A história do morabitino, a primeira moeda de ouro cunhada no Reino de Portugal, leva-nos a recuar ao século XII. O seu nome, de inspiração islâmica, tem origem no árabe al-murâbiTî, nome dado à dinastia que governou o Norte de África e a Península Ibérica durante os séculos XI e XII. A cunhagem desta moeda teve início no reinado de D. Sancho (1185-1211) e terminou no reinado de D. Sancho II (1223-1248).
As primeiras emissões dos morabitinos tinham entre 3,82 e 3,6 gramas. No reinado de D. Sancho I, o rei surge representado na moeda com a coroa na cabeça, de barba longa e a segurar um cetro com uma cruz numa mão e, na outra, uma espada, estando o rei montado num cavalo aparelhado para a guerra.
Por sua vez, na outra face, o escudo do rei tem um conjunto de cinco escudetes em cruz, cada um com quatro besantes em aspas e cantonados por quatro estrelas de sete pontas, o que representa uma das mais antigas representações do brasão de armas do Reino de Portugal.
Os letreiros dividiam-se pelas duas faces desta moeda, onde se podia ler uma invocação à Santíssima Trindade e o nome do rei: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ámen. Sancho, rei de Portugal”.
O morabitino circulou ao mesmo tempo que outras moedas de baixo valor, sendo usado para quando era necessário pagar grandes somas de dinheiro (uma vez que valia 180 dinheiros) ou até mesmo como instrumento de soberania e propaganda ao serviço do rei.
Por sua vez, no século XIII, D. Sancho II deu continuidade à emissão em ouro, que tinha sido desenvolvida pelo seu pai, D. Afonso II. Assim, ordenou a cunhagem de um novo morabitino, numa altura marcada pela guerra com o islão, pelos conflitos com o clero e pela guerra civil que opôs o rei ao seu irmão mais novo, D. Afonso, um conflito que acabaria com a sua própria deposição.
Portanto, nesta versão do morabitino, o rei aparece com coroa e barba, montado num cavalo aparelhado e a segurar uma espada longa nas mãos. Na outra face, aparece novamente o rei, personificando um ideal de realeza guerreira, associada ao seu brasão (herdado dos seus antepassados).
Nesta moeda, os letreiros apenas dizem “Moeda do senhor Sancho, rei dos portugueses”. É interessante que se tenha cunhado “rei dos portugueses” e não “rei de Portugal”, sendo este um reflexo de um momento na história em que ainda se estava a construir uma ideia do que é a monarquia a nível nacional, assim como a definir-se as fronteiras do reino.
Quanto a D. Sancho II, foi excomungado na sequência da emissão de uma bula papal, que deu o trono ao seu irmão Afonso. Acabou por se refugiar em Castela, onde viria a morrer.
Mas ainda podemos ver pelo menos um vestígio do seu reinado – nada mais, nada menos que um morabitino, único no mundo, que se encontra em exposição no Museu do Dinheiro, e que é uma das moedas mais emblemáticas da coleção da Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Se leu o texto atentamente, percebeu com toda a certeza que o Morabitino não foi a primeira moeda oficial de Portugal. Foi a primeira a ser cunhada em ouro, é certo, mas antes disso já eram cunhadas moedas em outros metais. A primeira foi mandada fazer por D. Afonso Henriques e tinha o peculiar e pouco original nome de “dinheiro”.
Depois do “dinheiro”, foi a vez do morabitino ganhar preponderância, assumindo-se como a moeda mais valiosa em circulação. Em 1457 surge o Cruzado de Ouro, que viria a tornar-se na divisa principal do reino. Seguiu-se o Cruzado de Prata, cunhado pela primeira vez em 1642.
Durante todo este tempo, uma outra moeda circulava em paralelo: o Real. Teve origem no tal famoso “dinheiro” e o seu nome e formato foi evoluindo ao longo dos tempos e convivendo com outras moedas. O Real acabou por ver o seu nome adaptado para “Reis”.
Seguiu-se depois o Escudo, que tantas saudades deixou e do qual ainda hoje muita gente guarda memória. Aliás, as saudades são tantas que ainda existem milhões deles nas casas dos portugueses. O final da história, já todos a conhecemos: o euro chegou em 1999, substituindo definitivamente o Escudo em 2002.
As primeiras moedas portuguesas terão sido cunhadas ainda no reinado de D. Afonso Henriques. Eram pequenos exemplares metálicos produzidos a partir de uma liga de cobre e prata e que exibiam a cruz de Cristo.
Circularam juntamento com moedas ainda de origem romana e muçulmana. Os reis godos como por exemplo Dom Rodrigo também cunharam moedas. A cunhagem de moedas era e ainda é uma demonstração de soberania.