Em tempos antigos, os recursos existentes eram muito limitados e, por isso, não é de admirar que os mapas antigos não tenham o mesmo rigor que os atuais. Mas isto não retira valor aos antigos mapas, com os quais podemos aprender imenso. Por exemplo, sabe qual é o mapa mais antigo de Portugal? Nele, podemos encontrar diversas curiosidades que ainda hoje nos deixam maravilhados.
Este mapa surge durante o curto reinado de D. Sebastião, que envia uma embaixada a Roma para tratar de assuntos de Estado. O embaixador escolhido foi Lourenço Pires de Távora, que, uma vez chegado a Roma, foi acompanhado por Aquiles Estaço, latinista notável que deu a Guido Sforza, cardeal protetor de Portugal, um mapa do nosso país, feito por Fernando Álvares Seco.
Não se conhece o paradeiro do original, mas a Biblioteca Nacional adquiriu o exemplar mais antigo do mapa, datado de 1561. Ao longo do tempo, foram difundidas versões desse e de outros mapas baseados no original de Álvares Seco, um pouco por toda a Europa, fazendo parte de alguns atlas e publicações, embora com algumas alterações.
O original que encontramos na Biblioteca Nacional é deveras surpreendente, começando pela sua orientação: o Oeste encontra-se no topo. Neste mapa, Portugal figura como a “cabeça” da Europa, construção erudita de um Portugal ainda denominado Lusitânia.
No mapa, podemos ver centenas de cidades, vilas e aldeias, sendo já visível uma maior densidade populacional na costa. Apareciam também destacadas as sedes episcopais, inscrevendo-se sobre o documento as cinco comarcas e o Reino do Algarve.
O segundo grande tema do mapa é a rede hidrográfica, com todos os rios a parecerem nascer no nosso país (com exceção do Minho, Tejo e Guadiana, que se parecem prolongar para o interior da Península).
A configuração dos cursos de água assume um desenho bastante fechado, dando uma ideia de isolamento, até porque o foco estava apenas em Portugal. Outro pormenor curioso é a presença das armas da Galiza, do Reino de Leão e do Reino da Andaluzia, que circundam Portugal, que se apresenta uno e coeso sobre as quinas e o escudo de castelos.
Apesar de poderem ter existido mais, existem cerca de 20 exemplares do mapa de 1561, existindo apenas um exemplar na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Posteriormente, a Biblioteca Nacional de Portugal decidiu adquirir um outro exemplar desse mesmo mapa, também de 1561.
Este exemplar era até agora desconhecido, provavelmente por fazer parte de um atlas da chamada “Escola de Lafreri”. Este mapa apresenta vincos de dobragem, por ter feito parte do atlas. Apresenta também umas lamentáveis amputações nas margens esquerda e direita.
Mesmo assim, apesar de a imagem que nos aparece na Área de Cartografia da Biblioteca Nacional de Portugal se nos revelar algo truncada e amputada, este não deixa de ser um valioso tesouro cartográfico, sendo o primeiro mapa de Portugal conhecido.
Importa referir que Portugal desempenhou um papel muito importante na área da cartografia, tendo obtido um enorme destaque mundial neste campo. Isto por causa das navegações marítimas na época dos Descobrimentos, que obrigaram os portugueses a desenvolver a arte de cartografar aquilo que iam encontrando ao longo das suas viagens.
Os mapas portugueses tornaram-se, por isso mesmo, numa referência mundial e eram, muitas vezes, autênticos segredos de estado. É que, naquele tempo, os mapas com informações sobre as costas de África ou da América ou sobre os ventos e rotas para a Índia eram considerados valiosíssimos e por isso era comum a existência de espiões cujo único objetivo era ter acesso aos mapas feitos pelos portugueses.
No caso deste mapa específico, não havia necessidade de tanto secretismo. A informação nele contida não era valiosa para as potências estrangeiras mas sim para o reino português. É que, conhecer bem o país, com as suas fronteiras, vilas, cidades, montanhas e rios, era crucial para o ordenamento e desenvolvimento do mesmo.