A aldeia de Esperança, no concelho de Arronches, passou a fazer parte do roteiro de vários estudiosos de arte rupestre em 1914. Mas nesta povoação, a tradição mantém-se viva, mesmo no final de milhares de anos, e certos avanços antigos ainda hoje estão bem patentes nas casas de Esperança.
Mas já lá vamos – antes, precisamos de falar sobre história. Mais concretamente, a história da descoberta do conjunto de arte rupestre. Tudo começou com a descoberta do Abrigo dos Gaivões, graças à perspicácia e curiosidade dos espanhóis Aurélio Cabrera e Hernandez Pacheco, naturais da povoação vizinha de Albuquerque.
Pouco depois, em plena I Guerra Mundial, o famoso pré-historiador francês, o abade Henri Breuil, deslocou-se ao local, para apreciar a descoberta. No entanto, foi rapidamente preso, por ser confundido com um espião alemão.
Ao longo de todo o século XX e XXI, grupos de arqueólogos de diversas nacionalidades identificaram na freguesia de Esperança aquele que é o maior conjunto de abrigos com arte rupestre de caraterísticas esquemáticas do nosso país.
As cores predominantes destas obras são o vermelho escuro e o laranja claro, resultado de pigmentos minerais recolhidos na base das cristas quartzíticas da aldeia.
O curioso é que o uso destes pigmentos não ficou perdido no tempo, porque o ocre, misturado com a cal, permitia colorir as casas dos mais abastados da freguesia. Hoje, raras são as casas da aldeia que não têm elementos gráficos na sua fachada, chaminé, porta ou janelas.
Podemos encontrar de tudo, desde sinaléticas e mensagens escritas, autênticos testemunhos de vida que ficam para sempre gravados na casa. No fundo, a arte parietal que encontramos nos abrigos pré-históricos foi renovada nas casas da aldeia de Esperança.
Impõe-se, assim, uma visita à povoação, envolta em torno do centenário templo de Nossa Senhora da Esperança, que foi desenvolvido a partir de uma quibla islâmica.
Do alto da serra do Cavaleiro, podemos ver o apelativo santuário do Rei Santo, a encimar as muralhas diluídas do que foi um povoado pré-histórico eminente, local de forte devoção. Mais em baixo, perto das antas da Nave Fria, encontramos refrescantes águas, consolo dos peregrinos que sobem ao santuário.
A aldeia de Esperança viveu muito do contrabando, especialmente de café, destinado quase exclusivamente à Espanha. Para isso, contribuiu a curta distância à povoação de Codosera e do Marco. A ribeira de Abrilongo, apesar de separar Portugal e Espanha, serviu para aproximar os dois povos ao longo do tempo.
E para cruzar a ribeira de Abrilongo para o outro lado da fronteira, terá que utilizar aquela que é considerada como a ponte internacional mais pequena do mundo. É mais uma prova da intensa ligação histórica entre estas duas comunidades.
As lojas do lado espanhol fecharam e os habitantes de El Marco deslocam-se com frequência ao lado português para fazerem as suas compras diárias na mercearia, onde existem ainda algumas lojas abertas.
Os portugueses deslocam-se para o lado espanhol sobretudo à procura de emprego. Aliás, El Marco faz parte da comarca de La Codosera, a aldeia espanhola com mais presença lusitana. O número de portugueses nesta localidade é tão elevado que é o próprio idioma de Camões aquele que é mais ouvido nas suas ruas.
Portanto, não é de admirar que as gentes da raia portuguesa façam a sua peregrinação anual ao Santuário Mariano de Chandavila, em Codosera, e que as populações raianas espanholas rezem à senhora da Esperança em território português.
Os suculentos vinhos que em terras lisas se produzem cativam também os vizinhos espanhóis, que enchem as tabernas de Esperança nas tardes quente de verão, enquanto os portugueses procuram as esplanadas da vizinha Codosera.
A aldeia de Esperança é também visitada por curiosos, que procuram conhecer a arte milenar que por aqui existe em dezenas de grutas e abrigos. Se quer conhecer estes locais, deixamos-lhe umas palavras de precaução.
Estes vestígios artísticos são frágeis e, por isso, devem ser visitados com sensibilidade e muito cuidado, para que possamos preservar estes pedaços de história da melhor forma possível e apreciar esta arte durante muito tempo, permitindo que as gerações futuras também a possam conhecer e estudar.