A rainha D. Carlota Joaquina viveu num dos períodos mais conturbados da história, mas, mesmo assim, a sua ambição política e a sua personalidade forte marcaram profundamente países como a Espanha, Argentina, Portugal e o Brasil. Entrou para a história como uma mulher controversa, com os seus inimigos a acusarem-na de envenenamento, adultério e a descreverem-na como um ser débil e incomodativo.
Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bourbon-Parma nasceu a 25 de abril de 1775, no Palácio Real de Aranjuez, em Madrid. D. Carlota passou os seus primeiros anos de vida na corte espanhola, próxima do avô Carlos III, de quem era a neta preferida. Devido a essa preferência, e ao facto de ser primogénita do príncipe herdeiro, o seu casamento sempre foi uma questão de Estado.
Em 1778, a consorte do rei português D. José I, a rainha D. Mariana Vitória de Bourbon visitou Madrid e discutiu com o monarca espanhol a possibilidade e os benefícios de um casamento entre D. Carlota e o seu neto, o príncipe D. João. As negociações duraram vários anos. Até que o destino de D. carlota foi selado. Em maio de 1785, com apenas 10 anos, D. Carlota casou-se com o infante D. João Maria de Bragança, que tinha 18 anos e que tinha os títulos de senhor do infantado e duque de Beja.
D. carlota foi recebida com algum receio na corte, por ser espanhola, e procurou refúgio na sua sogra, a rainha D. Maria I, que ascendeu ao trono em 1777. Anos mais tarde, a partir de 1788, aconteceram inúmeros eventos que mudaram a vida de D. Carlota radicalmente.
A 11 de setembro desse ano, o irmão mais velho de D. João (e herdeiro do trono), D. José, falece, com 27 anos. Dessa forma, D. carlota e o seu marido tornam-se os herdeiros do trono. De seguida, a sua sogra, não suportando as perdas por que passou, acabou por enlouquecer, convertendo-se D. João em regente no ano de 1793.
D. Carlota Joaquina era uma mulher com uma forte personalidade e grandes ambições. Em 1806, D. João descobre que a sua esposa tramava contra ele, quando percebe que a infanta enviou uma carta ao seu pai, que tinha ascendido ao trono espanhol em 1788, incitando-o a invadir Portugal.
Mas, apesar da sua constituição física delicada e de o relacionamento com o marido não ser de todo ideal, D. Carlota concebeu nove filhos: D. Maria Teresa, D. Francisco António, D. Maria Isabel, D. Pedro, D. Maria Francisca, D. Isabel Maria, D. Miguel, D. Maria da Assunção e D. Ana de Jesus Maria.
Em 1807, as tropas de Napoleão, comandadas pelo general Junot, invadiram Portugal, como punição por o país não ter aderido ao Bloqueio Continental que o imperador francês impôs à Inglaterra.
Aterrorizado, o príncipe regente decidiu fugir para o Brasil, acompanhado da família real e da corte. A 19 de novembro de 1807, abandonam o país, com as cenas de dor do povo português, se se viu sozinho, a perdurarem no nosso imaginário até aos dias de hoje.
Toda a corte desembarcou no Brasil em janeiro de 1808, tendo sido recebida em festa pela população. Mas a partida para outras terras não refreou os ânimos políticos de D. Carlota Joaquina.
Em 1808, o seu pai foi deposto do trono espanhol por José Bonaparte. Então, D. Carlota candidatou-se a assumir a regência de Espanha, no caso de José Bonaparte ser retirado do poder.
Nesse mesmo ano, pretendia também converter-se na autoridade máxima do Vice-Reino do Rio da Prata (atual Argentina) e do Vice-Reino do Peru, alegando que era a única representante legítima da casa de Bourbon espanhola que não tinha sucumbido ao poder de Napoleão.
Na altura, D. Carlota não foi bem vista devido às suas ambições. Hoje em dia, no entanto, os historiadores têm uma opinião mais moderada da sua posição em relação ao Rio da Prata.
Seja como for, o que é certo é que ela nunca conseguiu alcançar o seu objetivo, pois, apesar de ter reunido um grande número de seguidores, o governo espanhol jamais a reconheceu como sua representante no exterior.
A 20 de março de 1816, D. maria I falece no Rio de Janeiro, e o casal de regentes torna-se finalmente em reis de Portugal e Algarves, e em imperadores honorários do Brasil.
No entanto, a situação política em Portugal tornou-se insustentável, do ponto de vista político e social. Em janeiro de 1821, as Cortes pediram o regresso dos monarcas, para apaziguar os confrontos, e, nesse mesmo ano, em julho, os reis voltam para Portugal.
A causa absolutista de D. Carlota Joaquina ficou então muito debilitada, tendo ela passado a residir na Quinta do Ramalhão, por se ter a rainha recusado a assinar a Carta Magna, tendo inclusivamente perdido o seu título. D. Carlota começa então a conspirar contra o governo, através do seu filho preferido, D. Miguel, que liderou uma revolta absolutista já após a morte do pai, em 1826.
Após a morte de D. João VI, sobe ao trono D. Pedro IV, que, posteriormente, abdicou para a sua filha D. Maria da Glória (a futura D. Maria II). Quanto a D. Carlota Joaquina, faleceu a 7 de janeiro de 1830, com 54 anos, depois de uma vida conturbada e cheia de tramas políticas.
Algumas pessoas afirmam que terá cometido suicídio, devido ao seu isolamento e afastamento dos filhos, embora nada tenha sido confirmado. Foi sepultada no Panteão Real da Dinastia de Bragança, ao lado do marido, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, onde repousa até hoje.