No concelho do Bombarral, distrito de Leiria, existe uma pequena aldeia que tem um nome um pouco peculiar: A-dos-Ruivos. O nome significa “a terra dos”, podendo ter sido contraído a partir de “vou à terra dos Ruivos” ou de “vou à dos Ruivos”, o que poderia indicar que, neste local, existiriam muitas pessoas de cabelo ruivo. Mas será que o nome da povoação surgiu realmente devido ao anormal número de pessoas com cabelo ruivo? A resposta é sim!
No nosso país, os ruivos não são muito comuns. Como é evidente, podemos encontrar algumas pessoas que exibem naturalmente esta cor de cabelo, especialmente no Norte de Portugal, já que esta região acolheu diversas migrações de povos bárbaros ou celtas vindos do norte da Europa. Mas encontrar uma localidade inteira de pessoas ruivas não é de todo comum. Então, por que razão existe uma elevada concentração de ruivos nesta pequena localidade?
A resposta encontra-se no contexto histórico do povoamento Franco na região, e na genética. No que diz respeito à parte histórica, existe já nos inícios do século XIV registos da presença de Francos nesta aldeia, registos esses que indicavam que estes não estavam de passagem, e que tinham residência fixa na aldeia. Aliás, existe a hipótese de a aldeia ter sido fundada por uma família de origem franca, que terá vindo de um dos senhorios de Atouguia, Lourinhã ou Vila Verde dos Francos.
A presença Franca no sul do nosso país era bastante significativa, já que, em 1199, D. Sancho I tinha doado a Herdade da Açafa à Ordem do Templo, com o objetivo de fixar moradores nesta zona despovoada e assim defender este território, que era delimitado a norte pelo rio Tejo, e que a sul detinha parte dos territórios dos atuais concelhos de Nisa, Castelo de vide e parte do território espanhol junto à atual fronteira.
Os Templários construíram então uma fortaleza, que servia de defesa, e que sinalizava esses territórios. Ao mesmo tempo, o monarca anuncia a vinda de colonos franceses, sendo daí que advém a presença franca na região.
Como curiosidade, certos nomes de localidades que existem atualmente derivam dos nomes dados pelos Francos. Assim terão nascido Arêz (De Arles), Montalvão (de Montauban), e Tolosa (de Toulouse).
Voltando a A-dos-Ruivos, sabemos então que os Francos se fixaram no nosso país e que, mais tarde, e com a passagem dos anos, se expandiram para novos locais do país, maioritariamente no sul e centro (embora na região mais próxima do Tejo). Existe, pois, a hipótese de o povoado realmente ter sido fundado por Francos, ou, pelo menos, ser morada de vários, que trouxeram o gene ruivo para a população.
Com o passar do tempo, esse gene tornou-se dominante, até porque as deslocações eram difíceis na época e, por isso, as pessoas casavam-se com gente que vivia em locais próximos. Assim, a percentagem de ruivos na aldeia seria ainda maior. Hoje, o gene encontra-se já dissipado, mas existem ainda ruivos em número elevado na zona.
Para além do seu nome peculiar, A-dos-Ruivos tem muita história documentada. As notícias do século XIV que chegaram aos dias de hoje caracterizam esta aldeia como sendo essencialmente agrícola, contando com hortas, pomares, searas, e com terras especialmente aptas para vinha. Assim, não é de admirar que as terras fossem bastante disputadas por instituições religiosas, como o Mosteiro de Alcobaça, a Abadia de Santa Clara de Coimbra, a Igreja de Santa Maria de Óbidos e até mesmo a Igreja de S. Pedro do Carvalhal.
Graças ao solo rico para vinha, a aldeia contava com lagares e adegas bem guarnecidas de equipamentos. Tinha também o seu porto, conhecido por Porto da Ribeira ou Porto da Ribeira da Várzea. Nele, o ribeiro desaguava no rio Bogotá.
Sabe-se que em 1337 a população fundou uma confraria e uma albergaria, o que denuncia a grande passagem de peregrinos e caminhantes pela zona. Esta obra de cariz assistencial foi chamada Albergaria e Confraria do Espírito Santo da dos Ruivos.
Já em 1527, conseguimos encontrar em A-dos-Ruivos uma grande variedade de profissões, o que indica prosperidade no local. Pode-se destacar a presença de sapateiros, alfaiates, oleiros e até vassalos do monarca (ou seja, pessoas contempladas com rendas reais).
No final do século XIV, a aldeia possuía já uma Igreja dedicada a Santa Catarina. Junto à Igreja, encontrava-se o Rossio, de uso comunal, onde os moradores costumavam largar o gado e onde se realizava, uma vez por ano, uma feira de grande importância económica, sendo ponto de encontro de mercadores e comerciantes da região no dia de Santa Catarina. Existem também relatos de uma fonte, com o nome de “Fonte Boa” ou “Fonte Santa”.
Mais recentemente (século XIX), esta povoação foi retratada pelos escritos de Júlio César Machado, no livro “Serões na Aldeia”, já que aí tinha uma casa onde passava os seus tempos livres. Em sua homenagem, a população erigiu-lhe um busto junto à capela local.
Hoje em dia, A-dos-Ruivos ainda merece bem a sua visita, e será certamente bem acolhido com um sorriso nesta belíssima aldeia.
Realmente Tolosa e Toulouse do qual deriva o nome tem origem nos francos.
O nome original de Toulouse é Tolosa em Occitano e é anterior à presença dos Francos, sendo o primeiro registo escrito que se conhece por parte dos Gregos clássicos no século II antes de Cristo.
A região a norte de Lisboa onde está o concelho de Bombarral, na região oeste, tem uma boa precentagem de ruivos e louros.
A Estremadura de Portugal foi habitada por Turdulos de origem celta e mais tarde por Vandalos, Alanos e Visigodos. Na reconquista foi dada terras a colonos e a cavaleiros templários do norte de Europa como recompensa. Por isso é natural que haja loiros e ruivos.