Qual será, afinal, a origem dos portugueses? Ou, reformulando a pergunta, que mistura de povos deu origem ao que somos hoje? A verdade é que somos descendentes de diversos povos que migraram para a Península Ibérica ao longo dos séculos, que se foram miscigenando entre si. Simplificando a “mistura”, temos como base da nossa ascendência os iberos e os celtas.
Os iberos eram habitantes indígenas de Portugal, de proveniência do norte de África e sudeste da Europa. quatro mil anos mais tarde, surgiram os celtas, vindos do sudeste da Europa, que invadiram a Península e acabaram por se miscigenar com a população ibera, dando origem aos celtiberos, considerados os antepassados dos portugueses. Este povo habitava as regiões montanhosas onde nascem os rios Douro, Tejo e Guadiana, desde o séc. VI a.C.
A população estava organizada em gens, semelhantes a clãs familiares ligados a tribos, embora cada uma fosse autónoma. O caráter belicoso e a organização social dos celtiberos permitiu-lhes resistir aos invasores romanos, até à Queda de Numância, cerca de 133 a. C. Assim, foi dos celtiberos que descenderam os Lusitanos.
Com a chegada dos romanos, ocorreram algumas misturas, embora menores (e de onde se originou a língua portuguesa). Com a invasão da Península por visigodos e suevos, nova miscigenação voltou a ocorrer, havendo igualmente influências menores vindas dos gregos, cartagineses, vândalos e alanos.
Mais tarde, houve também miscigenação com mouros, principalmente berberes. Ao longo dos séculos, a presença judaica e a escravatura subsariana acabaram por deixar o seu impacto e a sua contribuição no património genético português.
Os dados existentes sobre a composição genética dos portugueses mostram a sua fraca diferenciação interna e a sua base essencialmente continental europeia paleolítica. Ao contrário do que acontece noutros países europeus, a ligação com povos do médio oriente não está tão presente, tendo havido uma forte celtização da população.
Assim, a base genética da população portuguesa tem-se mantido relativamente homogénea nos últimos quarenta milénios, com a sua origem nos caçadores-recolectores do paleolítico. Esta estabilidade é deveras surpreendente, tendo em conta que Portugal está inserido na Europa, um território que sempre foi fértil em migrações e variações de fronteiras.
Isto significa que, muito provavelmente, os povos que migraram para Portugal ao longo dos séculos foram-se misturando com os povos que aqui já existiam, não existindo grandes conflitos que tivessem causada a migração completa ou o desaparecimento total dos povos pré-existentes.
Diversos estudos foram feitos quanto ao património genético português na tentativa de estabelecer uma visão mais objetiva sobre a origem dos portugueses. Num deles, pormenorizou-se as origens geográficas dos antepassados dos atuais portugueses no seguinte:
- 50,4% de contribuição ibero-itálica (originária da Europa mediterrânica)
- 25% de contribuição noroeste-europeia (originária das Ilhas Britânicas, Europa Ocidental ou Escandinávia)
- 9,1% de contribuição eslava-báltica (originária da Europa do Leste e do centro e dos Balcãs)
- 4,2% de contribuição norte-africana (originária do Magrebe e do Deserto do Saara)
- 2,6% de contribuição árabe (originária da Península Arábica e do Nordeste da África)
- 2,5% de contribuição leste-mediterrânica (originária dos atuais Chipre, Malta e de judeus europeus)
- 1,2% de contribuição do Corno da África (atuais Etiópia e Somália)
- 1,9% de contribuição da Cordilheira do Cáucaso (atuais Rússia, Geórgia, Arménia, Azerbaijão, Irão e Turquia)
- 1,0% de contribuição urálica (atuais Finlândia, norte da Rússia e montanhas urálicas)
Isto sugere uma forte incidência predominante de antepassados autóctones, com as restantes miscigenações a terem expressão menos significativa. Um estudo diferente acaba por corroborar o mesmo:
- 50% dos nossos antepassados eram originários da Península Ibérica. Isso sugere uma origem predominantemente autóctone da população portuguesa, remontando aos primeiros habitantes humanos da Península Ibérica, talvez incluindo povos falantes de língua ibérica que ali chegaram em tempos pré-históricos.
- 28,9% eram originários dos arredores da região chamada pelos romanos de Gália Belga, que hoje incluem os Estados da Bélgica, Holanda, Luxemburgo, norte da França e sudeste da Grã-Bretanha. Isso sugere uma migração de povos de cultura celta para a Ibéria, que também ocorreu em tempos pré-históricos.
- 11,2% eram do Norte da África, o que pode significar contacto direto com mercadores fenícios e cartaginenses, assim como resultado da invasão muçulmana da Península Ibérica ocorrida na Idade Média.
- 4,5% eram fenícios, que pode ser resultado da migração de povos que estiveram em contacto direto com eles, como os godos e alanos, e de povos do Báltico como os suevos ou dos saqaliba, que eram escravos eslavos trazidos para Portugal durante o domínio islâmico.
- Outras migrações contribuíram com os restantes 5,4%.
Muito bom.
O desenho da nossa árvore genealógica.
Obrigado
O texto diz que “Os iberos eram habitantes indígenas de Portugal, de proveniência do norte de África e sudeste da Europa”. Duvido, os habitantes indígenas vinham de tempos bem mais recuados, vinham do Homo Sapiens que a este território chegaram há uns 40.000 anos. Já os Iberos seriam uma civilização que existia na zona do rio Ebro, no leste a península, talvez com origem num povo da zona da Anatólia deslocado na época das chamadas invasões dos “Povos do Mar”, há pouco mais de 3.000anos, e isso significaria que poucos se terão instalado no território hoje português… Em virtude do nome de Península Ibérica se ter fixado, os povos antigos podem ser chamados de ibéricos, mas, se calhar, isso é muito diferente de dizer que eram Iberos… Então estes seriam só alguns entre muitos, só que deixaram o nome na península porque assim lhe chamaram os historiadores gregos…, já os romanos usaram antes o termo Hispânia.