Muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm sotaque. Toda a gente do Porto sabe que fala à Porto, mas muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm um sotaque específico, que falam “um português neutro”… Ora o sotaque de Lisboa é um sotaque como outro qualquer. Como o de Beja ou de Portimão ou da Malveira da Serra.
Há muitas pessoas (sobretudo de fora de Lisboa, naturalmente) que pensam que, sobretudo com a força uniformizadora da televisão, o português de Lisboa está a ser imposto ao resto do país e a dar cabo dos falares regionais.
É verdade até certo ponto. É verdade que a variante do português que se está a espalhar é o falar das classes “cultas” da capital e não há nisso nada de extraordinário: normalmente o falar “culto” da cidade ou da zona mais importante é o que se impõe. É assim a vida…
1. Uma característica daquilo a que se chama o “verdadeiro sotaque da Lisboa” é a abertura de certos oo: não se diz tourada, mas sim tòrada; nem se diz ourives, mas sim òrives; não se diz chouriço, mas sim chòriço; não se diz ouvir, mas sim òvir; etc. E não são só os -ou- que se pronunciam ó – também au- e até al-, às vezes: “Vais ó Ògueirão? Òguenta aí, qu’eu vou contigo!”
2. “Piscina” diz-se “pichina”, “disciplina” diz-se “dichiplina”. E a mesma anomalia de pronúncia se verifica geralmente em todos os grupos “sce” ou “sci”: “crecher” em vez de “crescer”, “seichentos” em vez de “seiscentos”, e assim por diante.
3. O mesmo sucede quando uma palavra terminada em “s” é seguida de outra começada por “si” ou “se”. Por exemplo, a expressão “os sintomas” sai algo parecido com “uchintomas”, “dois sistemas” como “doichistemas”.
4. Há também muitos ii que não se pronunciam. Se alguém lhe disser que é “de Lisboa”, pode achar esquisito, porque em Lisboa diz-se L’sboa, não se diz Lisboa… E nem é esquisito que você acha, é ‘squ’sito. Aliás, às vezes nem é ‘squ’sito que se diz, é chq’sito, depende. Ora aí têm mais uma característica do sotaque de Lisboa: pronunciar os ss em fim de sílaba como ss explosivos de início de sílaba. Por outras palavras, pronunciar da mesma maneira chefia e esfia.
5. Como nos outros sotaques do Sul, também se transforma, em Lisboa, o ditongo -ei- numa vogal só. Só que, em vez de se o reduzir a ê, como nos sotaques saloio, alentejano ou algarvio, transforma-se-o antes em â: peixe diz-se pâxe, coelho diz-se coâlho e assim sucessivamente…
6. Há também palavras isoladas que têm uma pronúncia especial. Não existe o advérbio muito mas só uma variação bizarra desse advérbio, muita (muitas vezes pronunciado m’ta): muita grande, muita pequeno, muita giro, etc. E o mesmo se passa com o quantificador de nome: muita peso, muita dinheiro, sempre muita… Também não existe também, mas sempre e só tamém. E não se diz mesmo, mas antes memo. O adjectivo grande, quando vem anteposto a um nome, pronuncia-se sempre ganda: ganda pinta, ganda problema, etc.
7. Conjugar verbos também não é tarefa fácil para um lisboeta. Não há vós nem nós. Há apenas “vocês” e “a gente”. Temos que concordar que fica mais fácil, é verdade. Afinal de contas, para que dizer vós sois, vós fizestes ou vós ides quando se pode dizer vocês são, vocês fizeram e vocês vão? E depois há o uso peculiar do “a gente”. Serve para tudo e mais alguma coisa. A gente somos, a gente vamos, a gente vai, a gente foi…
8. Uma outra tendência cada vez mais vulgar é a de comer os sons, sobretudo a sílaba final, que fica reduzida a uma consoante aspirada. Por exemplo: “pov'” ou “continent'”, em vez de “povo” e de “continente”.
9. Mas essa fonofagia não se limita às sílabas finais. Se se atentar na pronúncia da palavra “Portugal”, ela soa muitas vezes como algo parecido com “P’rt’gal”.
10. E há ainda os que usam e abusam do u em vez de eliminar sons. Por isso dizem Purtugal em vez de Portugal, pêssegu em vez de pêssego, etc…
Fonte parcial: Português de Lisboa: ao que isto chegou…
Confusão entre sotaque e iliteracia…
É verdade! Uma não tem nada a ver com outra. Iletrados há-os por todo o país.
Não sei muito bem onde foste/foram buscar a ideia de que “o Português de Lisboa está a ser imposto ao resto do país e a dar cabo dos falares regionais”.
