Para chegar à Aldeia Galega da Merceana, local com um nome tão singular, teremos de atravessar os campos bucólicos da zona saloia, ricos em vinhedos, pomares, capelas, ermidas e povoações dispersas, que vão cortando a paisagem. A Aldeia Galega da Merceana situa-se num pequeno outeiro, com ruas e ruelas concentradas, onde as casas convivem com os templos e se destacam dos campos à volta.
O local tem ocupação antiga, como comprovado pelos achados de Hipólito Cabaço, que, perto de 1930, foi o responsável por encontrar uma estação eneolítica, de onde retirou dois machados polidos, perto da Aldeia Galega da Merceana.
Este homem, natural desta localidade, tinha emigrado para França em 1901, onde encontrou a sua paixão, a arqueologia. Regressou a casa em 1903 e iniciou uma próspera exploração da zona Oeste. As suas recolhas encontram-se sobretudo no museu com o seu nome, em Alenquer.
Apesar desta ocupação, a aldeia em si é mencionada pela primeira vez na Reconquista, altura em que a Estremadura era pouco povoada e desenvolvida, por ser um espaço de fronteira e guerra.
Com a paz, tornou-se possível a colonização destes espaços, com os colonos a virem de muitos locais, incluindo do Norte, onde a povoação galego-portuguesa participava conjuntamente nos mesmos fluxos demográficos. Assim sendo, o topónimo de Galega desta aldeia deverá vir dos seus colonizadores da segunda metade do século XII.
O local teve alguma importância na história de Portugal, tendo obtido foral de D. Dinis (que o tornou donatária da Casa das Rainhas) e, mais tarde, de D. Manuel I. O concelho acabou por ser extinto em 1855 e integrado no município de Alenquer, perdendo a sua importância.
Desde então, a sua perda de relevância culminou na sua fusão com a freguesia de Aldeia Gavinha, em 2013, embora permaneça como sede. Isso não impede que este ainda seja um dos centros de produção vinícola mais ricos do concelho, contando igualmente com uma atividade agrícola de relevo.
A povoação em si ainda mantém a sua traça medieval, com as casas a encostarem-se umas às outras e exibindo pormenores tradicionais, como a beirada à portuguesa e o típico friso azul. Iremos encontrar dois largos, que são os principais núcleos nevrálgicos da população, locais onde se concentram as principais atrações.
Um deles é o largo do Pelourinho, onde iremos encontrar, claro, um pelourinho secular com decoração ao estilo manuelino e que apresenta o brasão do antigo concelho e que, na base, tem a inscrição do ano 1414, o que em muito pode confundir os visitantes, até porque o foral manuelino data de 1513.
No mesmo largo, podemos também admirar o fontanário e a Casa da Rainha, atual sede da freguesia. Para além da escadaria e porta datadas de 1738, não podemos deixar de salientar a cabeça quinhentista, isolada na parede. Mesmo ao lado, vamos encontrar a Igreja da Misericórdia, que remonta ao século XVI.
De destacar também o convento de Santo António de Charnais, que foi cedido no século XVII pela rainha D. Catarina de Bragança para a construção de um hospital, que ainda hoje funciona como um centro de apoio social da zona.
O segundo ponto nevrálgico da Aldeia Galega da Merceana é o Largo Divino Espírito Santo, no qual podemos encontrar a capela do Divino Espírito Santo, que já existia no século XVI, e que se encontrava em ruínas em 1873.
No mesmo largo, podemos encontrar a magnífica Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, com a fachada azul e branca a destacar-se, servindo de preâmbulo para o esplendor do seu interior, rico em detalhes barrocos e rococó. Não podemos deixar de destacar os seus elementos mais antigos, que são a sua pia batismal e uma gravação na capela funerária, de 1556.
O terramoto de 1755 deixou marcas profundas neste templo, obrigando a uma nova remodelação pombalina, bem patente nos azulejos da nave e nas talhas dos púlpitos e retábulos, que em muito contribuem para a beleza deste templo. Por fim, nas suas traseiras, poderá suplementar a viagem visitando um pequeno jardim, que se encontra cheio de alfazema, que dá cor e cheiro ao local.