A expressão “Obras de Santa Engrácia” é uma das frases feitas mais peculiares e emblemáticas da Língua Portuguesa, especialmente no contexto português. Utilizada para descrever uma tarefa que leva um tempo interminável para ser concluída ou que parece nunca vir a ter fim, esta expressão tem raízes históricas e culturais profundas, entrelaçadas com a história de um dos mais notáveis monumentos de Lisboa: a igreja de Santa Engrácia, atual Panteão Nacional.
A história da expressão remonta ao século XVI, mais precisamente ao ano de 1568, quando se iniciou a construção da igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. A primeira versão do templo sofreu devido a um conjunto de infortúnios, incluindo problemas financeiros, mudanças políticas e até mesmo desastres naturais como o terramoto de 1755, que afetou significativamente Lisboa.
A construção da igreja tal como a conhecemos hoje teve início em 1681, sob a direção do arquiteto João Antunes, um dos mais prestigiados arquitetos do barroco português.
Apesar do reconhecido talento de Antunes e da grandiosidade do projeto, a construção enfrentou múltiplas interrupções. A falta de fundos foi um problema recorrente, levando a longos períodos de inatividade que se estenderam por várias décadas.
Foi no contexto destas demoras quase infinitas que a expressão “Obras de Santa Engrácia” começou a ser usada pelo povo lisboeta, primeiramente como uma referência direta ao lento progresso dos trabalhos no templo, mas gradualmente ganhando um sentido mais amplo. Passou a simbolizar qualquer esforço prolongado ou tarefa que parecesse destinada a nunca ser concluída.
A igreja só foi finalizada no século XX, mais precisamente em 1966, quase quatro séculos após o início da construção da primeira igreja no local. Este longo período solidificou a expressão no imaginário e no vocabulário portugueses, tornando-a uma forma idiomática de descrever projetos ou tarefas eternamente inacabados.
Além de refletir a longa e complicada história da construção da igreja de Santa Engrácia, a expressão “Obras de Santa Engrácia” é um exemplo fascinante de como eventos históricos podem influenciar a linguagem e dar origem a expressões idiomáticas que capturam a imaginação popular. Transcende a referência a um evento específico, encorpando uma ideia de procrastinação e de esforços intermináveis.
Atualmente, o Panteão Nacional não só é um marco arquitetónico de Lisboa mas também serve como um lembrete físico da origem da expressão. Alberga os túmulos de ilustres figuras portuguesas, funcionando como um local de memória e homenagem a personalidades que contribuíram significativamente para a história e cultura do país.
“A Obras de Santa Engrácia” é mais do que uma simples expressão; é um testemunho da capacidade da linguagem para capturar e perpetuar a história cultural de uma nação. Lembra-nos que as palavras e frases que usamos no dia a dia podem ter origens profundas e significativas, enraizadas nos eventos que moldam a nossa sociedade.
Este caso particular sublinha como a arquitetura, a história e a linguagem estão interligadas, contribuindo todas para a rica tapeçaria cultural de Portugal.
As “Obras de Santa Engrácia” não são apenas um símbolo de demora e procrastinação; são também um elo de ligação com o passado, um lembrete da longa e muitas vezes complicada história de um país e do seu povo.