Reis, princesas, mouras encantadas, castelos amaldiçoados, animais míticos, romanos… há um pouco de tudo no imaginário da cultura portuguesa. Algumas lendas têm algum fundo de verdade, outras são pura fantasia… e há quem diga que outras são mesmo baseadas em acontecimentos verídicos. As lendas são uma das mais fantásticas e genuínas tradições portuguesas.
Não sabemos se é verdade, mas sabemos que estas histórias perduraram no tempo, passadas de boca em boca, de geração em geração. Descubra 8 lendas de Portugal.
1. Lenda da Lagoa das Sete Cidades
Conta a lenda que há muitos, muitos anos, no lugar onde hoje fica a freguesia das Sete Cidades, existia um grande reino onde vivia uma jovem princesa de olhos azuis, muito bela e bondosa.
A princesa gostava muito da vida no campo e uma das suas actividades favoritas era passear pelos campos, sentindo o cheiro das flores, molhando os pés nas ribeiras ou apenas apreciando a beleza dos montes e vales que rodeavam o reino.
Um dia, durante um dos seus longos passeios, a jovem princesa passou por um prado onde pastava um rebanho. Ali perto, tomando conta do seu rebanho, estava um simpático pastor de olhos verdes, com quem a princesa decidiu conversar.
A princesa e o pastor falaram muito. Falaram dos animais, das flores, do tempo e de todas as coisas simples e belas que os rodeavam. Depois deste dia, os dois passaram a encontrar-se todos os dias para conversar.
Os dias e as semanas foram passando, e a princesa e o pastor encontravam-se todos os dias no mesmo lugar onde se tinham conhecido. Com o passar do tempo foram-se apaixonando e acabaram por trocar juras de amor eterno.
Mas a notícia dos encontros da princesa com o pastor acabaram por chegar aos ouvidos do rei, que não ficou nada satisfeito. Queria ver a sua filha casada com um príncipe de um dos reinos vizinhos e, por isso, proibiu-a de voltar a ver o pastor.
Por respeito ao pai, a princesa aceitou esta cruel decisão, mas pediu-lhe que a deixasse ir mais uma vez ao encontro do pastor para se poder despedir dele. Sensibilizado, o rei disse-lhe que sim.
A princesa e o pastor encontraram-se pela última vez nos verdes campos onde se conheceram… Mais uma vez, passaram o tempo a falar longamente sobre o seu amor e igualmente sobre a sua separação.
Enquanto conversavam choravam também. E choravam tanto que as lágrimas dos olhos azuis da princesa correram pelo vale e formaram a lagoa azul; já as lágrimas dos olhos verdes do pastor caíram com tanta intensidade que formaram a lagoa de água verde.
Por fim, os dois amados despediram-se e as lágrimas choradas pela sua separação formaram duas lagoas que ficaram para sempre juntas – tal como os dois enamorados, nunca se poderiam unir, mas também nunca se iriam separar.
Uma é a Lagoa Azul, a outra é a Lagoa Verde: são chamadas de “Lagoas das Sete Cidades”. Nos dias de sol mais brilhantes, as cores das duas lagoas são tão intensas que quase se consegue imaginar o olhar apaixonado do pastor dirigido para a sua princesa.
2. Lenda da Bezerra de Monsanto
Reza a lenda que no tempo dos Romanos, a aldeia de Monsanto (hoje pertencente ao concelho de Idanha-a-Nova) viu-se cercada durante vários dias pelas tropas romanas. Os romanos, em vez de atacar a aldeia, esperavam pacientemente que o povo de Monsanto se rendesse devido à fome já que, estando cercados, não podiam deslocar-se aos terrenos para buscar mantimentos.
O povo de Monsanto estava desesperado mas resistia com heroicidade. O tempo ia passando e chegou a altura em que apenas havia uma bezerra para comer. Com o povo desesperado e a pensar na rendição, o chefe lusitano da aldeia teve uma ideia: deu de comer à última bezerra até que esta ficasse o mais gorda possível.
Em seguida, deslocou-se ao alto do castelo e disse aos romanos: “Ofereço-vos esta bezerra que nos sobrou do banquete da última noite porque sei que vocês devem estar cheios de fome e cansados de esperar pela nossa rendição. Trarei uma nova bezerra todos os dias para vos oferecer”.
O chefe romano, incrédulo, pensou que afinal os lusitanos ainda teriam muito alimento e que não valeria a pena atacá-los e portanto levantou tropas e foi-se embora.
Este episódio ainda se celebra hoje em dia em Monsanto, em que os seus habitantes lançam cantâros desde o alto da torre relembrando assim o feito do antigo chefe lusitano da aldeia.
3. Lenda do Galo de Barcelos
A curiosa lenda do galo está associada ao cruzeiro medieval que faz parte do espólio do Museu Arqueológico da cidade. Segundo esta lenda, os habitantes do burgo andavam alarmados com um crime e, mais ainda, com o facto de não se ter descoberto o criminoso que o cometera.
Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo e, apesar dos seus juramentos de inocência, ninguém acreditou. nele.
Ninguém acreditava que o galego se dirigisse a S. Tiago de Compostela, em cumprimento de uma promessa, sem que fosse fervoroso devoto do santo que, em Compostela, se venerava, nem de S. Paulo e de Nossa Senhora. Por isso, foi condenado à forca.
Antes de ser enforcado, pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado que, nesse momento, se banqueteava com alguns amigos.
O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa, exclamando: É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.
Risos e comentários não se fizeram esperar mas, pelo sim pelo não, ninguém tocou no galo. O que parecia impossível tornou-se, porém, realidade! Quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou.
Já ninguém duvidava das afirmações de inocência do condenado. O juiz correu à forca e viu, com espanto, o pobre homem de corda ao pescoço. Todavia, o nó lasso impedia o estrangulamento. Imediatamente solto foi mandado em paz. Passados anos voltou a Barcelos e fez erguer o monumento em louvor a S. Tiago e à Virgem.
4. Lenda do Milagre das Rosas
Conta a lenda que o rei D. Dinis foi informado sobre as ações de caridade da rainha D. Isabel e das despesas que implicavam para o tesouro real. Um dia, o rei decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas para distribuir esmolas e pão aos necessitados.
Reparou que ela procurava disfarçar o que levava no regaço. D. Dinis perguntou à rainha onde ia e ela respondeu que se dirigia ao mosteiro para ornamentar os altares. Não satisfeito com a resposta, o rei mostrou curiosidade sobre o que ela levava no regaço.
Após alguns momentos de atrapalhação, D. Isabel respondeu: “São rosas, meu senhor!”. Desconfiado, o rei acusou-a de estar a mentir, uma vez que não era possível haver rosas em janeiro. Obrigou-a, então, a abrir o manto e revelar o que estava lá escondido.
A rainha Isabel mostrou, perante os olhos espantados de todos, as belíssimas rosas que guardava no regaço. Por milagre, o pão que levava escondido tinha-se transformado em rosas.
O rei ficou sem palavras e acabou por pedir perdão à rainha que prosseguiu com a sua intenção. A notícia do milagre correu a cidade de Coimbra e o povo proclamou santa a rainha Isabel de Portugal.
5. Lenda das Amendoeiras em Flor
Houve um rei muçulmano, quando o Algarve era uma parte desse grande reino muçulmano que existia no século VII, que casou com uma bela princesa nórdica, loura e de olhos azuis.
A princesa gostava muito do seu príncipe muçulmano mas começou a ficar cada vez mais triste, e chorava… e chorava… e o príncipe árabe também não sabia o que é que se passava com a sua amada, ficava também triste e não sabia o que é que lhe havia de fazer, então (se calhar) começou a pensar que se calhar ela não gostava dele, que não gostava de estar aqui no Algarve, que não gostava de outras coisas quaisquer, então decidiu ir-lhe perguntar o que é que se passava com ela… e ela dizia que tinha saudades, tinha saudades da sua terra, tinha saudades de ver a neve.
O príncipe pensou, pensou, pensou… e teve uma ideia, teve uma ideia que resultou no seguinte: Plantou uma série de amendoeiras e quando essas amendoeiras floriam (como as amendoeiras em flor parecem flocos de neve) todos os campos ficavam brancos.
Então, preparou uma surpresa à sua princesa, plantou as amendoeiras numa série de campos (que tentou manter escondidas da princesa durante algum tempo) e depois quando as flores abriram completamente chamou a princesa à janela… e ela ficou tão feliz de ver as árvores cobertas de branco que pensou mesmo que o seu príncipe tinha conseguido fazer neve no Algarve.
Pronto, e foi assim que surgiram as amendoeiras, por isso é que o Algarve tem tantas amendoeiras, e por isso também é que a flor de amendoeira é um dos símbolos do Algarve.
6. Lenda da Torre da Princesa
A tradição local refere que há muito, quando a povoação ainda era a aldeia da Benquerença, existiu uma bela princesa órfã, que ali vivia com o seu tio, o senhor do castelo.
Esta princesa apaixonou-se por um nobre, valoroso e jovem cavaleiro, porém carente de recursos. Por esse motivo, o jovem partiu da aldeia em longa jornada em busca de fortuna, prometendo retornar apenas quando se achasse digno de pedir-lhe a mão.
Nesse ínterim, durante anos a fio, a jovem recusou todos os seus pretendentes, até que o seu tio, impaciente, prometeu-a a um amigo, forçando-a ao compromisso.
Ao ser apresentada ao candidato do tio, a jovem confessou-lhe que o seu coração pertencia a outro homem, cujo retorno aguardava há anos.
