A meio caminho entre o Alentejo e o Ribatejo, Brotas é daqueles sítios que nos conquista assim que atravessamos as primeiras ruas caiadas. Pertence ao concelho de Mora e, apesar de ficar a pouco mais de uma hora de Lisboa, conserva o ritmo calmo típico das aldeias alentejanas.
Quem passa pela EN2 tem aqui uma paragem quase obrigatória, seja para descobrir o Santuário de Nossa Senhora das Brotas, seja para sentir o pulsar de uma tradição secular.
O cenário de Brotas é marcado por casas brancas, com a faixa azul que tanto identifica o Alentejo. Flores e apontamentos coloridos nas janelas dão-lhe aquele toque pitoresco que apetece fotografar a cada esquina.
Mas foi o Santuário de Nossa Senhora das Brotas que colocou esta aldeia no mapa. Construído em 1424, o templo nasceu de uma lenda que atribui a cura milagrosa de uma vaca à intervenção de Nossa Senhora. A fama deste episódio correu depressa, atraindo peregrinos vindos de diferentes pontos do país.
Estes peregrinos, denominados na época por “romeiros”, organizaram-se em confrarias e ergueram albergues junto ao santuário. Brotas nasceu das suas casas de confraria, também chamadas “casas de peregrinação”, que rodeiam o largo e criam a ilusão de um anfiteatro.
Muitos foram recuperados e adaptados a alojamento local, respeitando a traça original e permitindo pernoitar num ambiente que mistura legado histórico e conforto moderno.
O melhor programa em Brotas é deixar o carro num canto e andar a pé. As ruas são relativamente íngremes, com passeios que convidam a parar para admirar pormenores: flores penduradas, as típicas barras azuis a contornar portas e janelas e a hospitalidade de quem aqui vive.
Apesar de ter perdido relevância depois do século XVI, quando os peregrinos começaram a diminuir, a aldeia manteve a alma que conquistou os viajantes ao longo de gerações.
Ainda que o Santuário seja o grande cartão de visita, há outros locais que merecem ser explorados. A Igreja Matriz, construída no século XVI, traz mais um testemunho do passado. Já na vizinha vila das Águias ergue-se a Torre das Águias, hoje negligenciada mas ainda uma referência do estilo manuelino no Alentejo.
Nem só de património vive a aldeia. Brotas reflete o sabor genuíno da região. A gastronomia assenta em pratos típicos e em produtos locais, como o afamado mel e os óleos essenciais, fruto de processos que privilegiam a harmonia com a natureza.
Seja numa refeição servida nos restaurantes próximos, seja através da compra direta ao produtor, há sempre motivos para levar um pouco deste saber alentejano para casa.
Nos últimos anos, a EN2 trouxe uma lufada de ar fresco à aldeia. Quem se aventura a fazer a estrada nacional que liga Chaves a Faro descobre aqui um dos pontos de paragem mais agradáveis.
Aliás, muitos chegam sem grandes expectativas e acabam por dedicar mais tempo a percorrer ruas, a conhecer histórias e a conversar com as pessoas. A proximidade a Lisboa também facilita as escapadinhas de fim de semana, sobretudo para quem anseia por uma pausa no rebuliço da cidade.
A aldeia foi pensada para receber viajantes, e as antigas casas de confraria transformadas em alojamentos dão um toque especial a esta estadia. Dormir num espaço onde noutros tempos descansavam peregrinos tem algo de inspirador.
É fácil imaginar as partilhas de histórias ao serão, o aroma a comida caseira e a devoção que levava tantas pessoas a percorrer longas distâncias em condições duras.
É difícil sair de Brotas sem uma recordação na mala. O mel e os óleos essenciais são sugestões tentadoras. Não servem apenas para prolongar, em casa, os aromas do Alentejo: são também uma forma de apoiar o comércio local.
Pequenos gestos que ajudam aldeias como Brotas a manterem-se vivas, mesmo em tempos que trouxeram novas exigências ao mundo rural.
Com este equilíbrio entre tradição e modernidade, Brotas ergue-se como um exemplo de uma aldeia que resiste ao esquecimento. A crença num milagre deu-lhe origem, e a ligação à EN2 voltou a dar-lhe alento.
Quem por ali passa sai com a certeza de que o Alentejo ainda tem segredos para revelar. Brotas é um deles e espera de braços abertos quem chega em busca de histórias, paisagens tranquilas e aquele ritmo que só o Alentejo sabe proporcionar.