O Minho é uma das mais antigas regiões de Portugal e ainda conserva muitos hábitos, usos, costumes e tradições cuja origem se perde no tempo. Muitas das tradições minhotas têm origens pagãs mas, a grande maioria delas, tem como fundamento principal a devoção católica, que é bastante forte nesta província portuguesa.
Algumas tradições minhotas continuam a ser celebradas hoje com o mesmo fervor com que eram celebradas no passado. No entanto, outras correm o risco de desaparecer. Para preservar a memória destas tradições, foram criados diversos museus etnográficos um pouco por toda a região onde se podem contemplar trajes, jóias, adereços ou instrumentos musicais, por exemplo.
Uma das mais famosas tradições do Minho é o Lenço dos Namorados, que possui o seu centro em Vila Verde. No entanto, esta está longe de ser a única. Descubra algumas das mais interessantes tradições minhotas.
1. Lenço dos Namorados
Os “lenços dos namorados” existem por todo o país, com maior incidência no Minho, Alentejo e Açores, sendo no Minho que surge a mais importante recuperação desta arte, como componente fundamental da cultura popular desta região. Os Lenços de Namorados apresentam-se como a mais genuína forma poética e artística utilizada pelas moças do Minho, em idade de casar.
Pensa-se que a origem dos “lenços de namorados”, também conhecidos como “lenços de pedidos”, esteja nos lenços senhoris do século XVII e XVIII, e que foram adaptados pelas mulheres do povo com o fim de conquistar o seu namorado.
Antes de tudo, estes lenços faziam parte integrante do traje feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.
Mas não é enquanto parte integrante do traje feminino, mas sim de outra função não menos importante, que lhe vem o nome: a conquista do namorado.
A moça quando estava próximo da idade de casar fazia o seu lenço bordado a partir de um pano de linho fino que por ventura possuía ou dum lenço de algodão que adquirira na feira.
O lenço era bordado então, nas longas noites de serão, nos momentos livres do dia ou aquando do pastoreio do gado, pela rapariga apaixonada que ia transpondo para o lenço os sentimentos que lhe iam na alma.
A rapariga usá-lo-ia ao Domingo na trincha da saia ou no bolso do avental; mais tarde oferecê-lo-ia somente ao rapaz que amava como compromisso de amor, este passaria a usá-lo ao pescoço, com o nó para a frente, no bolso do casaco do fato domingueiro, no chapéu ou no cajado com o qual normalmente andava.
Caso a rapariga não fosse correspondida o lenço voltaria às suas mãos. Se o namorado trocasse de parceira, fazia chegar à sua antiga pretendida o lenço, fazendo-o acompanhar de todos os objectos que dela possuía, como cartas e fotografias.
Rica em símbolos e motivos, os mais utilizados são flores, silvas, cântaros, cruzes, brasões, passarinhos, pombas, estrelas de Salomão, cestas, corações, chaves, peças agrícolas, borboletas, peixes, cães, letras, quadras, datas, coroas, ramos e casais de namorados cobertos ou não com um chapéu-de-chuva.
Outras vezes estes lenços eram motivo de simples brincadeiras ou troca de palavras. Nas festas os rapazes tiravam os lenços das raparigas simulando uma ligação amorosa.
Quando o rapaz já tinha namorada o facto de simular uma ligação com outra ao roubar-lhe o lenço era muitas vezes motivo de desavença entre a sua namorada e aquela a quem o lenço tinha sido roubado.
Desde então, estes lenços têm reflectido inúmeros sentimentos de raparigas casadoiras, exprimidos através destes símbolos de fidelidade ou devoção religiosa, onde os erros ortográficos são já uma característica incontornável.
2. Apanha do Sargaço
O minhoto soube aproveitar as condições do meio e fertilizar as areias com os produtos do mar. A apanha de algas assumiu grande importância ao longo da costa Norte. Os campos estéreis da beira-mar foram enriquecidos com pilado – caranguejos em cardume – e sargaço.
Hoje, com a generalização dos adubos químicos, esta actividade está em declínio. Mas, em certos locais, a apanha das algas tem ainda alguma importância. Em Castelo do Neiva, nas primeiras horas da manhã, ainda é possível observar os apanhadores de algas. O sargaço é apanhado nos meses de Verão. Os sargaceiros entram no mar e com o redenho recolhem as algas que estão à superfície ou submersas, junto ou próximo da praia.
