O castelo de Belver, que se ergue sobre uma imponente colina, teve a sua quota-parte de ação ao longo da sua história. Tudo começou com D. Afonso Henriques, rei da conquista, que avançou para sul deixando zonas por colonizar, sobretudo na zona do atual Alentejo. O castelo viria a ter uma importância crucial para a defesa do território português.
Estas zonas eram potencialmente recuperáveis por parte dos sarracenos num eventual contragolpe, o que se veio a verificar no início do reinado do seu filho, Sancho, que estava muito consciente das possíveis ameaças e assaltos de que várias povoações fronteiriças eram alvo.
As linhas cristãs viram-se inclusivamente obrigadas a recuar. Assim se construíram inúmeros castelos, para servir de tampão a investidas vindas do Sul. O medo da Reconquista por parte da força militar árabe levou a que muitos outeiros fossem escolhidos pela sua posição estratégica e servissem de base a diversas fortalezas à beira-rio.
Neste contexto, surge a decisão de elevar uma fortificação sobranceira ao Tejo, doando-se estes domínios à ordem dos Hospitalários. Belver foi o primeiro castelo nacional a pertencer a esta Ordem, e foi o seu mais importante bastião durante muito tempo. A novidade aqui consiste na escolha da Ordem, porque normalmente a escolha recaía nos Templários, que ocupavam já uma posição dominante na zona centro. Poderá ter sido essa parte da razão para a escolha da Ordem.
O castelo serviu o seu propósito fielmente ao longo do tempo, tendo tido bastante ação nas mãos de Nuno Álvares Pereira e mais tarde, durante a dinastia Filipina, o castelo tomou o lado de D. António, prior do Crato, e sofreu por isso. E depois, como aconteceu a outras fortalezas pela Europa afora, foi perdendo protagonismo e deixado à sua sorte, com a velhice a mostrar as suas marcas graças à pouca manutenção.
E com o Terramoto de Lisboa, em 1755, e o Sismo de Benavente, em 1909, passou a um estado de ruína. Assim ficou do século XVII ao início do século XX, servindo apenas como cemitério da vila que, entretanto, ia crescendo. A viragem deu-se na década de 40 do século XX, altura em que o castelo foi restaurado e ganhou um semblante próximo do atual.
Se visitar o castelo e tiver um olho bem treinado para a arquitetura militar, consegue notar semelhanças com o Castelo de Almourol. A cerca ovalada e a torre de menagem interior do Castelo de Belver não oferecem grandes surpresas, mas mesmo assim não podemos deixar de destacar a forma como o edifício joga com a arquitetura do terreno, a torre que cobre o portão principal, a curva em cotovelo antes de chegar ao topo do outeiro, e o adarve que acompanha a muralha e lhe reforça a amplitude de visão. Todas estas características eram inovadoras na época, e foram replicadas séculos depois noutras fortificações.
No interior, encontra-se uma capela do século XVI, de feições simples, mas com retábulo renascentista de valor, onde se encontravam algumas relíquias trazidas da Palestina que servem de base à lenda que que é alvo. E que lenda é essa?
Desde tempos antigos que se crê que Belver se tornou baú de cobiçadas relíquias trazidas maioritariamente da Terra Santa. Diz-se que, entre muitas outras, se encontravam aqui cabelos de Nossa Senhora, um anel e dedo de S. Brás, palhas da manjedoura onde nasceu Jesus, e parte da capa de S. Domingos.
Assim, Belver era destino de devoção, mas existiam aqueles que achavam que tal riqueza não podia estar ali, até porque o castelo podia ser tomado por árabes em qualquer altura, Assim, um cavaleiro de Malta entendeu que o tesouro deveria ser levado para Lisboa, e assim se fez.
Mas nem houve tempo de expor tais relíquias à fidalguia, porque, misteriosamente, os objetos rumaram numa barca Tejo acima e só pararam no sopé do cabeço de Belver. E ali ficou a barca, já que ninguém a conseguia mover.
Ora, o pároco local ouviu falar do milagre e organizou uma procissão à barca. Assim que se aproximaram desta, ela navegou finalmente até às margens. Dessa forma, as relíquias foram de novo guardadas no castelo, de onde não saíram mais. Alexandre Parafita cita Freia Vicente Salgado, que dizia que havia uma estátua de Gualdim no forte de Belver, e que os olhos dessa estátua apontavam para onde estava um tesouro.
Será que se referiria a Gualdim Pais, um dos mais conhecidos Mestres dos Templários, por lapso, confundindo-o talvez com Afonso Pais, o Hospitalário (já que o castelo esteve sob égide Hospitalar)? Não se sabe… o que se sabe é que o relato prossegue, dizendo-se que, após escavações feitas naquele local, se encontraram diversas moedas antigas.
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