É conhecida por ser um dos locais mais místicos, belos e secretos do Parque Natural da Arrábida, e tem atraído visitantes à gerações, devido à sua grande beleza. Falamos da Lapa de Santa Margarida, uma pequena gruta que alberga um santuário, num local onde a força do mar se sente com especial intensidade. O interior da gruta convida à contemplação e meditação, enquanto se ouve o barulho das ondas a bater na rocha.
A gruta em si é natural, e foi construída ao longo de milhares de anos, devido à força das águas, que escavou um pequeno túnel que se foi alargando até chegar aos cerca de 20 metros que hoje tem. Encontra-se a 5 metros do nível médio do mar e tem um interior repleto de estalactites e estalagmites, autênticas colunas que parecem aguentar o peso da montanha.
Segundo consta, existiam antigamente mais estalactites e estalagmites, que foram roubadas ao longo do tempo por pessoas sem qualquer formação cívica. Aliás, o vandalismo está bem patente em toda a gruta, e o próprio santuário encontra-se repleto de grafitis e com lixo pelo chão.
O santuário encontra-se ao fundo da gruta. É uma pequena ermida assente sobre duas colunas e ornamentada com um altar. A capela foi construída no final do séc. XVII ou inícios do séc. XVII, embora não se saiba ao certo a sua data de origem. O que se sabe é que, antes de aqui existir este templo, se praticavam neste local rituais de origem pagã e relacionados com a água e outros aspetos da vida espiritual.
A escolha desta gruta como local de culto, primeiro pagão e depois cristão, não é de todo surpreendente, já que o espaço emana uma aura de misticismo muito própria. E, apesar do evidente abandono do santuário, ainda é possível encontrar evidências de práticas religiosas, como estátuas de cera, fotografias e velas no pequeno altar, assim como outros objetos que indiciam a prática de certos rituais de “magia negra”.
A escolha de Santa Margarida como orago deste pequeno santuário pode estar relacionada com a gruta, já que esta santa é padroeira das mulheres grávidas. Assim, um santuário numa gruta, que lembra um útero, e rodeado de água, pode muito bem ser o local perfeito para venerar Santa Margarida.
Até há décadas, a pequena capela albergava 3 imagens: a da Nossa Senhora da Conceição, a de Santo António, e a de Santa Margarida. Esta última foi transportada para o Convento da Arrábida, por forma a ser protegida da degradação e do vandalismo, mas são se sabe o destino das restantes estátuas.
Se quiser visitar este local, não é difícil encontrar o trilho de acesso. Se seguir a rua do portinho da Arrábida, encontra do lado esquerdo uma casa branca com um enorme muro branco, lar de férias da Casa do Gaiato. Do lado oposto da rua (ou seja, no lado direito da rua) encontra um caminho de gravilha, que conduz à gruta.
Seguindo esse caminho, vai encontrar uma escadaria à sua esquerda. Se descer os mais de 200 degraus, vai chegar a um miradouro junto ao mar, onde poderá depois aceder a uma pequena escadaria que serve de acesso à gruta.
No entanto, tenha em atenção que a Lapa de Santa Margarida não deve ser visitada em dias de tempestade ou em alturas em que o mar está agitado. Isto porque a entrada se encontra quase ao nível da água, e, quando as ondas estão fortes, é muito fácil ser-se arrastado para o mar.
Tal como acontece noutros locais do género, a gruta encontra-se ligada a diversas lendas e histórias. Por exemplo, diz-se que, a partir da Lapa, seguia um profundo túnel que acabava no Convento da Arrábida.
Outra lenda diz que um grupo de marinheiros, fugindo de piratas, encontrou refúgio nesta gruta, e que foram eles a construírem a pequena capela como gesto de agradecimento por terem sobrevivido à aventura.
Lendas à parte, a verdade é que o Parque Natural da Arrábida é um local repleto de riquezas naturais e patrimoniais, assim como espaços que combinam essas duas vertentes, como é o caso da Lapa de Santa Margarida, que merece ser visitada pelo menos uma vez na vida.