No dia 13 de janeiro de 1759, quando o carrasco acabava de trucidar, em Belém, o último membro da família dos Távoras, quebrava-se o poder da alta nobreza, vergado pelo despotismo esclarecido de Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro de D. José I e futuro Marquês de Pombal. Este massacre chocou a Europa da altura, pela brutalidade com que foram tratados os membros da família Távora, sob o pretexto de uma tentativa de regicídio.
Tudo começou a 3 de setembro de 1758, quando, por volta das onze da noite, o rei voltava ao palácio da Ajuda, vindo de um encontro amoroso clandestino. Quando passava D. José I, no lugar onde hoje se encontra a Igreja da Memória, surgiram três cavaleiros e soaram tiros, tendo o rei sido atingido no braço e na anca direita. O rei recuperou e mandou o seu ministro descobrir e castigar de forma exemplar os autores daquele ataque.
Na corte todos sabiam que D. José I, de 44 anos, era amante de Teresa de Távora e Lorena, de 35 anos, a esposa do 4º marquês de Távora, Luís Bernardo (de quem também era tia). Teresa era chamada de “marquesa nova”, para se distinguir da sua sogra, D. Leonor, a “marquesa velha”. O patriarca da família era o 3º marquês, D, Francisco de Assis, antigo vice-rei da Índia.
Assim, esta era uma das famílias mais poderosas do reino, estando ligada às casas de Aveiro, Cadaval, São Vicente e Alorna. Eram também acérrimos inimigos do Marquês de Pombal, que achavam ser um novo-rico sem educação. D. Leonor era também uma católica com forte afiliação aos jesuítas, que eram detestados pelo ministro de D. José I.
Portanto, a investigação ao atentado do rei revelou que a culpa era dos Távoras, magoados pela relação adúltera do soberano com D. Teresa. A eles, juntava-se o duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas, ligado à família Távora pelo casamento e que tinha sido prejudicado numa questão de heranças pelo rei e pelo seu ministro, que também impediram o casamento do seu filho com a filha do duque de Cadaval.
Seriam estes os motivos pelos quais se terá realizado o atentado a D. José I, ou, pelo menos, assim se fez querer parecer. A investigação manteve-se secreta até que, numa madrugada de dezembro, se fizeram diversas detenções.
Os réus foram interrogados, recorrendo-se, como era costume, à tortura, e foi este mesmo interrogatório que esteve na base da sentença, dada a 12 de janeiro de 1759. Os acusados foram condenados pelo crime de “lesa-majestade, alta traição, rebelião e parricídio” (porque o rei era o pai da nação).
No dia seguinte, os acusados foram executados, no local onde hoje está um pelourinho, a dois passos da casa dos pastéis de Belém. A sua sentença foi impressa em folhetos ilustrados, para que todos vissem o que ia ser feito à família Távora.
Assim, a 13 de janeiro de 1759, subiu primeiro ao cadafalso D. Leonor. Mostraram-lhe os instrumentos de tortura e descreveram-lhe ao pormenor os suplícios que o marido, filhos e genro iriam passar em breve.
Depois, a marquesa foi decapitada. Seguiram-se o Távora mais jovem, José Maria, com 22 anos; o marquês novo, Luís Bernardo; o conde da Atouguia, cunhado dos anteriores; e os plebeus Manuel Álvares, João Miguel e Brás Romeiro. A todos eles lhes partiram os braços e pernas, e todos foram torturados na roda e estrangulados.
O marquês velho mal se conseguia arrastar até ao patíbulo, tal era o efeito das torturas a que foi sujeito. Também a ele lhe partiram os braços e as pernas à mocada, antes de ser passado pela roda e estrangulado. Igual destino teve o duque de Aveiro.
O último dos supliciados foi o criado António Álvares Ferreira, que foi queimado vivo por ter sido ele a disparar os tiros que atingiram o rei. O único condenado que conseguiu fugir, José Policarpo de Azevedo, foi queimado em estátua.
Os corpos de todos os condenados foram queimados e as suas cinzas lançadas ao Tejo. No local onde se realizaram as execuções, foi espalhado sal, para que nada pudesse ali crescer, e o nome Távora foi banido.
Outros membros da família foram presos no forte da Junqueira, e as mulheres fechadas em conventos, incluindo a amante do rei, que foi encerrada nas trinitárias do Rato.
Anos mais tarde, quando já reinava D. Maria I (filha de D. José I), ordenou-se a constituição de um Tribunal, formado por 18 membros, para reapreciar todo o processo que levou à condenação dos Távora.
Uma vez concluído, o Tribunal negou a sentença condenatória, em especial na parte que dizia respeito aos marqueses de Távora, por não se provar que eles fossem culpados ou cúmplices no atentado.
O mesmo Tribunal decidiu restituir as famílias às suas honras, reconhecendo-lhes o direito ao uso dos seus títulos. Como é fácil de ver, isto foi fraco consolo para os que já tinham sido humilhados e assassinados. E assim se recebe uma lição do passado sobre a pena de morte: uma vez aplicada, não se pode voltar atrás, mesmo que os acusados sejam inocentes.