O Reino de Badajoz, também conhecido como Emirado de Badajoz ou Taifa de Badajoz foi uma taifa (reino muçulmano ibérico) centrado na cidade de Badajoz. Os seus domínios estendiam-se pelo que é hoje a Estremadura espanhola mas incluíam também o Alentejo, Lisboa e vários territórios que se estendiam quase até ao Rio Douro. Um território vastíssimo e que englobou muitas áreas que hoje pertencem a Portugal.
Existiu em 2 ocasiões diferentes: entre os anos 1009 e 1094 e, mais tarde, entre os anos 1144 e 1151. O primeiro reino terminou com a invasão dos Almorávidas e o segundo foi derrotado pelos Almóadas. Mais tarde, durante a Reconquista Ibérica, os seus territórios acabariam por ser divididos entre Portugal, Leão e Castela.
Mas a origem do Reino de Badajoz teve as suas raízes uns anos antes, quando o famoso ibn Marwan fundou a cidade. Foi um líder militar e religioso sofista do al-Andalus que se rebelou contra o emir omíada de Córdova, Maomé I, e criou um reino independente sediado em Badajoz (cidade da qual é considerado fundador). Este reino (que serviu de génese aos 2 reinos que se seguiram) ocupava o médio e baixo Guadiana, e o Sul do que hoje é Portugal e duraria até à fundação do Califado de Córdova, em 928.
Mas não foi só Badajoz que ibn Marwan fundou. Marvão, a vila alentejana, foi por ele fundada entre 876 e 877, tendo tomado o seu nome. Pensa-se que ibn Marwan terá residido algum tempo no que atualmente se designa castelo de Marvão, uma fortaleza no alto de uma escarpa, praticamente inexpugnável, e que estava situada no Norte dos seus territórios.
A partir de Marvão, dominava grande parte das suas possessões, mais concretamente a região do Alentejo. Esta localidade era estratégica para ibn Marwan, dado que se situa no alto de uma escarpa, com condições naturais que fazem com que seja muito difícil ser atacada por forças rivais. Marvão, naquela época, era uma fortaleza inexpugnável.
Apesar de ter existido de forma intermitente (3 vezes) e durante um curto espaço de tempo, o Reino de Badajoz (ou Taifa de Badajoz) conseguiu estender a sua influência por zonas que hoje correspondem a quase metade do atual território português. Badajoz dominava e era a capital de cidades como Lisboa, Coimbra, Santarém e quase todo o Alentejo.
Um pormenor curioso e que é importante ressalvar: o território dominado pela Taifa de Badajoz foi muito semelhante aos territórios ocupados pelos antigos lusitanos (do Douro até parte do Alentejo, juntamente com Mérida, na Estremadura espanhola). Não existirá, no entanto, qualquer correlação entre estes pormenores, tratando-se apenas de uma coincidência.
A instabilidade política era grande naqueles tempos e isso criava uma sucessão de novos reinos, que por sua vez eram conquistados por reinos maiores alguns anos depois. No território que viria a pertencer a Portugal, existiram diversos destes reinos muçulmanos, denominados taifas. Destacam-se a Taifa de Lisboa, a de Silves, a de Mértola, a de Santarém e a de Santa Maria do Algarve.
Aliás, esta instabilidade nas taifas, que frequentemente guerreavam entre si, foi uma das causas para que Portugal tivesse conquistado aquela região com mais facilidade do que Espanha. As taifas do sul de Portugal eram relativamente pequenas e desorganizadas, enquanto que no sul de Espanha existia a poderosa Taifa de Sevilha, e mais tarde o Emirado de Granada, que deram muito mais luta aos católicos espanhóis que a tentavam conquistar, tendo resistido até 1492.
Quem foi ibn Marwan, o fundador do Reino de Badajoz?
Chegaram até aos nossos dias várias referências a ibn Marwan por cronistas árabes. Ibn Hayyan, deixou escrito o seguinte: «Afastou-se das fileiras muçulmanas para entrar nas dos cristãos, cuja amizade preferiu à dos que dirigem a sua oração em direcção à qibla». O mesmo cronista refere que, no domínio militar, ibn Marwan «tinha fama de caudilho temível. As suas vitórias eram muito celebradas; os seus atos cruéis valeram-lhe grande reputação e respeito entre os emires rivais, que acabaram por colocá-lo acima deles».
Outro cronista, ibn Adari, assinala que «se separou da comunidade dos crentes e protegeu e frequentou a dos cristãos com preferência aos muçulmanos». Ibn al-Qutiyya reforça que ele «chegou a ser chefe dos renegados no ocidente». Este último cronista descreve-o como «agudo, manhoso e astuto na guerra a ponto de não haver quem o superasse».
As fontes revelam alguma confusão quanto ao assentamento de ibn Marwan em Batalyos, uma aldeia sem importância, e a fundação da cidade de Badajoz. Oficialmente, a cidade foi fundada em 875, na sequência da batalha da Serra de Monsalud. Mas quando esta aconteceu, já ibn Marwan estava estabelecido em Batalyos, para onde foi após a sua derrota em Alange, altura em que lhe foi dada autorização para se estabelecer no cerro da Muela, nas margens do Guadiana.
Após ter vencido em 875 o exército do emir de Córdova, e como este percebeu que não conseguiria dominar o rebelde, deu-se um armistício para pôr um fim definitivo às batalhas. Ibn Marwan terá dito ao emissário enviado pelo emir que «o meu desejo é que me seja concedido el Baxarnal para ali construir, fundar uma cidade e povoá-la e estabelecer nela o culto, sem que me imponham tributos, nem ordens, nem limitações, ficando o rio entre ambos».
O lugar pedido por ibn Marwan era o cerro de San Cristóbal, em frente da povoação de Batalyos, onde já vivia. Ibn Marwan escolheu esse monte, já que ali o rio Guadiana constituía uma defesa natural excelente contra possíveis invasões futuras, graças à largura naquele local. O emir, no entanto, sabia disso, e apenas lhe deu autorização para se instalar em Batalyos e construir aqui uma nova cidade, ampliando ao que já existia. O emir não só deu autorização ao projeto como deu parte do dinheiro e dos pedreiros necessários para realizar a obra.
Assim, ibn Marwan é considerado oficialmente o fundador de Badajoz. No entanto, foram encontrados inúmeros restos arqueológicos anteriores à ocupação muçulmana, especialmente o subsolo da catedral, o que levanta a suspeita de que ali teria existido um importante assentamento visigótico.