Terra de gente honrada e genuína, o Alentejo é também berço de algumas das tradições mais peculiares de Portugal. São parte da cultura deste maravilhoso povo e manifestam-se sob várias formas: olaria, gastronomia, artesanato, música. Várias tradições do Alentejo são Património Cultural Imaterial da Humanidade.
A grande maioria destas tradições nasceu nos meios rurais. Os chocalhos, o cante, os capotes alentejanos… Outras nasceram a partir de manifestações religiosas e ainda há as relacionadas com a gastronomia, que sofre uma marcada influência mediterrânica com uns toques árabes.
Muitas destas tradições estão em risco de desaparecer e, nos últimos anos, tem-se feito um esforço para as valorizar de novo e para as recuperar. Conheça um pouco mais sobre o seu próprio país e descubra 9 belíssimas tradições do Alentejo.
1. Chocalhos de Alcáçovas
Há mais de 2000 mil anos que se produzem chocalhos no Alentejo e a arte está quase a desaparecer. A sua importância cultural foi reconhecida e esta arte foi declarada Património Imaterial da Humanidade. Mas atualmente existem apenas 13 mestres a produzi-los.
O chocalho português produz um som inconfundível e, durante séculos, fez-se ouvir nas planícies do Alentejo. Com o abandono da pastorícia e o recurso às novas tecnologias, o seu uso foi-se tornando cada vez menos comum. Na freguesia de Alcáçovas existe o Museu do Chocalho, que conta com mais de 2 mil peças recolhidas ao longo de 60 anos.
2. Olaria Pedrada de Nisa
Não há mais nada assim em toda a olaria de Portugal. A tradicional olaria pedrada de Nisa consiste em desenhar motivos florais simétricos no barro ainda fresco e preenchê-los com pequenas pedras brancas. O resultado é uma olaria que prima pela beleza da sua simplicidade.
Trata-se de uma arte em risco de desaparecer e, nos últimos anos, a autarquia tem feito um esforço enorme para a reabilitar. Uma das ruas de Nisa foi mesmo calcetada utilizando os mesmos elementos decorativos deste tipo de olaria. O resultado é fantástico e digno de se ver!
3. Vinho de talha
Se gosta de vinho, saberá certamente que o Alentejo é rico neste néctar. Mas conhece o curioso vinho de talha, provenientes do Alvito, Cuba e Vidigueira? A cooperativa de vinhos local foi fundada em 1960, apesar de a cultura vinícola remontar à época dos romanos, que viram nos verões quentes e secos a base para vinhos de qualidade, que ainda hoje são feitos usando técnicas milenares.
Pode saber mais sobre o processo produtivo na Casa das Talhas. Mas o que são talhas? São grandes vasos de barro onde o vinho fermenta, que podem conter até mil litros de vinho e que ainda são feitos da mesma forma há 3 mil anos. O vinho de talha aguarda a nomeação para Património Cultural Imaterial da Humanidade.
4. Capote alentejano
Esta proteção contra o frio, usada tradicionalmente pelos pastores, tem-se mantido muito popular ao longo dos tempos, sendo usada tanto no dia-a-dia como em ocasiões de ostentação. Alguns locais fabricam estes capotes recorrendo ainda a técnicas e materiais ancestrais, o que dá à peça uma maior autenticidade. Assim, na sua visita, não perca a oportunidade de saber mais sobre a história desta peça e, quem sabe, de comprar um capote para si.
5. Tapetes de Arraiolos
Pouco se sabe ao certo sobre a origem desta maravilhosa tradição alentejana, mas suspeita-se que os tapetes de Arraiolos tenham origem árabe. Apesar de o ponto de Arraiolos já ter sido utilizado por outros povos europeus, sabe-se que os primeiros artesãos a produzi-los nesta vila alentejana terão sido comerciantes mouros expulsos de Lisboa no século XV.
Os artesãos mudaram-se então para Arraiolos e aqui aperfeiçoaram a sua técnica. São tapetes de elevada qualidade e podem custar milhares de euros, quantia justificada pelo muito trabalho que requerem.
6. Cante Alentejano
Esta é mais uma das tradições do Alentejo que é considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade. O cante alentejano é cantado sem recurso a qualquer instrumento e apenas se fazem ouvir as vozes dos homens e mulheres que o cantam. É comum em todo o Baixo Alentejo, especialmente na zona de Serpa.
Surgiu entre os trabalhadores rurais e das minas. Era cantado de forma informal e as suas letras estão relacionadas com o trabalho no campo, sentimentos e até amor, sendo que também existem músicas sobre a luta dos trabalhadores pelos seus direitos. Uma das canções mais icónicas do Cante Alentejano é a “Grândola Vila Morena”.
7. Bonecos de Estremoz
Há mais de 300 anos que se fazem estes bonecos de Estremoz, cujo nome técnico é “Produção de Figurado em Barro”. As imagens representam o quotidiano das gentes alentejanas, tanto na sua vertente rural como urbana. Estão referenciadas mais de 100 figuras diferentes.
A tradição terá começado com a produção de imagens de santos em barro. Continuando nos motivos religiosos, passou-se também a produzir os elementos que faziam parte do presépio de Natal. Mais tarde, começaram a ser produzidas imagens representativas de pastores, agricultores, etc…
8. Mantas alentejanas
A origem destas grossas mantas de lã remonta ao século 13, sendo uma tradição típica do Alentejo. Foram usadas inicialmente como proteção contra o frio pelos pastores, mas acabaram por se tornar essenciais para a decoração com o passar do tempo.
Existem versões de trabalho, simples e listradas, com padrões brilhantes, e hoje estas mantas são usadas como colchas, tapetes ou até como toalhas de mesa, e podem ser encontradas na maioria das lojas de artesanato.
9. Viola Campaniça
Muito popular em Castro Verde, a tradição da viola campaniça quase se perdeu nos anos 80 do século passado, quando apenas um trio de mestres a sabia tocar. Mas esse trio transmitiu os seus conhecimentos e a sua arte a um aluno que se mostrou interessado pela arte. E se a viola campaniça ainda vive nos dias de hoje, é graças a esse aluno, Pedro Mestre.
Depois de aprender a arte, Pedro Mestre dedicou-se a fazer um levantamento entre os mais idosos das músicas tocadas com a viola campaniça e hoje é ele que transmite esta arte aos alunos de Castro Verde. O interesse renovou-se e esta tradição ganhou um novo ânimo.