Consoante a região de Portugal, iremos encontrar diversas formas de designar o mesmo objeto ou realidade. Muito para além de sotaques, estas são designações típicas de uma região, nascidas de diferentes raízes e termos. Neste artigo, juntamos algumas palavras caraterísticas das duas principais cidades portuguesas: Lisboa e Porto.
A ideia é desmistificar alguns preconceitos e tentar perceber que são as diferenças que enriquecem a língua portuguesa. Não há uma única forma de designar ténis ou sapatilhas e, sejamos sinceros, isso é bom. Apenas enriquece o idioma português. As palavras e os termos utilizados em Lisboa e no Porto estão ambos corretos.
Por isso mesmo, entre alfacinhas e tripeiros, não há razões para divergências. Os sotaques podem ser diferentes, algumas palavras podem divergir, isso apenas nos torna mais ricos. Descubra algumas das diferenças de linguagem entre alfacinhas e tripeiros.
1. Frigideira (Lisboa) vs Sertã (Porto)
Frigideira vem do latim “frigo”, e é um objeto que serve para fritar os alimentos. Existem frigideiras de diferentes materiais e formatos, para todos os gostos.
Considera-se que sertã é a forma de designar esse mesmo objeto na zona Norte do país, apesar de o Dicionário da Língua Portuguesa 2003 distinguir ambos e dizer que “uma sertã é uma espécie de frigideira larga e de pouco fundo”.
2. Imperial (Lisboa) vs Fino (Porto)
Imperial é o nome dado à cerveja servida a partir de barris, sob pressão, e em copos altos e finos. O nome Imperial vem da marca que vendia os barris, a Fábrica Germânica Imperial, hoje Portugália. Por sua vez, no Porto, a mesma bebida chama-se Fino, derivando o nome do facto de a cerveja ser servida em copos finos.
3. Cadeado (Lisboa) vs Aloquete (Porto)
Cadeado vem do latim “catenatus”, que significa corrente, mas o termo designa um objeto em elo, com uma fechadura normalmente aberta por uma chave. Por sua vez, o mesmo objeto no Porto chama-se aloquete, ou aloquete. Curiosamente, no Porto, cadeado poderá também significar uma corrente com elos de ferro.
4. Bica (Lisboa) vs Cimbalino (Porto)
Em Lisboa, pedir uma bica é pedir um café expresso. O termo pode ter origem no tubo de onde sai o café ou corresponder ao acrónimo da expressão “beba isto com açúcar” (quando o café foi introduzido no mercado, era muito mais amargo que agora e precisava de ser adoçado).
Por dua vez, o mesmo café expresso no Porto poderia ser chamado de cimbalino, apesar de o termo já ter caído em desuso. Este nome deriva das máquinas de café expresso pertencentes à marca italiana “La Cimbali”, existente desde 1912.
5. Cabide (Lisboa) vs Cruzeta (Porto)
Em Lisboa, cabide tanto pode designar o objeto usado para pendurar roupas no armário, como um objeto semelhante ao bengaleiro, tendo um termo uma designação mais geral.
Já no Porto, faz-se uma distinção entre estes dois objetos. Assim, a cruzeta corresponde ao objeto usado para pendurar a roupa no guarda-fatos, e cabide é semelhante a um bengaleiro.
6. Ténis (Lisboa) vs Sapatilhas (Porto)
Ténis são um tipo de sapato adequado à prática desportiva, sendo mais leve e prático que um sapato normal. O termo tem origem brasileira e fixou-se, em primeiro lugar, na zona de Cascais.
No Porto, sapatilhas são um calçado leve, usando tanto para o desporto como para roupas informais, correspondendo ao ténis lisboeta. O termo sapatilhas é também usado em Lisboa, mas designa aquilo que no Porto se chamam sapatos de ballet ou sabrinas.
7. Camioneta (Lisboa) vs Autocarro (Porto)
Ambas as palavras designam os transportes públicos de curta a média distância. No entanto, em Lisboa, usa-se mais a palavra camioneta e, no Porto, é mais comum usar-se a palavra autocarro. Esta última tem origem francesa e deriva de “autocar”, um carro próprio para o transporte coletivo de passageiros.
8. Canalizador (Lisboa) vs Picheleiro (Porto)
No geral, os dois nomes são usados para designar o profissional que repara canalizações domésticas, caldeiras, sanitários, máquinas de lavar, etc. Em Lisboa, esse profissional é o canalizador.
No Porto, usa-se mais o termo picheleiro, nome que, a início, se usava para designar quem vendia ou produzia pichéis (uma espécie de vasilha) ou obras de latão e estanho.
9. Garoto (Lisboa) vs Pingo (Porto)
Se quiser pedir um copo de café com leite nalgum estabelecimento, saiba que a designação é diferente nestas duas cidades. Em Lisboa, usa-se o garoto, porque se acreditava que esta bebida era reservada às crianças, por a bica ser muito forte.
No Porto, usa-se a palavra pingo, que vem da expressão “pingo de gente” (usada para se referi a uma pessoa baixa). Pingo alude também a gota, remetendo para o facto de o café ser servido em pouca quantidade nessa bebida.
10. Tigela (Lisboa) vs Malga (Porto)
No geral, referem-se a objetos côncavos, usados para preparar ou servir os alimentos. Em Lisboa, este objeto chama-se tigela, provindo o latim “tigula”. No Norte, é mais comum usar a palavra malga, que é usada com frequência para servir sopa ou caldo (“dá-me uma malga de sopa” é uma expressão corrente que demonstra o uso dessa palavra).