Ceuta, cidade autónoma espanhola situada no Norte de África, mantém até hoje um elo visual e histórico com Portugal. A sua bandeira e brasão são testemunhos vivos da presença portuguesa que marcou a identidade local durante mais de dois séculos.
Esta herança reflete-se não só em símbolos, mas também na forma urbana e no espírito da cidade, que se apresenta como um ponto de encontro entre a Europa e África.
A 21 de agosto de 1415, sob o comando de D. João I, Portugal iniciou a sua expansão marítima com a conquista de Ceuta. Esta ação estratégica tinha como objetivo controlar as rotas comerciais do Mediterrâneo e do Atlântico, além de ser vista como uma oportunidade para afirmar o poder português além-mar.
A cidade tornou-se, assim, o primeiro território ultramarino de Portugal, abrindo caminho à época dos Descobrimentos.
A presença portuguesa trouxe mudanças estruturais significativas. O urbanismo de Ceuta foi reorganizado, consolidando-se um modelo que ainda hoje persiste. A cidade adquiriu um carácter europeu no meio do continente africano, tornando-se um importante bastião da cultura ocidental na região.
Em 1640, quando Portugal restaurou a sua independência após o domínio filipino (1580-1640), Ceuta optou por permanecer sob administração espanhola. A cidade, então maioritariamente habitada por portugueses, rejeitou a reunificação com Portugal e alinhou com Madrid. Desde então, Ceuta tem sido considerada território espanhol, sendo equiparada às comunidades autónomas do país.
Apesar da transição política, a ligação a Portugal nunca desapareceu por completo. O brasão de Ceuta continua a ostentar as armas do Reino de Portugal, praticamente idênticas às utilizadas na época da sua administração portuguesa. A única diferença assinalável está na disposição das torres na bordadura, que seguem um arranjo ligeiramente distinto do original português.
A bandeira de Ceuta é inspirada na de Lisboa, composta por um padrão gironado de preto e branco. Este desenho foi adotado quando a cidade foi conquistada por Portugal e manteve-se mesmo após a integração na coroa espanhola.
O brasão, colocado ao centro da bandeira, contém os cinco escudetes e as quinas portuguesas, reforçando a ligação histórica a Portugal.
Estes símbolos são reconhecidos localmente como fazendo parte da identidade da cidade. O próprio presidente da cidade autónoma, Juan Jesús Vivas, reconheceu publicamente a importância da presença portuguesa na história de Ceuta.
Em 2015, nas comemorações dos 600 anos da conquista, Vivas afirmou que a chegada dos portugueses foi um ponto de viragem para Ceuta, consolidando a sua posição como cidade moderna e europeia em território africano.
Para além dos símbolos visíveis, Ceuta guarda outras marcas da presença portuguesa. As inscrições em português ainda podem ser encontradas em edifícios históricos, apesar de serem, por vezes, ignoradas pelos próprios habitantes.
A memória da ocupação portuguesa mantém-se viva entre estudiosos e historiadores, mas também na curiosidade dos visitantes que encontram traços inesperados da herança lusa numa cidade oficialmente espanhola.
Ceuta é, assim, um exemplo singular de como a história molda a identidade de um território. Apesar de estar sob soberania espanhola há mais de três séculos, a cidade continua a carregar consigo a marca de Portugal, visível na sua bandeira, na sua arquitetura e até na sua cultura. Uma ligação que, embora subtil, permanece inegável e reforça a complexidade da história ibérica.