Quem passa pelas ruínas da aldeia dos Alares, no meio da terra xistosa e seca do Tejo Internacional, no concelho de Idanha-a-Nova, não sabe as histórias que aquelas pedras têm para contar. Alares, tal como as aldeias de Cobreira e Cegonhas (Velhas), igualmente abandonadas, tiveram origem em inícios de 1800, por alturas da Segunda Invasão Francesa.
Junot envia as suas tropas por vários percursos a partir de Espanha, sendo que um deles ia de Segura até Castelo Branco. Com medo dos franceses, a população de Malpica do Tejo e de Monforte da Beira fugiu para os campos.
As tropas francesas, aquarteladas em Castelo Branco, aterrorizavam as terras em volta, pilhando e destruindo, o que levou a que o povo começasse a cultivar, às escondidas, a região fértil entre o rio Aravil e o Tejo.
O esconderijo não podia ser mais perfeito -ainda hoje os caminhos são difíceis. Em poucos anos, criaram-se os três povoados, que se distinguiam por os seus habitantes não terem de pagar nada pela utilização das terras.
Quem habitava a região era chamado de Montês e vivia em casas baixas de xisto, com a porta de entrada a servir de principal fonte de luz natural. O uso de barro e de prateleiras de xisto a fazer de armários era comum, existindo ainda hoje vestígios da prática.
Por volta de 1865, a aldeia da Cobreira recebeu um foragido político, o Visconde Morão, que se declarou dono daquela vasta área, englobando as três aldeias numa única propriedade. A situação foi aceite pelos habitantes sem qualquer protesto, e começaram a pagar o foro anual ao Visconde, e mais tarde ao seu filho, José Guilherme Morão.
Foi só quando este faleceu, em 1920, que os problemas começaram. Os herdeiros comunicaram imediatamente à população das aldeias para abandonarem os seus terrenos, casas e pertences.
O povo recorreu ao Governador Civil de Castelo Branco, que os aconselhou que se mantivessem nas aldeias até a propriedade dos herdeiros ser comprovada, uma vez que esta era tida como duvidosa.
Os herdeiros, sem se entenderem e receosos da descoberta da ilegítima apropriação, venderam os terrenos, no dia 6 de outubro de 1923, aos habitantes do Rosmaninhal, população sobranceira aos terrenos.
Esta escritura lançou os habitantes do Rosmaninhal contra os três povos, numa luta em que cerca de 3 mil habitantes do Rosmaninhal se lançaram a cerca de 1200 habitantes das três aldeias, dispersas umas das outras, o que dificultou a sua proteção.
A 7 de outubro, Alares foi invadida, numa guerra que devastou campos e onde se queimaram celeiros e se destruíram alfaias e arados. Seguiram-se as aldeias de Cegonhas (Velhas) e de Cobeira, sucedendo-se ao longo do mês de novembro os mais variados atos de vandalismo e violência.
Os atos de pilhagem, roubo, vandalismo e as ameaças constantes à vida dos habitantes sucederam-se ao longo dos anos, até que a população das aldeias foi aconselhada a abandonar as suas casas.
Só em 1930 se resolveu o conflito, sendo as terras expropriadas pelo Governo e distribuídas aos diferentes povos em parcelas equitativas, num sorteio justo e planeado.
Os habitantes de Alares, no entanto, acabaram por se fixar na atual aldeia das Soalheiras. O povo das Cegonhas (Velhas) criou um pouco mais longe a aldeia de Cegonhas (Novas), e o povo de Cobeira distribuiu-se por estas, indo algumas pessoas para Monforte, Malpica, Ladoeiro e Couto das Correias.