Ao percorrermos a serra do Açor, local de belas paisagens e de verdes vivos, somos surpreendidos pela visão de uma aldeia deslumbrante, que se destaca e ao mesmo tempo complementa a vegetação em redor. Trata-se de Piódão, que teima em permanecer escondido até nos aparecer aos olhos, inesperada.
Nesta bela aldeia, rica em história, vivem cada vez menos pessoas. O turismo, por sua vez, cresce a cada ano que passa, e muitos são os que querem visitar este pequeno pedaço de paraíso.
Como se fosse um presépio, as casas distribuem-se ao redor dos socalcos, pontuados de azul e xisto, por entre ruelas estreitas e sinuosas que, a cada canto, revelam a história desta aldeia, classificada como “Imóvel de Interesse Público”.
A aldeia de Piódão carateriza-se pela sua disposição em anfiteatro e pela presença do xisto, que cobre casas e ruas, numa aparência de grande consistência que se tornou imagem de marca.
Pelas ruas íngremes, estreitas e tortuosas formam-se recantos numa estrutura de malha cerrada, que se encontra em grande parte preservada. É por estas ruas que corre, aqui e ali, um fio de água numa canada irregular: a Levada.
Em tempos antigos, as pastagens da serra, recheada de nascentes, atraíram os pastores lusitanos, que por aqui alimentavam os seus rebanhos. Já na época medieval, formou-se uma pequena povoação, chamado de Casas Piódam. A povoação foi depois transferida para a atual localização no séc. XIII, talvez devido à instalação de um Mosteiro de Cister (de que hoje já não restam vestígios).
A este mosteiro, pode estar ligada a invocação antiga a Santa Maria (muito comum nas abadias cistercienses) da Igreja Matriz, que foi reformulada no séc. XVIII/XIX, obra que a dotou de uma curiosa fachada pautada por finas torres cilíndricas rematadas por cones. No seu interior, encontra-se uma imagem da Senhora da Conceição, do séc. XV (atual invocação da igreja), altares em talha e azulejos de fabrico coimbrão.
Em 1527, no Numeramento Joanino (primeiro recenseamento nacional), Piódão aparece inserida na vila de Avô, com o nome de “casall do piodão”, e com dois moradores. Mais tarde, integra a freguesia da Aldeia das Dez, da qual é desanexada em 1676. A 24 de outubro de 1855, passa a fazer parte do concelho de Arganil, quando o concelho de Avô é extinto.
Apesar disso, mantém-se ligada ao arciprestado de Avô. Em finais do séc. XIX, o cónego Manuel Fernandes Nogueira funda na aldeia um Colégio, que funcionou entre 1886 e 1906, e que atraiu muitos jovens, formando-se um polo cultural de grande importância na zona.
Tendo em conta esta história, antiga e rica, não é de admirar que existam por Piódão diversos pontos de interesse a visitar. Para além da Igreja Matriz, que se destaca pela sua cor clara e que contrasta na perfeição com as restantes casas, pode visitar locais como a fonte dos Algares, a Eira e o forno do pão. A capela de S. Pedro, no topo da aldeia, é outro local de interesse: conta com uma imagem do séc. XVI e as mesmas cores claras da igreja.
No Núcleo Museológico do Piódão, pode recolher mais informações sobre esta histórica aldeia, entre o artesanato, tradições, história e até informações turísticas. Nos dias de maior calor, não pode deixar de visitar a praia fluvial, de águas límpidas e cristalinas e inserida numa paisagem magnífica (e que tem agora Bandeira Azul).
Se é um amante de caminhadas, não perca os diversos trilhos traçados por toda a aldeia e arredores, que lhe permitem conhecer a região de outra forma. Por fim, temos a gastronomia típica, perfeita para recuperar forças depois de um dia a descobrir Piódão. Não pode sair da aldeia sem provar a sua famosa broa de batata, o queijo da serra, os diversos licores e pratos como a chanfana ou as trutas grelhadas.