A pacata aldeia de xisto de Aigra Velha é uma aldeia diferente de todas as outras, tanto nas redondezas como talvez mesmo do país. Encontra-se no ponto mais alto da Serra da Lousã, e a sua história encontra-se ligada a lobos, caravanistas e intrusos, embora hoje apenas tenha um habitante permanente.
Aigra Velha tem apenas uma rua e algumas casas, que estão ligadas entre si por muros defensivos de xisto, construídos para defender os habitantes dos 3 maiores perigos que enfrentavam: o mau tempo, os intrusos e os lobos.
No que diz respeito aos lobos, estes já foram embora, mas por aqui ainda abundam veados e javalis. Por sua vez, há décadas atrás era comum ver na zona caravanas de comerciantes, que buscavam um local para pernoitar. Assustados, os moradores de Aigra Velha decidiram cortar a única rua da aldeia e construir muros de comunicação entre as casas, de maneira a respeitar a privacidade de cada família, mas criando ao mesmo tempo uma barreira para quem chegava de fora.
Os anos 50 e 60 do passado século trouxeram grandes mudanças à aldeia, com a maioria da população a partir para outros lugares em busca de melhores condições de vida. Assim, Aigra Velha foi perdendo habitantes, e agora resta apenas um, que vive da agricultura e de pequenos trabalhos nas aldeias vizinhas.
Portanto, se procura um local agradável onde pode passar uns dias em paz e apenas a contemplar a natureza, esta aldeia pode ser uma boa escolha. Por aqui encontra algumas casas convertidas em turismo rural onde pode pernoitar durante uns dias e ouvir histórias de lobos e de caravanas de comerciantes.
Uma boa forma de descobrir a aldeia é passeando pelos seus becos e ruelas, onde, apesar de não encontrar muita vida, vai descobrir pequenos detalhes que fazem a diferença. No meio da aldeia, por exemplo, encontrará um forno e alambique recuperados, onde se faz broa de milho e aguardente que, diz quem provou, são excelentes.
Por sua vez, as encostas encontram-se agora cultivadas, apesar de antes serem apenas dedicadas ao pastoreio, sinal dos tempos que talvez indique a vontade de regressar de algumas pessoas, seja pela procura da serenidade, seja pelo apelo de sangue que os chama.
Se quiser explorar os arredores de Aigra Velha, recomendamos a Rota das Tradições do Xisto, que percorre um trilho que o leva através das 4 Aldeias do Xisto de Góis, e que o levará a ver de perto a história da região, através dos moinhos, currais, fornos, pocilgas, adegas e palheiros que encontrará espalhados pelo percurso.
Assim, a rota vai levá-lo para além de AIgra Velha, até Aigra Nova, Pena e Comareira, sendo que esta última é a mais pequena de todas as Aldeias do Xisto oficiais. Procure parar durante algumas horas em qualquer uma delas, e deambular pelas suas ruas para descobrir cada pequeno detalhe.
Ao longo deste percurso, que tem 9,2 km e duração de 4 horas, mas uma dificuldade considerada fácil, poderá observar também os imponentes Penedos de Góis, com desníveis acentuados e quedas de água exuberantes.
Perto de Aigra Velha encontra a Mata da Oitava, que ocupa 470 hectares inseridos na Rede Natura 2000. A mata é rica em pinheiros-bravos, castanheiros, medronheiros e azevinho, e é um local onde pode desfrutar da natureza na sua máxima plenitude. Se quer fazer uma atividade diferente, pode sempre explorar a área em busca de geocaches.
Não faltam aos visitantes oportunidades para explorar a natureza e desfrutar do silêncio, até porque, tal como acontece em Aigra Velha, nas vizinhas Aigra Nova e Comareira também vivem apenas uma pessoa.
São 3 aldeias com 3 habitantes, um em cada, retrato de um interior que está a morrer sem que ninguém se preocupe. Portanto, se quer descobrir um Portugal em extinção, procure visitar estas localidades antes que seja tarde demais. Não se vai arrepender.