Já foi distinguida pelo Guiness World Records, situa-se em Lisboa e está a funcionar desde 1732. Falamos da mais antiga livraria do mundo, verdadeiro refúgio de escritores e de leitores ávidos, situada na Rua Garrett, nº73. Esta é uma Bertrand diferente, com uma história vasta e sendo já um marco capital portuguesa.
Nasceu de um negócio de uma família francesa, tendo inicialmente sido instalada na Rua Direita do Loreto, tendo sido destruída pelo terramoto de 1755 e pelos subsequentes incêndios. Certamente, os seus criadores originais nunca imaginariam que esta livraria iria continuar aberta quase 300 anos depois.
O conceito do negócio sobreviveu, e a loja foi transferida para perto da Capela de Nossa Senhora das Necessidades. Após a recuperação do Chiado, a livraria voltou à zona inicial, onde ainda hoje se encontra, tendo sido a primeira das mais de cinquenta lojas Bertrand que podemos encontrar em Portugal.
A livraria teve como frequentadores assíduos nomes como Alexandre Herculano, Aquilino Ribeiro, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, e mais intelectuais da Geração de 70.
Por volta de 1950, em plena ditadura salazarista, ali se encontravam autores que se opunham ao regime, como Urbano Tavares Rodrigues, José Cardoso Pires, e Fernando Namora.
Entre reuniões, tertúlias e lançamentos de livros, existia aqui também um clube literário, ponto de encontro para grandes celebridades da literatura nacional. Entre estes, surge a crónica de José Fontana, sócio-gerente da Bertrand, e fundador da Associação Fraternidade Operária, que deu origem, mais tarde, ao Partido Socialista.
Infelizmente, decidiu suicidar-se aos 35 anos, devido ao tormento que sentia em tempos de tuberculose, mas não deixa de ser uma personalidade emblemática do espaço.
O Almanaque Bertrand fez também parte da história da livraria, sendo publicado anualmente entre 1899 e 1969, resultado de uma compilação de efemérides, poemas, passatempos, caricaturas, adivinhações, contos e outros que tais.
O Almanaque voltou a circular em 2011, no ano em que esta foi considerada a mais antiga livraria do mundo. O certificado com esta distinção está bem visível na loja, em lugar de destaque.
Quando chega à livraria, é recebido por um mural de Fernando Pessoa, da artista Tamara Alves. Dentro, para além de poder ler e comprar as suas obras preferidas, pode também encontrar um espaço para apreciar pratos e criações inspirados na cozinha portuguesa, no Café Bertrand.
Se adquirir aqui uma obra, pode pedir para carimbar os livros com o selo da livraria quando for pagar, numa alusão ao facto de os livros serem provenientes da mais antiga livraria do mundo, naquele que é um ponto de visita obrigatório em Lisboa.
A Livraria Bertrand do Chiado faz hoje parte da rede de lojas históricas da cidade de Lisboa. Trata-se de uma medida destinada a proteger o comércio histórico e tradicional da especulação imobiliária.
O programa estendeu-se a outras cidades portuguesas e tem ajudado centenas de pequenas lojas centenárias a manter as suas portas abertas apesar da forte concorrência das grandes superfícies comerciais ou da pressão urbanística.