A revelação enfureceu o tio, que decidiu aumentar a coerção por meio um estratagema: nessa noite, disfarçou-se como um fantasma e, penetrando por uma das duas portas dos aposentos da princesa, simulando ser o fantasma do jovem ausente, afirmou-lhe com voz lúgubre, que ela estava condenada para sempre à danação, caso não aceitasse casar-se com o novo pretendente. Prestes a obter um juramento por Cristo por parte da princesa, milagrosamente abriu-se a outra porta e, apesar de ser noite, um raio de sol penetrou nos aposentos, desmascarando o tio impostor.
Daí em diante, a princesa passou a viver recolhida na torre que hoje leva o seu nome, e as duas portas passaram a ser conhecidas como Porta da Traição e Porta do Sol, respectivamente.
7. Lenda da Fundação de Estremoz
No tempo de el-rei D. Afonso III cometeram os moradores de Castelo Branco um atroz delito e desejando el-rei informar-se do caso mandou para este fim um ministro àquela vila, porém os seus moradores não só não consentiram na devassa mas antes agravaram mais a primeira culpa com o horrível atentado de quererem matar o ministro.
Porém este, valendo-se das regras da prudência em semelhantes casos suspendeu a diligência e passou à corte para informar a el-rei o que lhe havia sucedido. O príncipe, justamente irritado, ordenou ao mesmo ministro que, com muita gente armada, fosse à dita vila e que sem atenção a idade ou sexo passassem a todos pelo fio da espada.
Partiu o ministro em tempo em que determinava dar cumprimento ao real decreto. Viu que os moradores com uma devota procissão em que levavam o Santíssimo Sacramento, imploravam com muitas lágrimas a clemência de el-rei. Este piedoso acto enterneceu o coração do ministro que suspendeu o castigo e deu conta de tudo a el-rei.
Este monarca, movido de uma natural compaixão, moderou o castigo, ordenando ao ministro que fizesse morrer todos os irracionais da vila e que os moradores dela fossem degradados e que a vila ficasse desabitada em pena da infame rebeldia dos seus moradores.
O que tudo se executou. Algumas destas famílias erraram de província em província até que foram dar ao derrotado castelo de Estremoz, onde junto dum copado e alto tremoceiro fundaram as primeiras casas e rua Direita e, no fim desta, a paroquial igreja de Sant’Iago, a mais antiga de Estremoz.
Passados alguns anos, vendo que a povoação tinha já bastante número de moradores, deputaram dois para que, em nome de todos, fossem pedir a el-rei D. Afonso III que lhe desse o foral da vila, o que el-rei deferiu perguntando-lhes que armas queriam para a vila e qual havia de ser o nome da nova povoação, ao que eles responderam que não tendo encontrado mais do que o sol, luz e estrelas que os cobrissem, e o tremoceiro ao pé do qual fundaram as primeiras casas, que estas queriam fossem as suas armas, e que por esta causa última queriam que a povoação se chamasse Estremoz. Tudo el-rei lhes concedeu.
8. Lenda da Fundação de Lisboa
Há muito, muito tempo atrás, existiu um reino conhecido pelo nome de Ofiusa. Esta terra localizava-se em um lugar distante, próximo a um grande mar oceano pouco conhecido. Ofiusa, segundo dizem, significa Terra de Serpentes.
Este reino era governado por uma rainha, meio mulher, meio serpente. Contam que tinha um olhar feiticeiro e voz meiga, jeito de menina com incrível poder de sedução. A rainha tinha o hábito de subir ao alto de um monte e gritar ao vento, para depois ouvir sua própria voz no eco: Este é o meu reino! Só eu governo aqui, mais ninguém!
Nenhum ser humano se atreverá a por aqui os pés: ai de quem ousar, pois, as minhas serpentes, não o deixarão respirar um minuto sequer! Por muito tempo quase ninguém se atreveu realmente a entrar no reino da rainha. Acreditava-se que esta costa era amaldiçoada pelos deuses e também pelos homens. E os poucos que se arriscavam eram seduzidos pela rainha e nunca mais retornavam.
Porém, um dia, vindo de muito longe, um herói chamado Ulisses, aportou na terra das serpentes. A rainha apaixonou-se imediatamente, e fez de tudo para impedi-lo de ir embora. Ulisses, muito habilmente, fingiu deixar-se levar pelos encantos da rainha, até que seus companheiros descansassem e pudessem novamente zarpar.
Como ficou deslumbrado com as belezas naturais que viu, subiu a um monte, e assim como fazia a rainha das Serpentes, gritou ao vento: Aqui edificarei a cidade mais bela do Universo, e dar-lhe-ei o meu próprio nome. Será Ulisséia, capital do Mundo! Ulisses, no entanto, acabou por ir embora, assim que seus barcos estavam abastecidos e os homens descansados.
Fugiu da rainha que correu atrás dele desesperada. Dizem que seus braços serpenteando atrás do herói acabaram por formar sete colinas rumando em direcção ao mar. Ulisses foi-se, mas a lenda ficou.
Muito giras
Olá! Gostaria de saber como posso falar consigo por mensagem privada relativamente a estas Lendas. Tem a ver com a possibilidade de utilização dos seus textos para um programa em vídeo. Obrigada
muito giras