Portugal é um país com uma longa história, e é natural que existam diversos episódios curiosos, sejam eles com membros do povo, sejam eles com a nobreza ou com a própria Família Real. Neste artigo em específico, vamo-nos concentrar em D. Pedro I, protagonista de uma das histórias de amor mais conhecidas no nosso país, mas que era também uma figura pouco consensual. Ficou conhecido pelos cognomes de “o Justiceiro” e “o Cruel”.
D. Pedro I sucedeu ao seu pai Afonso IV, em 1357. Durante a vida do seu pai, várias foram as contendas que os ligaram, valendo apenas a intervenção da Rainha D. Beatriz de Castela para manter a paz no país e na sua família. Casou com D. Constança Manuel, com a qual teve 3 filhos (um deles, afilhado de D. Inês de Castro, viria a falecer com poucos dias).
Mas ficou para a história pelos seus amores com D. Inês de Castro, com a qual teve 4 filhos. Foi graças ao seu romance com Inês que construiu em seu redor uma lenda de vingador e de honrado, tendo executado dois dos responsáveis pela morte da amada a sangue frio, assim que tomou as rédeas do reino. O terceiro responsável conseguiu fugir de Portugal atempadamente.
Nessa execução, que ocorreu em 1360, o rei mandou que o coração dos implicados fosse arrancado com eles ainda vivos. O coração de um foi arrancado pelo peito e o de outro foi arrancado pelas costas.
Tudo isto aconteceu enquanto o rei assistia e comia a sua refeição, segundo dizem as lendas. Após a sua coroação, também tornou Inês de Castro rainha postumamente, dizendo-se que a coroou e obrigou a corte a beijar-lhe a mão (embora não haja evidências de que este episódio seja verdadeiro).
Mas para além de ficar conhecido como “o Justiceiro”, D. Pedro I ficou também com o epíteto de “o Castrador”, não só por aplicar esse castigo liberalmente, especialmente em casos de adultério, como por ser esse o castigo que aplicou a um dos seus escudeiros, alegadamente por ciúmes.
É que se diz que este rei era bissexual, e que mantinha uma relação com esse mesmo escudeiro. Apesar disso, grande parte dos historiadores não vê quaisquer indícios de que esse tenha sido efetivamente o caso.
Verdade ou não, o que se sabe é que o escudeiro Afonso Madeira era um bom lutador e estava em boa conta com o rei antes de se dar o episódio. Num texto d’ “As Crónicas de Fernão Lopes – Em Português Moderno”, de António José Saraiva, encontramos o seguinte excerto acerca de Afonso: “Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês.”
O que é igualmente certo é que, após se ter apaixonado pela mulher do corregedor, o escudeiro foi castigado pelo rei, que o mandou castrar. Segundo o mesmo Fernão Lopes, foi o afeto do rei ao escudeiro, e não a traição em si, a causa do castigo: “Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro (mais do que se deve aqui dizer)…”
Afonso Madeira sobreviveu à castração, mas certamente nunca mais foi o mesmo. É claro que este não foi o único episódio mais sangrento protagonizado por D. Pedro I.
Por exemplo, ele mandou degolar dois dos seus criados por roubarem e matarem um judeu que vendia especiarias e humilhou o bispo do Porto, que foi despido e açoitado em público por se ter envolvido com uma mulher casada.
Outro episódio envolve também uma traição, tendo D. Pedro I ordenado que a mulher adúltera fosse queimada, e o seu amante foi degolado. Quanto ao marido, apenas descobriu tudo quando a sentença estava cumprida.
Figura pouco consensual, mesmo na sua época, D. Pedro I acabou por reinar durante apenas 10 anos, tendo falecido a 18 de janeiro de 1367. Encontra-se sepultado no Mosteiro de Alcobaça, ao lado da sua amada D. Inês de Castro.