Portugal é um país com uma forte tradição de doçaria, seja aquela feita pelas avós e que foi passando de geração em geração, ou aqueles doces inventados por freiras e que se mantiveram até aos nossos dias. Os doces tradicionais portugueses são parte da cultura do país e quase todas as pequenas vilas e cidades têm o seu próprio doce regional.
Seja qual for o tipo de doce, o açúcar e as gemas de ovos são presença obrigatória. Mais a sul, as amêndoas e as nozes também marcam presença. Diz a lenda que as freiras usavam as claras dos ovos para engomar os hábitos e que, por isso, resolveram misturar as gemas que sobravam com açúcar. O resto é história. E seja verdade ou não, não podemos negar que Portugal tem uma grande variedade de pastelaria regional.
Em qualquer parte do país encontrará sempre um ou vários doces regionais, embora seja possível desfrutar de qualquer doce regional em qualquer parte de Portugal. Deixamos-lhe aqui uma seleção de 10 doces tradicionais portugueses aos quais não conseguimos resistir.
1. Pastel de Belém
Começamos com aquele que é, sem dúvida, o mais famoso doce português, consumido tanto no nosso país como no Brasil ou até na China. Apesar de existirem várias versões, o pastel de Belém original apenas pode ser encontrado na pastelaria ao lado de Mosteiro dos Jerónimos, na nossa capital, e que os fabrica desde 1837.
Depois da Revolução Liberal de 1820, todos os conventos e mosteiros de Portugal foram encerradas. Como forma de subsistência, os clérigos do mosteiro puseram à venda uns pastéis. A receita foi mais tarde vendida ao empresário português vindo do Brasil, Domingos Rafael Alves, e até hoje continua a ser um segredo bem guardado que está na posse dos seus descendentes.
2. Pastel de Tentúgal
Na vila de Tentúgal, no concelho de Montemor-o-Velho, encontra os conhecidos pastéis de Tentúgal. A história da vila confunde-se com a história deste doce conventual, que teve origem no convento de Nossa Senhora da Natividade, onde a Ordem das Carmelitas de Portugal vivia. Os pastéis nasceram da bondade de uma freira, que oferecia aos meninos da localidade algumas iguarias.
Um dia, esta freira resolveu experimentar, rechear uma massa muito fina com doce de ovos, e assim nasceram os pastéis de Tentúgal, que passaram a ser distribuídos entre os membros da alta sociedade portuguesa e que ainda hoje são muito populares.
3. Queijadas de Sintra
Já há referência às queijadas no século XIII, sendo que na altura este doce era usado como pagamento de foros. Pensa-se que a receita terá sido inventada no Convento da Penha Longa, em Linhó, mas era um pouco diferente da que hoje se usa, já que na época ainda não se conhecia a canela e o açúcar.
As queijadas de Sintra de hoje têm um recheio à base de queijo fresco, açúcar, ovos, farinha e canela, envolvido numa massa estaladiça. Sintra era um local ideal para a industrialização deste doce, já que havia por aqui uma abundante criação de gado e um excesso de queijo fresco.
4. Tortas de Azeitão
Em Azeitão, no concelho de Setúbal, pode encontrar um dos mais famosos doces do nosso país, as tortas de Azeitão. Pensa-se que a origem do doce está ligada à vila de Fronteira, no Alentejo, e que a receita foi levada para Azeitão no início do século XX por um familiar do dono da pastelaria “O Cego”.
Manuel Rodrigues, dono dessa pastelaria, juntamente com a mulher e a filha, foi o responsável pela criação e fabrico da torta, que ao início era vendida em fatias. Mais tarde, fixou-se o fabrico da torta de Azeitão como sendo um bolo individual.
5. Pudim Abade de Priscos
Na origem deste famoso pudim está o Abade de Priscos, um pároco da freguesia com o mesmo nome, no concelho de Braga. Manuel Rebelo (assim era o seu nome verdadeiro) foi considerado por muitos um dos maiores cozinheiros portugueses do século XIX, tendo mesmo cozinhado para o rei.
Esta foi uma das poucas receitas que ele transmitiu para o público, e que ainda hoje pode ser encontrada em várias confeitarias e restaurantes, sobretudo na zona de Braga. A consistência e aspeto de pudim Abade de Priscos são-lhe dados pelo toucinho, com o sabor mais evidente a ser o do vinho do Porto e da canela.
6. Brisa do Lis
As Brisas do Lis, assim chamadas em homenagem ao rio que banha Leiria, tiveram origem no século XVII, no Convento de Santa Ana. Depois de fechar o convento, a receita foi parar às mãos de uma devota, ligada ao Café Colonial, estabelecimento esse que esteve em funcionamento até ao final de 2013.
Ao longo do tempo, o segredo da confeção das Brisas do Lis foi-se espalhando, e hoje encontramos diversas confeitarias da cidade que as vendem. As receitas foram-se também multiplicando, até porque a receita original é um segredo bem guardado, mas a base é sempre a mesma: gemas, açúcar e amêndoa.
7. Toucinho do Céu
Feita à base de ovos e açúcar, esta é mais uma das sobremesas tradicionais portuguesas que teve origem num convento. Existem diversas receitas de Toucinho do Céu em diferentes regiões do país, mas pensa-se que a receita original foi criada pelas freiras do Mosteiro de Murça, em Vila Real.
Às gemas de ovos acrescenta-se amêndoas moídas ou doce de gila, mas a versão original continha também banha de porco, acreditando-se que o nome do doce venha desse ingrediente. Este doce é muito popular em Trás-os-Montes e no Alentejo.
8. Ovos moles de Aveiro
Aveiro encontra-se muito associada aos tradicionais ovos moles, que apenas se fabricam nesta cidade. Pensa-se que o doce foi produzido pela primeira vez em 1462, no Convento de Jesus. Com a extinção dos conventos, o fabrico dos ovos moles manteve-se graças a senhoras educadas pelas freiras desse convento, que mantiveram a receita original. Os ovos moles são feitos com gema de ovo, açúcar e água e cobertos por hóstias, podendo ter o formato de conchas, búzios e peixes.
9. Dom Rodrigo
Este doce tradicional da cidade de Lagos é um dos mais conhecidos da região do Algarve, e um bom exemplo de culinária que usa produtos da região, especialmente a amêndoa. O doce leva também fios de ovos, ovos moles, água, açúcar e canela. O Dom Rodrigo foi inventado no convento de Nossa Senhora do Carmo, e diz o povo que foi produzido para agradar ao governador e capitão-general do Algarve, D. Rodrigo de Menezes.
O doce foi servido de três formas ao longo da sua história: em forma de rebuçados, em taças de porcelana ou de vidro, e embrulhadas em papel metalizado, sendo esta última a versão mais conhecida. Hoje em dia, é um dos mais famosos e conceituados doces típicos do Algarve.
10. Travesseiro de Sintra
Este doce é feito com massa folhada, coberta com açúcar e recheada com creme de ovos e amêndoa. A sua história é relativamente recente, quando comparada com outras iguarias da pastelaria portuguesa, mas já se tornou um clássico. É impossível dissociar o travesseiro de Sintra da Casa Piriquita, pastelaria no centro histórico da vila.
Foi fundada em 1862, e deve o seu nome ao apelido que o rei D. Carlos I deu à fundadora da pastelaria, Constância Gomes, graças à sua baixa estatura. Foi nessa pastelaria que, em meados de 1940, a neta da fundadora, Constança Cunha, criou o travesseiro.