Não sei também quem escreveu este texto, se é Lisboeta (provavel/ não), se vive/viveu em Lisboa (também ñ me parece)mas posso afirmar que, a menos que seja uma pessoa com um menor grau de literacia, (e temos em Lisboa como no resto do país…) não dizemos “chóriço” nem “órives” nem óvir”. O que poderás/poderão (ou se a minha “forma de escrever pseudo-lisboeta” for muito pouco educada)…poderá/poderão afirmar correcta/ ,é que nós (e digo nós pq…wowwww, sim sou lisboeta) “comemos” os U em algumas palavras que contenham o ditongo “ou”, ou seja dizemos “tôrada” em x de “tourada” (mas nunca, excluindo, as tais pessoas com menor grau de iliteracia, “tórada).
Já “óguenta”, confesso que nem às pessoas com mais propensão para falarem mal pr’a c**** (peço desculpa pela minha escrita à lisboeta), alguma vez ouvi dizer. O som “sc” é bem verdade que utilizamos sempre o som “x”…mas se reparares/repararem/reparar bem….em letra à mão o “X” pode-se escrever com “sc” aglutinado….portanto, em boa verdade, o som “sc” “tornado” “x” , não está completa/ incorrecto, mas sim menos correcto.
Boas tardes, que agora vou ali pró ògueirão comer um chóriço e ver uma tórada e depois vou para casa dar um mergulho na pixina!! :P
Erica, tem toda a razão no que postou, concordo.Quem escreveu este texto, está errado… Tenho dois alfacinhas de gema, eu não nasci cá, mas é como tivesse nascido, foi em Lisboa que aprendi a falar. Se me disserem que os da Amadora, inicialmente designada como Porcalhota, falavam e ainda falam diferente, acredito. Essa forma de falar, que aqui foi definida, falávamos em gíria, (calão) normalmente nada tem a ver como falam os lisbonenses. Existem sotaques que para mim são muito difíceis de suportar, claro não menciono quais para não ferir susceptibilidades. Quem escreveu isto que reflicta e dê a não à palmatória. Sei falar calão, mas sei falar o português correcto de Lisboa.
Eu acho que a razão deste comentário é só para mostrar que os Lisboetas não são tão perfeitos como se julgam ser!!! Sou Açoriana (Graciosense) e com muito orgulho, e pode vir a pessoa mais culta de Lisboa que sempre terá resposta à altura e sem nenhum sotaque!!!
Para o responsável deste artigo será preciso fazer mais pesquisas no futuro. No exemplo 10: diz-se “Purtugal” e “Pêssegu” tal como se diz “Carru”, em vez de “Carró”, “Coelhu”, em vez de “Coelhó”… Isto porque se o acento principal não estiver na letra “o” esta ler-se-á como “u”. Os exemplos contrários: Bota (que se lê Bóta) ou Cola (cóla) ou Escola (escóla).
entao ali pros lados de cascais… pfff pffff pffffurtugl
Faltam aqui algumas mais como o “quaise” e o “treuze” por exemplo…
A mania do português neutro, ou sem sotaque, é algo que me ultrapassa completamente. Sou de Trás-os-Montes, estudei em Coimbra (onde também se propugna que em Coimbra não há sotaque) e vivo no Porto já há uns largos anos. Ora, escusado será dizer que a minha pronúncia é, neste momento, uma mistura absurda de “sotaques do Norte”. Tenho imenso orgulho nisso! Apesar disso, já tive episódios pouco felizes com pessoas de Lisboa que teceram comentários menos apropriados ao facto de eu falar “à Norte”. Ora, vamos lá ver se todos nos entendemos: cada um fala como quer e pronuncia as palavras da forma que bem entender. Não há maneiras de pronunciar o português de uma forma correta ou incorreta. Todas as formas são corretas!
excepto (sem acordo) o Português “Brasileiro”, eheheheh
Kkkkk…. É bem ruim… mas ora, vamos lá, vocês foram o povo lusófono que mais alteraçôes fizeram ao idioma. O português de hoje causaria asco a Fernando Pessoa, como ele chamava: ” português simplificado “. O Pt brasileiro de São Paulo soletra letrinha por letrinha. Não há quem não entenda.
Só a ignorância pode levar um falante de uma língua a crer que não tem sotaque, ou, o que é a mesma coisa, a julgar que há uma pronúncia/sotaque melhor do que as outras. Uma língua, por natureza, tem sempre sotaques diferentes, quer de pessoa para pessoa, quer de regiões entre si ou de países. Uma língua é composta por falas diversas e não há critério científico nenhum que possa afirmar que uma pronúncia (fala) é melhor ou mais correcta do que outra (isto claro eliminando aquelas pronúncias manifestamente erradas, como por exemplo, a das crianças e dos estrangeiros em aprendizagem).
Parece-me, a ver o item sete, que os lisboetas andam a ver novelas e telejornais da Rede Globo, no Brasil, onde só se conjuga verbo com “a gente” e você. E depois somos nós que falamos “brasileiro”… A verdade é que a norma escrita de um idioma deve ser etimológica e não fonética, por conta da grande variedade de acentos.