos de água. Algumas têm um arco único, outras têm vários arcos. Uma das pontes mais notáveis é a que atravessa a estrada nacional 110, junto à entrada de Tomar, com cinco arcos ogivais e um brasão real no centro.
- Tanques: reservatórios que armazenam a água que chega ao convento. O maior e mais antigo é o Tanque Grande, de forma retangular e com capacidade de 600 mil litros. O mais recente é o Tanque Novo, de forma circular e com capacidade de 300 mil litros. Ambos estão situados no interior do convento, junto à Portaria Nova.