Em 28 de junho de 1706, um exército aliado de 14.700 portugueses e 4.200 anglo-holandeses, sob o comando do 2º Marquês das Minas, entrou em Madrid e tomou-a, como culminar de uma campanha com mais de 500km percorridos e que operou durante 3 meses em terras de Espanha. O Marquês das Minas, D. António Luís de Sousa, era filho primogénito do 2º casamento do seu pai, o 1º Marquês das Minas. Nasceu a 6 de abril de 1644, e foi senhor das vilas de Beringel, Guvari, Nossa Senhora da Escada e Prado, no Brasil, com todos os privilégios que isso acarretava.
Além disso, D. António foi mestre-de-campo general, estribeiro-mor, Governador e capitão-geral do Brasil. Chegou a ser alcaide de Beja e recebeu cinco comendas na Ordem de Cristo e duas na Ordem de Sant’Iago.
Para muitos, esta personagem pode ser equiparada a Napoleão Bonaparte, graças à sua tomada de Madrid em 1706. Apesar de tudo, como atualmente esta proeza não é muito falada, e porque, apesar de hábil em termos militares, em termos políticos é apenas um pré-Napoleão, D. António não ficou tão conhecido na história europeia.
A campanha do marquês de Minas em Espanha surgiu no contexto da Guerra da Sucessão em Espanha, que teve lugar entre 1701 e 1714. Portugal fazia parte da Grande Aliança, que juntava o nosso país à Inglaterra, Áustria e Holanda, que pretendiam aclamar como rei em Espanha o Arquiduque Carlos de Habsburgo.
Para entender este episódio da história portuguesa e espanhola é necessário perceber como começou a Guerra da Sucessão, disputada entre 1701 e 1714. O príncipe das Áustrias, José Fernando da Baviera, foi o escolhido para suceder ao seu tio-avô, o rei Carlos II de Espanha, que morreu sem deixar herdeiros. No entanto, o jovem príncipe tinha uma saúde frágil e acabou por falecer aos seis anos de idade. Este óbito levou Filipe V, neto de Luís XIV de França, a ser a figura ponderada para ocupar o trono espanhol.
Os Bourbon iriam, assim, liderar dois dos Estados mais poderosos da Europa – França e Espanha. As restantes potências receavam as consequências deste vínculo. O imperador romano-germânico Leopoldo I, parente de Carlos II, decide tentar romper esta união dinástica e afirma ser o detentor do direito ao trono. Tem assim início a Guerra da Sucessão de Espanha.
As forças inglesas, portuguesas e germânicas unem-se contra os Bourbon. Portugal já tinha reconhecido Filipe V de Espanha mas, perante a pressão dos ingleses, com quem o nosso país mantinha relações muito próximas, D. Pedro II de Portugal viu-se obrigado a repensar a sua posição, anulando assim, em 1702, o tratado pelo qual Portugal se comprometia a guardar os direitos da França, com a promessa de um auxílio militar em caso de ameaça. Assim, o reino português une-se às forças opositoras, reconhece o arquiduque Carlos, filho de Leopoldo I, como rei de Espanha, e entra na guerra.
A importância de Portugal neste confronto deveu-se principalmente ao seu posicionamento geográfico: o nosso país torna-se a base de operações dos aliados.
Ciudad Rodrigo foi o local escolhido para atacar, mas esta campanha ficou sem efeito e as forças militares regressaram a território português sem qualquer conquista. O início das hostilidades começou da pior maneira para Portugal e os seus aliados.
Assim, o Marquês das Minas entrou por Espanha e tentou tomar Badajoz, algo que não conseguiu. Não desistindo, fez nova investida a 7 de março de 1706, queimando a vila de Bricas e derrotando junto desta as forças do Duque de Berwick, que comandavam o exército que defendia Filipe de Anjou. Nesta batalha, conseguiu-se um espólio de 80 prisioneiros e 240 cavalos.
A 9 de abril, sitiou Alcântara e conseguiu tomá-la, fazendo prisioneiro o governador D. Miguel Gasco, juntamente com toda a sua guarnição e 47 peças de artilharia. A campanha seguiu vitoriosa, tomando Ciudad Rodrigo, Salamanca, Coria e Plasencia, e fazendo a sua entrada triunfal em Madrid a 25 de junho.
Aqui, D. António esteve instalado durante 40 dias no Paço Real, recebendo a sujeição dos poderes constituídos e tribunas, não só de Madrid como de Segóvia e Toledo, e proclamando rei o Arquiduque Carlos.
Ao longo de toda a campanha, foram feitos mais de 8 mil prisioneiros e capturadas mais de 100 peças de artilharia. Apesar de tudo, o candidato Filipe de Anjou, neto de Luís XIV de França, viria a triunfar e inaugurar a dinastia Bourbon que ainda hoje reina em Espanha.