Sabe onde fica a ponte internacional mais pequena do mundo? Apesar de muitos sites indicarem que se trata de uma ponte que une o Canadá aos Estados Unidos, a realidade é que existe uma no Alentejo mais pequena do que essa. Ligando 2 ilhéus do rio Saint Lawrence, entre o estado de Nova Iorque, nos EUA, e o estado de Ontário, no Canadá, esta suposta ponte internacional tem apenas 10 metros de comprimento.
No entanto, a ponte que une a localidade alentejana de Marco, em Arronches, com El Marco, em Badajoz, tem apenas 6 metros, menos 4 do que a sua rival norte-americana. Cruza a ribeira de Abrilongo e serve de passagem entre o Alentejo e a Extremadura espanhola.
A aldeia alentejana de Marco, na freguesia de Esperança e a sua vizinha espanhola El Marco, na comarca de La Codosera, são na realidade uma única aldeia, separada pela já referida ribeira de Abrilongo. As pessoas vivem em comunidade e nem a fronteira, que é a mais antiga da Europa, conseguiu separá-las ou fazer diminuir o sentimento de pertença.
Apesar das constantes guerras entre Portugal e Espanha, a verdade é que nas aldeias raianas sempre houve uma boa vizinhança e cooperação. Existem outros exemplos disto mesmo espalhados uma pouco por toda a raia, sendo a aldeia transmontana de Rio de Onor um dos casos mais famosos.
Aliás, não poderia ser de outra forma já que estas populações viviam completamente isoladas e longe do poder central. Ao longo de séculos de história, socorreram-se sobretudo dos seus vizinhos sempre que precisavam, e nem sequer os “maus ventos vindos de Espanha” conseguiram estragar essa harmoniosa relação.
A ponte de Marco foi construída há 12 anos. Tem 6 metros de comprimento e 1.95 metros de largura e serve essencialmente para pedestres, embora seja também utilizada por veículos de 2 rodas. Tem um suporte metálico e possui tabuleiro e proteções laterais de madeira.
Antes da sua construção existiu outra ponte, muito mais rudimentar: uma simples chapa metálica, nada segura e que por vezes era arrastada pelas águas depois de algum dia intenso de chuva.
De cada lado da ponte estão, como não poderia deixar de ser, os tradicionais marcos de pedra que assinalam os limites do território de cada país. O português está bem visível, enquanto que o espanhol se encontra escondido pelo mato que cresce à sua volta.
As histórias de contrabando não poderiam faltar. No tempo em que as fronteiras eram fechadas e vigiadas, os portugueses pulavam para Espanha para comprar talheres e vinho. Os espanhóis aventuravam-se em Portugal à procura de toalhas e café.
A entrada na União Europeia de ambos países e a consequente abolição dos controlos fronteiriços veio alterar alguns hábitos, nomeadamente o contrabando, mas as trocas e viagens entre as duas aldeias mantêm-se, desta vez sem o medo de serem apanhados com mercadoria comprada do outro lado.
As lojas do lado espanhol fecharam e os habitantes de El Marco deslocam-se com frequência ao lado português para fazerem as suas compras diárias na mercearia, onde existem ainda algumas lojas abertas.
Os portugueses deslocam-se para o lado espanhol sobretudo à procura de emprego. Aliás, El Marco faz parte da comarca de La Codosera, a aldeia espanhola com mais presença lusitana. O número de portugueses nesta localidade é tão elevado que é o próprio idioma de Camões aquele que é mais ouvido nas suas ruas.
Um simples passeio por El Marco e por La Codosera denota bem a influência alentejana nestas aldeias. Para além do idioma e do número considerável de portugueses que aqui vive, também o estilo de construção das casas é muito semelhante ao do Alentejo. Nada diria que se acabou de passar a fronteira, a não ser o pormenor de a gasolina ser muito mais barata.
Marco e El Marco, duas aldeias irmãs separadas por uma pequena ribeira e unidas pela ponte internacional mais pequena do mundo, com apenas 6 metros, são o exemplo perfeito de que a União Europeia começou muito antes da assinatura dos tratados que aboliram as fronteiras.
Aqui, na raia alentejana, são apenas uma aldeia, como sempre foram ao longo dos séculos, mesmo que no papel esteja declarado que pertencem a países diferentes. Tal como noutras aldeias da raia, mais do que portugueses ou espanhóis, são vizinhos, irmãos e amigos. E assim deveria ser em todo o lado.