Quem conduz pela estrada nacional 103, que é uma das mais bonitas do Norte de Portugal, mal sabe os segredos que se escondem em algumas aldeias que ela atravessa. É o caso da escola primária de Faiões, no concelho de Chaves. É diferente de todas as outras escolas primárias do país e é, provavelmente, a mais bonita de todas elas.
Faiões é uma pequena e modesta aldeia, como a grande maioria das aldeias transmontanas. Mas a sua escola primária e a história a ela associada desafia toda a lógica daquilo que poderíamos esperar nesta localidade, longe dos grandes centros urbanos e dos monumentos imponentes típicos de outros locais.
A escola primária de Faiões é diferente de todas as outras em Portugal que foram construídas na mesma época. As restantes seguiam planos comuns e, por isso, são quase todas iguais. Mas esta tem uma história que a tornou, invariavelmente, diferente. Não foi construída pelo governo central, mas sim pelo próprio povo da aldeia.
A ideia para a sua construção partiu de António Luís Morais Sarmento, um benfeitor que vivia em Faiões mas que era natural de Paradela de Monforte, uma localidade vizinha. Médico de formação, António Morais Sarmento foi também reitor da Universidade Coimbra entre 1939 e 1941.
A sua ligação à Universidade de Coimbra é evidente na arquitetura da escola primária que ele financiou. Notam-se algumas semelhanças entre esta humilde instituição de ensino de uma remota aldeia transmontana e os edifícios da universidade onde ele foi reitor. O mais evidente é a torre sineira, que teria tido inspiração na famosa torre da Cabra da Universidade de Coimbra.
Sendo uma personalidade importante naquela época e tendo alguns contatos no governo, António Luis Morais Sarmento tenta convencer o Ministério da Educação a construir uma escola primária na sua aldeia, Faiões. As autoridades aceitam apenas financiar metade dos custos totais, tendo o benfeitor e o povo da aldeia que suportar as restantes despesas.
António Luis convence o seu pai a doar o terreno onde ela seria construída. E ele próprio pagará a metade da despesa que o governo se recusa a pagar. O povo de Faiões, desejoso de ter uma escola na aldeia e disposto a contribuir, ajuda como pode: trabalha de graça e com afinco.
Contam os habitantes mais velhos que, nos anos seguintes, os homens da terra dedicaram grande parte do seu tempo livre a construir a escola ou a transportar os enormes blocos de granito que eram necessários para as paredes. As mulheres revezavam-se na tarefa de cozinhar o almoço que os homens necessitavam.
Sabe-se que a contrução começou em 1932 e que, em 1934, todas as paredes do edifício já estavam completas. Apesar de não existirem certezas absolutas, pensa-se que as primeiras aulas começaram no ano letivo de 1935/36, com 3 turmas. A escola funcionou até 2012, ano em que, por causa das reformas escolares, foi encerrada.
A escola contava ainda com uma cantina, cuja comida era também fornecida pela família Morais Sarmento. A inclinação desta família para a beneficência não ficou por aqui: o mesmo António Luís mandou construir, a poucos metros da escola, um conjunto de 10 casas de habitação social para casais jovens com dificuldades financeiras.
Ao longo de 80 anos, várias foram as gerações de crianças que aqui aprenderam a ler e a escrever. O fim inglório chegou, como foi dito, em 2012. A reforma educativa estipulava que cada escola primária teria que ter, no mínimo, 20 alunos. A escola primária de Faiões tinha 18. E assim foi, por apenas 2 crianças, que a escola fechou.
Nos últimos anos, foi objeto de algumas obras de reabilitação e para aqui foi transferida a sede da Junta de Freguesia de Faiões. Atualmente, existem planos para transformar este espaço num local de convívio para os idosos da aldeia. Sinais dos tempos em que a alegria das crianças vai desaparecendo das aldeias portuguesas.
Uma escola primária não é, em princípio, algo que se considere um monumento digno de ser protegido. Mas esta não é igual às outras. A escola primária de Faiões é a mais bonita de Portugal e merece a sua visita. Por isso, se estiver em Chaves ou se conduzir pela N103, pare nesta aldeia e dedique um pouco do seu tempo a contemplar esta pequena maravilha.
Boa dia queridos amigos e amigas, que delicadamente nos oferecem estas maravilhas do nosso lindo País.
Eu irei com certeza visitar.
Um abraço de LUZ para todos vós.
José Cariano
Uma história maravilhosa que não deveria se perder. A dedicação do idealizador foi tamanha e alguém deveria se dedicar para manter a escola que tem um significado muito grande. A população do local se juntou para construir e porque não se juntam agora para manter. O mais difícil já foi feito. Almejo que uma alma se dedique a lutar para que essa maravilha não se acabe. Vou visitá-la, se dúvida.