Não podemos negar que algumas tradições e costumes portuguesas fazem hoje grande sentido… mas é isso que torna Portugal um recanto tão especial e peculiar. São manifestações da cultura de um povo e devem ser encaradas apenas como isso, sem julgamentos precipitados ou conclusões fora do contexto.
Mesmo assim, estas tradições portuguesas não deixam de ser bizarras aos olhos dos estrangeiros que nos visitam, principalmente por não perceberem o contexto em que elas nasceram. Regra geral, são hábitos e costumes enraízados há séculos, com origem em superstições ou crenças que se perpetuaram por diversas gerações.
Hoje, podem já não fazer muito sentido, mas continuam a ser praticadas, não por superstição mas sim por manter viva a cultura do povo que a elas deu origem. Descubra 4 tradições que hoje são vistas com estranheza, mas que ainda se cumprem.
1. A Queima do Gato
Tradicionalmente, colocava-se um gato vivo dentro de um cântaro, que era depois içado para o topo de um mastro, que por sua vez era forrado com palha. O cântaro era seguro com cordas. O gato (vivo) ficava preso no interior do cântaro até ser ateado fogo à palha, O fogo subia, consumia as cordas, o cântaro caía e o gato era libertado.
Esta cruel tradição não é celebrada desde 2008 com gatos vivos, graças a diversos protestos, usando-se em vez disso um gato de peluche na festa. Em aldeias como Chão dos Santos, Soito da Ruiva, Sabugal e Machialinho, a queima era feita durante as festas de S. João. O ritual de queimar o gato, no entanto, era comum na Europa, tendo sido relatado no País Basco, França, Alemanha e Inglaterra, numa tradição que remonta aos celtas.
2. O Enterro do Galo
Esta é uma tradição que encerra os festejos do Entrudo em muitos locais, na noite de Quarta-Feira de Cinzas. Tocando a meia-noite, um padre, um sacristão, uma viúva e diversas carpideiras seguem na procissão até ao local onde se vai realizar o funeral de um galo. Em algumas regiões, o galo é culpado pelos males do ano que passou, sendo julgado e condenado à morte.
O galo é assim uma representação da crise, corrupção e maldade passadas. Este julgamento e morte do galo no Entrudo baseia-se em outras tradições, como a queima do Entrudo, num espetáculo comunitário e de expiação, que se baseia na cultura tradicional, e onde participam centenas de pessoas, bem como atores, músicos e animadores profissionais.
3. Lavoura dos Cães
Esta festa popular decorre no dia 24 de agosto em vários locais do Minho, sendo uma das mais conhecidas na freguesia de Rego, no concelho de Celorico de Basto. Aqui se podem passar cenas menos ortodoxas, com os guias das cabras a fazer espichar as postiças mamas com leite para cima dos espectadores.
Mas as máscaras, o desalinho e a algazarra continuam a surpreender, pelo inusitado e pela componente de festa. Do nada, surge uma figura totalmente mascarada e desnuda, que corre sem nexo. Quando ainda o espetador não se recompôs, surge uma parelha de cães, guiados por um mascarado, e que puxam um pequeno arado de madeira.
4. Crianças a fumar no Dia de Reis
Em Vale de Salgueiro, concelho de Mirandela, distrito de Bragança, realiza-se todos os anos a Festa de Reis, a 6 de janeiro, onde se podem observar diversas tradições que nos remetem ao período histórico anterior à chegada do Cristianismo, numa reminiscência de antigos cultos pagãos comuns ao Nordeste Transmontano.
Assim, de forma excecional (e só durante o período em que dura a festa), os mais novos são autorizados a fumar, num fenómeno de interrupção do tempo comum, tal como acontece no Carnaval, onde são permitidos comportamentos impensáveis no resto do ano. Não se sabe como esta tradição das crianças a fumarem começou, mas poderá estar associada à quebra das rígidas regras do dia-a-dia normal da sociedade.