Antigamente, os sargaceiros, antes de entrarem no mar, envergavam branqueias, um casaco de tecido de lã, grosso e branco, que envolve o corpo dos sargaceiros até ao joelho. Na cintura é cingido por um cinto de couro e a parte de baixo é rodada.
Quando o mar já não permite a apanha, os montes de algas molhadas não transportados para os sequeiros, nas dunas, em cestos, padiolas ou carros de mão com duas rodas. Nos sequeiros as algas são estendidas com o auxílio do engaço – uma espécie de ancinho.
Uma vez secas, as algas são empilhadas, formando uma palhota. A parte superior é coberta por um telhado de duas águas, construído com colmo. Aí ficam até serem transportadas para os campos que vão fertilizar.
3. Lenço da Cruz
Esta tradicional romaria galaico-minhota decorre sempre na segunda-feira imediata ao fim de semana da Páscoa. Ao entardecer, depois da visita pascal, à freguesia de Cristelo-Côvo (Valença), o pároco, devidamente paramentado e com uma cruz ornamentada, entra num barco e dirige-se até à margem espanhola onde dá a cruz a beijar aos paroquianos da outra margem. Durante esse período são lançadas, pelos pescadores de Cristelo-Côvo, as redes benzidas ao rio.
Todo o peixe que sair no lance é para o pároco. Entretanto com o pároco português regressa no barco o pároco da paróquia galega de Sobrado – Torron, concelho de Tui (Galiza), dando a cruz a beijar aos peregrinos que aguardam junto ao rio, na margem portuguesa. Várias embarcações portuguesas e galegas acompanham este compasso pascal nas águas do Minho.
Até à noite os sons das gaitas de foles misturam-se com os das concertinas, das castanholas, o rufar dos bombos e tambores numa autêntica romaria galaico-minhota.
Na terça-feira, merece especial referência a missa para os peregrinos da Galiza, celebrada em galego, por um padre galego, às 10h00 (hora portuguesa). Neste dia também, por tradição, os peregrinos desfrutam dos seus merendeiros nas sombras do parque comendo, sobretudo, o que sobrou do carneiro ou cabrito da Páscoa.
A tradição do Lanço da Cruz é uma manifestação religiosa e popular muito acarinhada pelas populações da raia minhota que ano após ano atrai um maior número de populares e turistas.
4. Romaria de São Bartolomeu do Mar
Todos os anos, no dia 24 de Agosto, realiza-se a Romaria de São Bartolomeu do Mar, padroeiro da freguesia com o mesmo nome, pertencente ao concelho de Esposende (Minho), durante a qual as crianças são levadas a mergulhar, pelo menos três vezes, na água fria do mar. Para que fiquem livres de muitos males.
Manda a tradição, que remonta ao século XVI (1566), que no dia 24 de Agosto, as crianças e respectivos pais transportem uma galinha ou frango (pinto ou “pito”, como por lá se diz) preto(a) durante três voltas à Igreja, que passem outras tantas vezes debaixo do andor e que, depois, vão à praia “furar” ondas em número ímpar: três, cinco, sete ou nove, o chamado “banho santo”.
O chamado banho-santo é um dos pontos altos da romaria da terra, durante a qual a praia local se enche de gente de gente, apesar do frio e da temperatura gelada da água.
Assim se esconjuram os medos das crianças e se curam maleitas como a gaguez, a epilepsia ou a gota. No entanto, e segundo dizem, “têm que ir ao banho antes de completar os sete anos de idade para que a tradição seja cumprida”.
Esta superstição é antiga, pois remonta ao século XIX, e tem origem numa lenda, segundo a qual todos os anos, precisamente no dia 24 de Agosto, o diabo anda à solta, só voltando ao mar quando anoitece. É esse o motivo para levar as crianças ao mar, durante o dia, para que aproveitem as águas ‘puras’, e assim se curarem de muitos males.
A Missa mais solene é celebrada às 11h00. De tarde, faz-se o chamado agradecimento ao Santo, através de uma procissão tida como «uma das mais imponentes» do Norte de Portugal. Apesar de o percurso ser curto ” menos de dois quilómetros da igreja à praia e regresso” demora sempre duas a três horas, incorporando centenas de figurantes, que reconstituem episódios bíblicos, e andores de grande porte.