Ainda antes da tecnologia invadir a nossa vida e relacionamentos, conectando-nos quase instantaneamente, as bordadeiras do Minho enviavam as suas declarações de amor através de lenços bordados. Feitos a partir de um pano de linho fino ou de algodão, e decorados com os mais diversos motivos bordados, o lenço dos namorados (ou lenço dos pedidos) é uma peça típica do artesanato e vestuário minhotos.
Hoje, estes lenços estão ligados ao concelho de Vila Verde, que tem promovido esta arte nacional e internacionalmente. Não há consenso quanto à origem do lenço dos namorados. O que se sabe é que originalmente apenas tinham duas cores: preto e vermelho (além do branco do pano).
Pensa-se que nos séculos XVII ou XVIII as senhoras nobres começaram a bordar estes lenços para passar o tempo. Pouco a pouco, este tornou-se um hábito das mulheres do povo, que lhes deram um aspeto mais popular. No início, estes lenços faziam parte do vestuário e tinham função decorativa.
Com o tempo, passaram a ter a função de conquistar um namorado. A rapariga apaixonada bordava um destes lenços e entregava-o ao seu amado quando este se fosse ausentar. No lenço, a rapariga exprimia os seus sentimentos e bordava pequenos versos de amor e vários desenhos. Os erros ortográficos eram frequentes, fruto da iliteracia das bordadeiras da época.
Depois de bordado, o lenço era entregue ao pretendente. Se este o usasse em público, por cima do casaco, no pescoço, na aba do chapéu ou até na ponta do pau que costumava trazer consigo, sabia-se que havia namoro. O lenço era assim uma espécie de anel de noivado, mas oferecido pela mulher. Se o rapaz não aceitasse o namoro, o lenço acabava por voltar às mãos da rapariga. O mesmo acontecia se ele aceitasse, mas, mais tarde, o namoro acabasse.
Os lenços eram bordados a ponto de cruz, sendo muito trabalhosos e morosos. Com o tempo, as bordadeiras passaram a usar pontos mais fáceis e rápidos, alterando também as decorações originais e juntando mais cores. Assim, os lenços que hoje conhecemos não têm muito a ver com os originais.
Mas duas coisas se mantêm: os erros ortográficos e a caligrafia quase infantil. As bordadeiras de hoje fingem iliteracia e cometem erros de propósito para manter a tradição e ingenuidade dos lenços originais.
Para evitar demasiados desvios ao padrão original do lenço dos namorados, a Associação para o Desenvolvimento Regional do Minho criou um caderno de especificações, salientando-se as regras a cumprir para que o lenço seja certificado. Existem vários locais onde comprar o Lenço dos Namorados, incluindo lojas online: Coisas de Viana e Loja do Folclore.
O Lenço dos Namorados nos dias de hoje
O lenço dos namorados já se tornou um símbolo do nosso país e enche as lojas de lembranças de norte a sul do país. Pode ser encontrado no formato quadrado tradicional, em lençóis, bolsas, roupas, objetos de decoração e outros meios. Quanto aos lenços originais, sobreviveram dezenas de exemplares, que hoje estão expostos em museus e traduzem fenómenos sociais da época, como a emigração para o Brasil, em inícios do séc. XX, e que muito afetou a região do Minho.
Lenda do Lenço dos Namorados
Existe uma lenda que conta que, em tempos, uma jovem camponesa se terá apaixonado por um estudante de direito que costumava frequentar a sua casa. As regras sociais da altura impediam que a jovem demonstrasse sinais do seu amor pelo estudante e, por seu lado, o estudante seria muito tímido e sem coragem de encetar uma conversação.
A jovem terá então decidido bordar um lenço onde expressava os seus sentimentos pelo estudante de direito e colocou-o num local onde ele o pudesse ver (e ler). Ao que parece, foi o suficiente para que o rapaz perdesse a vergonha e decidisse trocar algumas palavras com a jovem. Reza a lenda que o lenço deu início a um namoro que terminou num casamento longo e feliz.
Lenda ou não, o certo é que o Lenço dos Namorados foi mesmo utilizado, na época, como forma de declaração de amor de uma rapariga para um rapaz. As convenções sociais não permitiam qualquer outro método e as mulheres que ousavam falar abertamente dos seus sentimentos eram fortemente criticadas. O Lenço dos Namorados tornou-se, assim, numa “carta de amor” aceitável e eficaz para a época.
O dito lenço de namorados do Minho, na verdade é de Viana do Castelo. Posteriormente difundiu-se e daí surgiu uma variante, mais centrada na região de Vila Verde. As caracterizações não mudaram substancialmente, embora actualmente se encontram bastante espalhadas versões, tipo loja dos trezentos, adulteradas e bacocas. Os lenços de Viana do Castelo e de Vila Verde são muito diferentes entre si e facilmente identificáveis para quem conhecer as raízes de cada um.