Muitas vezes esquecida, esta região do nosso país, situada no extremo norte em pleno interior isolado e remoto, tem muito que se lhe diga. Trás-os-Montes tem tradições ancestrais que ainda hoje se refletem no dia-a-dia, que vão desde festas a gastronomia, música, arte, expressões populares ou monumentos, por exemplo.
Portanto, é natural que existam muitas curiosidades sobre Trás-os-Montes. Afinal de contas, quando um povo vive praticamente isolado do resto do país durante séculos, é perfeitamente natural que desenvolva hábitos e tradições que parecem estranhos ou curiosos aos olhos de quem vem de fora.
Se, tal como nós, é fã da região Transmontana e do seu povo, então irá adorar descobrir alguns pormenores curiosos sobre Trás-os-Montes, as suas gentes, a sua história e os seus hábitos.
1. A Terra Fria e a Terra Quente
Trás-os-Montes divide-se entre a Terra Fria e a Terra Quente, numa divisão puramente morfológica, mas que se reflete nos campos. Assim, na Terra Quente, predomina a oliveira, enquanto na Terra Fria se vêm mais castanheiros.
A Terra Fria corresponde mais ou menos aos concelhos de Bragança, Vinhais, Vimioso, Miranda do Douro e Mogadouro. Já a Terra Quente corresponde em termos gerais aos concelhos de Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Valpaços e Vila Flor.
2. Um pelourinho pagão em Bragança
Junto ao Castelo de Bragança, encontra-se um pelourinho da época quinhentista (o segundo foral da cidade foi outorgado por D. Manuel). Mas algo na base parece destoar… A verdade é que se usou uma estátua pagã, bem mais antiga, para suportar o pelourinho. A estátua assemelha-se a um porco perfurado, que representava a fertilidade masculina. Muitas pessoas lhe dão o nome de “porca da vila”.
3. O primeiro monumento civil nacional
É também junto ao Castelo de Bragança que ainda persiste o Domus Municipalis, um edifício de dois andares datado do século XV. Em baixo, ficava a cisterna de água, e em cima, a comunidade reunia-se para tomar decisões. Como Bragança ficava longe da capital real, quem tomava as decisões eram os “homens bons” do concelho, ou seja, aqueles que se considerava terem grande sabedoria.
Aqui se reuniam, tomando decisões que afetariam a população, que esperava os resultados impaciente. Dentro do edifício, existem dois jogos do galo gravados em pedra, com que o povo se entretia durante a espera.
4. Um casamento real
Diz-se que D. Pedro e D. Inês de Castro e terão casado na igreja de S. Vicente, fora das muralhas da cidade de Bragança. Nesta igreja, encontramos um painel em mosaico, que homenageia estas duas personagens e o seu amor. De ressaltar, no entanto, que o casamento entre eles nunca ficou provado.
5. Castelos comunicantes
A região de Trás-os-Montes tem 6 castelos visitáveis: Algoso, Bragança, Miranda do Douro, Mogadouro, Penas Roias e Vinhais. Os castelos são bastante antigos, remontando à fundação do nosso país (séculos XII-XIII), mas foram reabilitados ao longo dos séculos.
Curiosamente, em dias de sol limpos, consegue avistar cada castelo a partir de outro, numa espécie de linha comunicante entre eles. Esta proximidade era muito útil, já que as diferentes fortificações se podiam alertar rapidamente em caso de perigo.
6. O sol nasce mais cedo
A povoação onde o sol nasce mais cedo, no nosso país, está em Trás-os-Montes. Trata-se de Paradela, uma aldeia transmontana de onde se pode apreciar o sol matutino no seu máximo esplendor. Aconselhamos que se dirija ao Miradouro da Penha das Torres, nesta freguesia, para o fazer, desfrutando da paisagem sobre o rio Douro.
7. A aldeia comunitária de Rio de Onor
Eleita uma das 7 aldeias maravilha de Portugal, em Rio de Onor estão ainda bem vivos alguns resquícios do comunitarismo medieval. Todos os anos se elegem dois mordomos, responsáveis por distribuir o trabalho entre os habitantes da aldeia, e que gerem os bens comuns, como gado, terrenos e infraestruturas.
Os lucros são depois divididos por todos os habitantes. Como curiosidade, a aldeia tem também um dialeto próprio, o rionorês, que vai sobrevivendo ao longo do tempo, embora contando com cada vez menos falantes.
8. Amendoeiras em flor
Se há cultura que marca a paisagem transmontana na Primavera, é a da amendoeira. Em inícios de março, a paisagem pinta-se de rosa e branco, existindo até algumas festas a celebrar a amendoeira em flor em locais como Mogadouro, Torre de Moncorvo e Vila Flor. Nos sábados de março, a CP (Comboios de Portugal) organiza passeios pela região, com partida do Porto.
9. Azeite de qualidade
Muita gente associa oliveiras ao Alentejo, mas em Trás-os-Montes se produz do melhor azeite do mundo, com os devidos prémios internacionais a comprová-lo. Algumas das marcas de azeite premiadas que vêm desta região são o azeite da Casa de Santo Amaro, Porca de Murça, João das Barbas e Rosmaninho. Nesta região se produzem anualmente milhões de quilos de azeitonas, dando origem a um azeite que já tem certificação DOP (Denominação de Origem Protegida).
10. Tradição de mascarados
Um dos símbolos da região são os mascarados, que podem ser chamados de Caretos, Sécias, Chocalheiros, e Farandulos, entre outros nomes. Uma das festas onde participam pessoas mascaradas é a Festa dos Rapazes, da qual apenas podem participar pessoas do sexo masculino até aos 16 anos.
Essa festa tem origens pagãs, mas foi adaptada para integrar o Cristianismo. Celebra-se em algumas aldeias da região entre o dia 25 de dezembro e o 6 de janeiro. Dá-se a alvorada de manhã, com alguns cantares acompanhados de gaitas de foles, e os mascarados vão pela povoação a recolher dinheiro para a igreja.
Outra festividade com mascarados é o Carnaval, de origem celta, e muito semelhante à festa dos rapazes. Os protagonistas da festa são os rapazes solteiros, que criam algazarra na povoação com os seus fatos excêntricos, as suas campainhas e os seus guizos. Um dos carnavais mais conhecidos da região acontece em Podence.